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Por , Em The New York Times — Washington

Alguns jatos da Boeing e da Airbus fabricados recentemente têm componentes feitos de titânio que foram vendidos com documentação falsa para comprovar a autenticidade do material, de acordo com um fornecedor dos fabricantes de aviões, o que levanta preocupações sobre a integridade estrutural desses aviões.

Os documentos falsificados estão sendo investigados pela Spirit AeroSystems, que fornece fuselagens para a Boeing e asas para a Airbus, bem como pela Administração Federal de Aviação (FAA na sigla em inglês). A investigação ocorre depois que um fornecedor de peças encontrou pequenos furos no material devido à corrosão.

Em um comunicado, a FAA, agência que regula todos os aspectos da aviação civil nos Estados Unidos, disse que estava investigando o escopo do problema e tentando determinar as implicações de segurança de curto e longo prazo para os aviões que foram fabricados com as peças. Não se sabe ao certo quantos aviões têm peças fabricadas com o material questionável.

"A Boeing relatou uma revelação voluntária à FAA sobre a aquisição de material por meio de um distribuidor que pode ter falsificado ou fornecido registros incorretos", disse o comunicado. "A Boeing emitiu um boletim descrevendo as maneiras pelas quais os fornecedores devem permanecer alertas quanto ao potencial de registros falsificados".

Série de problemas de segurança

A revelação ocorre em um momento de intenso escrutínio da Boeing e do setor de aviação em geral, que está sofrendo com uma série de contratempos e problemas de segurança. Em janeiro, um painel da fuselagem explodiu em um jato Boeing 737 Max 9 da Alaska Airlines em pleno voo, o que levou a várias investigações federais.

Em abril, a Boeing informou à FAA sobre um episódio separado envolvendo registros de inspeção potencialmente falsificados relacionados às asas dos aviões 787 Dreamliner. A Boeing informou ainda que poderia ter pulado as inspeções necessárias envolvendo as asas do jato e que precisaria reinspecionar alguns dos Dreamliners ainda em produção.

Em 30 de maio, a Boeing apresentou um plano à Administração Federal de Aviação descrevendo as melhorias de segurança que planejava fazer e comprometeu-se a realizar reuniões semanais com a agência reguladora. Dave Calhoun, executivo-chefe da Boeing, deverá depor na próxima terça-feira perante um painel do Senado sobre os problemas de segurança da empresa.

O uso de titânio potencialmente falso, que não havia sido relatado anteriormente, ameaça estender os problemas do setor para além da Boeing e para a Airbus, sua concorrente europeia. Os aviões que incluíam componentes feitos com o material foram construídos entre 2019 e 2023, entre eles alguns aviões Boeing 737 Max e 787 Dreamliner, bem como jatos Airbus A220, de acordo com três fontes familiarizadas com o assunto, que falaram sob condição de anonimato. Não está claro quantos desses aviões estão em serviço ou quais companhias aéreas os possuem.

Linha de produção do 787 Dreamliner em fábrica da Boeing, localizada em North Charleston, na Carolina do Sul — Foto: Logan Cyrus/AFP
Linha de produção do 787 Dreamliner em fábrica da Boeing, localizada em North Charleston, na Carolina do Sul — Foto: Logan Cyrus/AFP

A Spirit AeroSystems está tentando determinar a procedência do titânio, se ele atende aos padrões adequados, apesar da documentação falsa, e se as peças feitas com o material são estruturalmente sólidas o suficiente para aguentar a vida útil projetada dos jatos, disseram representantes da empresa. Além disso, a Spirit informou que estava tentando determinar a maneira mais eficiente de remover e substituir as peças afetadas, caso isso fosse necessário.

— Trata-se de documentos que foram falsificados, forjados e pirateados. Assim que percebemos que o titânio falsificado entrou na cadeia de suprimentos, imediatamente confinamos todas as peças suspeitas para determinar o escopo dos problemas — disse Joe Buccino, porta-voz da Spirit.

O titânio em questão tem sido usado em uma variedade de peças de aeronaves, de acordo com os funcionários da Spirit. No caso do 787 Dreamliner, isso inclui a porta de entrada de passageiros, portas de carga e um componente que conecta os motores à estrutura do avião. Para o 737 Max e o A220, as peças afetadas incluem um escudo térmico que protege um componente, que conecta o motor do jato à estrutura, em caso de calor extremo.

Testes não mostram sinais de problemas, dizem empresas

A Boeing e a Airbus disseram que os testes dos materiais afetados até o momento não mostraram sinais de problemas. A Boeing acrescentou que comprou diretamente a maior parte do titânio usado na produção de seus aviões, de modo que a maior parte de seu suprimento não foi afetada.

"Esse problema em todo o setor afeta algumas remessas de titânio recebidas por um conjunto limitado de fornecedores, e os testes realizados até o momento indicaram que a liga de titânio correta foi usada", disse a Boeing em um comunicado. "Para garantir a conformidade, estamos removendo todas as peças afetadas dos aviões antes da entrega. Nossa análise mostra que a frota em serviço pode continuar a voar com segurança."

Da mesma forma, a Airbus afirmou que "a aeronavegabilidade do A220 permanece intacta".

"Numerosos testes foram realizados em peças provenientes da mesma fonte de suprimento", disse uma porta-voz da Airbus em um comunicado, acrescentando: "A segurança e a qualidade de nossas aeronaves são nossas prioridades mais importantes, e estamos trabalhando em estreita colaboração com nosso fornecedor".

A Agência de Segurança da Aviação da União Europeia não respondeu a um pedido de comentário.

A Spirit sofreu com problemas de qualidade e financeiros nos últimos anos, e passou por um novo exame minucioso este ano após o episódio de janeiro envolvendo o painel da porta do 737 Max, cuja fuselagem é fabricada pela empresa.

Empresas de quatro países estariam envolvidas

O problema ilustra a complexa cadeia de suprimentos global usada na produção de jatos modernos, e a história do que parece ter dado errado envolve empresas na China, Itália, Turquia e Estados Unidos.

O problema parece remontar a 2019, quando um produtor de materiais turco, a Turkish Aerospace Industries, comprou um lote de titânio de um fornecedor na China, de acordo com fontes familiarizadas com o problema. A empresa turca então vendeu esse titânio para várias empresas que fabricam peças de aeronaves, e essas peças chegaram à Spirit, que as utilizou em aviões da Boeing e da Airbus.

Em dezembro do ano passado, uma empresa italiana que comprou o titânio da Turkish Aerospace Industries notou que o material parecia diferente do que a empresa normalmente recebia. A empresa, Titanium International Group, também descobriu que os certificados que acompanhavam o titânio pareciam não ser autênticos.

Contatada pelo repórter, a Turkish Aerospace Industries não respondeu a um pedido de comentário.

A Spirit começou a investigar o assunto, e a empresa notificou a Boeing e a Airbus em janeiro de que não poderia verificar a origem do titânio usado para fabricar determinadas peças. O Titanium International Group disse à Spirit que, quando comprou o material em 2019, não tinha ideia de que a papelada havia sido forjada, de acordo com funcionários da Spirit.

Francesca Conti, gerente geral do Titanium International Group, disse que o episódio estava sendo investigado e que ela não poderia fornecer mais detalhes.

"Estamos cooperando com as autoridades relevantes para resolver qualquer problema eventualmente identificado", disse ela em um e-mail.

Os documentos em questão são conhecidos como certificados de conformidade. Eles funcionam como uma certidão de nascimento do titânio, detalhando sua qualidade, como foi feito e de onde veio, disseram as autoridades da Spirit.

Pessoas familiarizadas com a situação disseram que parece que um funcionário da empresa chinesa que vendeu o titânio falsificou os detalhes dos certificados, escrevendo que o material veio de outra empresa chinesa, a Baoji Titanium Industry, uma empresa que frequentemente fornece titânio verificado. Posteriormente, a Baoji Titanium confirmou que não havia fornecido o titânio. Assim, a origem do titânio ainda não está clara.

"A Baoji Titanium não conhece a empresa e não tem negócios com essa empresa", disse a empresa em um comunicado ao The New York Times.

Afinal, qual a origem do titânio?

Sem saber de onde veio o material ou como ele foi manuseado, é impossível verificar a aeronavegabilidade das peças, disse Gregg Brown, vice-presidente sênior de qualidade global da Spirit.

— Nosso processo de gerenciamento de qualidade se baseia na rastreabilidade das matérias-primas desde as fábricas — disse Brown. — Houve uma perda de rastreabilidade nesse processo e um desafio de documentação.

Os funcionários da Spirit disseram que começaram a testar as peças de titânio para garantir que o material de grau aeronáutico fosse usado. A empresa está testando componentes que ainda estão em estoque e que estão em fuselagens não entregues.

Até o momento, os testes da Spirit confirmaram que o titânio é de grau apropriado para os fabricantes de aviões. Mas a empresa não conseguiu confirmar se o titânio foi tratado por meio do processo aprovado de fabricação de aviões. O material foi aprovado em alguns dos testes de materiais realizados, mas foi reprovado em outros.

Buccino, o porta-voz da Spirit, disse que a empresa estava trabalhando com os clientes para identificar os aviões afetados. As aeronaves que já estão em serviço serão monitoradas pelas companhias aéreas e retiradas de serviço mais cedo do que o normal, se necessário, disse ele, acrescentando que o mais provável é que as peças afetadas sejam removidas durante as verificações de manutenção de rotina, independentemente de o titânio ter sido verificado.

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