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Por — São Paulo

A indústria de pneus já trabalha no desenvolvimento de um produto 100% biodegradável, tentando acertar o passo com a sustentabilidade que já chegou à indústria automobilística. O projeto envolve startups, empresas de química e diferentes companhias do setor.

Para Vicente Marino, presidente da Bridgestone América Latina Sul, envolvido na iniciativa, as empresas precisam seguir a mesma direção da sociedade. Em entrevista ao GLOBO, no entanto, o executivo venezuelano se queixa da dificuldade de competir com pneus importados da China.

A companhia anunciou um investimento de R$ 1 bilhão, entre 2021 e 2022, na fábrica de Camaçari, na Bahia, que se encerra este ano. Onde foram investidos esses recursos?

Com esse investimento, expandimos a produção dessa fábrica perto de 50%. Eram 8 mil pneus produzidos por dia e ao fim dos investimentos serão 15 mil. Com os recursos, compramos 1 milhão de metros quadrados, mas estamos usando apenas 20% do terreno. A ideia é que a fábrica chegue aos 30 mil pneus diários.

E quando a capacidade será ampliada de novo? Há previsão de um novo investimento?

Vai depender muito do cenário macroeconômico mundial e do Brasil. Por enquanto, continua em planos. Temos convicção de que a fábrica está apta para seguir crescendo. É uma unidade muito nova (de 2006), com equipamentos de primeiríssima geração e que tem a maior herança da cultura japonesa (a Bridgestone foi fundada no Japão) nas Américas. Um grupo de operários foi treinado no Japão.

Qual é o problema então?

O mercado brasileiro está passando por dificuldades, com um surto de pneus importados da Ásia, que impacta a produção local. O Brasil é um país produtor que está lutando com uma China que subsidia suas fábricas. Para podermos concorrer em condições de igualdade, há dois caminhos: o insustentável, que é o governo brasileiro também subsidiar, ou equilibrar o jogo com um fair play.

Que solução é buscada? Há conversas com o governo?

A Bridgestone, com outros concorrentes, está defendendo a produção nacional e o investimento. Na Câmara dos Deputados já falamos sobre nossa preocupação. Como multinacional, não vamos deixar de estar presentes no mercado local, já que o Brasil é estratégico. Mas nossa forma de estar aqui é produzir no país, ter fábricas, fazer investimentos, ter presença comercial. Temos um centro de pesquisa e desenvolvimento para pneus, campo de testes, engenheiros de campo verificando a qualidade dos nossos produtos. Temos a maior rede de revendedores de pneus do Brasil, com quase 800 pontos, que geram empregos para muitas famílias. Não estamos aqui com uma visão oportunista.

Como os pneus asiáticos impactam a produção nacional?

Simples. Em 2019, 80% do mercado brasileiro eram representados pelos produtores nacionais. Este ano, 50% estão nas mãos dos importados e 50% com os nacionais. Mas isso é porque deixamos de ser competitivos? A resposta é que não deixamos de ser competitivos na Europa, nos EUA, no México e nos demais países da América Latina. E no Brasil somos os mais competitivos. Alguma coisa não está correta. O preço médio dos pneus asiáticos que entram no Brasil é abaixo do custo da matéria-prima. Gostaria de entender isso. Não acho que estejam fazendo dumping (venda abaixo do custo). Eles estão usufruindo o subsídio. Bom para eles. Mas não podem ir para outros países usando esse subsídio. Isso precisa ser equilibrado.

O que o governo sinalizou?

O governo brasileiro tem feito dois movimentos. O primeiro foi a retomada do imposto de importação para pneus. E existiam alguns importadores que traziam o pneu com uma roda, uma válvula. Eles burlavam o mecanismo dizendo que não era um pneu, mas um conjunto. O governo também regularizou isso. Mas ainda há uma tributação díspar de ICMS entre o nacional e importado. O governo tem de taxar os pneus importados para termos fair play. Ou podemos perder quase meio milhão de empregos na cadeia se a produção local parar.

Ou seja, enquanto esse cenário perdurar a empresa não deve fazer novos investimentos?

Deveria ser impeditivo. Mas, seguindo a cultura japonesa, a Bridgestone não pensa no Brasil no curto prazo. Estamos olhando os próximos 50 anos. Ainda estou investindo na fábrica de Camaçari e, ao mesmo tempo, tenho um layoff (suspensão dos contratos de trabalho) em andamento. São 1,6 mil pessoas nessa situação de um total de 5 mil funcionários. Não fizemos demissões porque achamos que o mercado se restabelecerá. Não cortei o investimento programado até 2024. Mas fica difícil pensar nos de 2025, 2026 e 2027.

Qual é a sua visão da economia brasileira?

As economias têm de ser avaliadas no contexto mundial. Estamos num mundo com duas ou três guerras. Uma inflação gigantesca global. A inflação brasileira está controlada, os juros ainda altos, mas em queda. Os investimentos estão vindo, o país continua crescendo. Comparado com o exterior, o país está uma pérola. Por isso, a economia não me preocupa em nada. Os governos vão e vêm. O que importa é o tamanho do mercado e a intensidade do país em seguir crescendo. Isso o Brasil tem de sobra. Estamos há 80 anos neste país e já vivemos de tudo.

Como o novo ciclo recorde de investimentos anunciado pela indústria automobilística até 2030 (mais de R$ 120 bilhões) impacta o negócio de pneus?

Hoje, entre 25% a 30% da nossa produção vão para as montadoras. Um investimento recorde é sempre interessante, cria uma renovação do parque automobilístico. É uma garantia de mercado para pneus, mas metade da nossa produção é revenda, cerca de 25% vão para equipamentos originais e 25% exportamos. Em 2007, entramos no mercado de recauchutagem, comprando uma empresa americana desse segmento. E fechamos o ciclo: que é produzir, vender, recauchutar e trazer o pneu de volta ao mercado.

E como o tema sustentabilidade vem sendo tratado?

Enxergamos que a sustentabilidade tem de estar em toda a cadeia produtiva, comercial etc. Temos uma fazenda solar na planta de Camaçari. Estamos substituindo as caldeiras antigas, a vapor, por novas que funcionam com energia elétrica, que emitem menos CO2. Produzimos, no ano passado, o primeiro pneu 100% reciclável, que está sendo usado na Fórmula Indy. Temos um compromisso de chegar até 2050 com 100% da produção reciclável e até 2030 vamos reduzir em 100% a emissão de CO2 na produção. Trabalhamos com projetos sustentáveis nas revendas, com painéis solares ou aproveitamento das águas residuais. Tem a reciclagem e a recauchutagem. Estamos conseguindo dar destinação final a praticamente 100% dos pneus que recolhemos, utilizando como combustível de fornos de cimento, em gramado artificial ou como borracha no asfalto. A sustentabilidade precisa ser autossustentável e gerar empregos.

A imagem da indústria de pneus como poluidora está mudando com essas iniciativas?

Mudou muito nos último 20 anos. As empresas têm tido uma mudança comportamental. Não podemos ser um corpo estranho. Se a sociedade está preocupada com o meio ambiente, não podemos ficar fora, sabendo que somos poluidores. Ainda não desenvolvemos pneus 100% biodegradáveis, mas estamos investindo nisso, com ajuda de startups, empresas de química e concorrentes do mercado.

Como vê o avanço da eletrificação dos veículos?

Falo como pessoa física. Sou fã do etanol brasileiro. Sempre achei que o mundo ia abrir os olhos para o etanol e sairia daqui a solução para a indústria automobilística, de um combustível biodegradável. Mas ainda há um tempo. Há um grande receio do que acontecerá com o carro puramente elétrico, com relação às baterias, onde descartá-las. Como empresa, estamos nos preparando para o mundo de veículos eletrificados. O híbrido, entretanto, não foi descartado. Para mim, a solução deveria ser um híbrido a etanol.

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