Os recibos de ações da Petrobras nos Estados Unidos, as chamadas ADRs, chegaram a cair mais de 9% na noite dessa terça-feira, após a notícia de demissão do presidente da estatal, Jean Paul Prates. Por volta das 21h, os papéis da companhia no exterior (PBR) caíam 6,98%, a US$ 16,69.
Segundo a colunista Malu Gaspar, Prates se despediu de seus diretores à tarde, informando que a ex-diretora-geral da Agência Nacional de Petróleo (ANP) no governo Dilma Rousseff, Magda Chambriard, seria a sua sucessora.
Antes de atuar na ANP, Magda, que é engenheira, trabalhou por 22 anos na Petrobras.
A escolha da nova CEO representaria uma vitória do governo em um momento em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva batalha para acelerar obras como o Comperj e a Refinaria Abreu e Lima.
Flávio Conde, analista da Levante Investimentos que acompanha o setor, critica a mudança.
— A demissão do Jean-Paul Prates mostrou que a interferência política é enorme na companhia. Apesar de boa parte disso já ser precificado no preço das ações, uma vez que a Petrobras é cotada a quatro vezes e meio seu lucro, enquanto a Exxon é cotada a sete vezes o lucro, as ações devem cair amanhã. Não pode uma companhia ter oito presidentes em quatro anos — diz.
No Brasil, as ações da Petrobras (PETR3) fecharam com queda de 2,72%, após a estatal informar resultados financeiros do primeiro trimestre abaixo do esperado. Também impactou o desempenho a queda do petróleo no mercado internacional — tanto o Brent, quanto o WTI recuaram mais de 1% nesta terça.
Bruno Komura, analista da Potenza Capital, também avalia que o mercado deve reagir com desconfiança à troca na presidência da estatal, levando a um fluxo vendedor das ações. Em sua visão há dúvidas se os dividendos extras da Petrobras serão mantidos e se haverá alguma mudança na política de preços para abandonar completamente a paridade internacional.
— A gestão do Prates estava sendo bastante moderada, agradando os dois lados. Estava atendendo tanto a pedidos do governo de investir e diminuir frequência dos reajustes dos combustíveis, quanto estava fazendo uma gestão dos dividendos alinhada ao esperado. Com a troca, cria-se um clima de desconfiança — completa.
A escolha de Magda pode, na opinião de Gabriel Meira, sócio da Valor Investimentos, levar a uma nova temporada de fuga de capital da Bolsa.
— O mercado não gosta da Magda por entender que ela é muito linha dura, perfil Dilma, o que pode trazer muitos problemas na gestão. A gente entende que a interferência do governo não se restringe à Petrobras, o que deve intensificar a saída de investidores estrangeiros. As ações vão pagar o preço — prevê.