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Por — Rio de Janeiro

A sirene de uma ambulância ressoa na rua, e Pedro Neschling se remexe incomodado no sofá de seu apartamento, no 5ª andar de um prédio em Botafogo. Ele leva as mãos aos ouvidos, onde estão instalados aparelhos auditivos que amplificam o som agudo do veículo.

O ator, diretor e roteirista de 41 anos, filho da atriz Lucélia Santos com o maestro John Neschling, é deficiente auditivo. Recebeu o diagnóstico aos 18 anos. A causa jamais foi descoberta. Suspeita-se de algo hereditário.

Pedro Neschling fala da volta às novelas, em 'Renascer', e da surdez

Pedro Neschling fala da volta às novelas, em 'Renascer', e da surdez

O próprio preconceito fez com que resistisse ao recurso tecnológico. Passou grande parte da vida criando mecanismos para se virar. Inclusive na carreira de ator, que agora retoma. Pedro voltará às novelas no remake de “Renascer” 11 anos após seu último folhetim, “Joia rara” (2013).

Ele viverá Eriberto, personagem que não existia na primeira versão. O rapaz é sócio de Zé Venâncio (Rodrigo Simas) e se interessará pela namorada do amigo, Eliana (Sophie Charlotte). Será a primeira vez que atuará na TV com o dispositivo de amplificação sonora.

Na entrevista abaixo, que concedeu ao GLOBO ao lado de seus cachorros, Lisa e Barth, Pedro explica como o aparelho mudou sua experiência no mundo e narra a surpresa das pessoas quando revela sua deficiência.

Conta ainda como o fim do casamento tipo "casal de propaganda de margarina" o fez cair numa depressão agravada pelo afastamento da filha, Carolina, de 6 anos, que mora em Portugal com a mãe, a atriz e artista plástica Vitória Frate. Mas também possibilitou a chegada de outra companheira, a chef de cozinha Nathalie Passos — com quem se casou em outubro —, e um novo entendimento sobre o amor e acordos possíveis.

Você define a surdez como "deficiência invisível". Por quê?

Porque você olha para mim e não diz que eu sou deficiente. Quando se tem uma deficiência física, ela é aparente. A surdez é uma deficiência invisível porque, se eu não contar, não ficam sabendo. Boa parte da minha vida fui, e sou, deficiente. Provavelmente, as pessoas não sabem, mas a minha perda vem desde antes que eu possa me recordar. Tive um diagnóstico de surdez aos 18 anos. Não tenho um diagnóstico sobre a causa. Provavelmente, alguma coisa hereditária, não há essa explicação.

Naquele momento, fui mal orientado. Não passei a usar aparelho. O médico disse: "Você tem recursos, se vira bem". O que é uma besteira. Se pode usar um recurso que te ajude, por que não?

Comecei a fazer TV em 2002, trabalhei direto até 2014 como ator e em nenhum desses trabalhos utilizei o aparelho que hoje me ajuda. É difícil explicar para quem escuta o quanto ele é fundamental para a minha qualidade de vida. Hoje, penso: "Meu Deus! Sou deficiente auditivo mesmo. Como tive uma carreira tanto tempo?". Há frequências que não escuto.

Escuta os graves, mas não os agudos, é isso?

Tenho uma perda pequena nos graves e uma perda bastante significativa e profunda nos agudos. Tem sons que não escuto. É uma perda moderada para severa. Desenvolvi ferramentas que me possibilitam conviver com ela.

Quais? Como ela impacta, na prática, o seu dia a dia?

Se eu tirar o aparelho agora, ainda mais num ambiente de barulho controlado, vou continuar conversando contigo normalmente. A gente está um de frente para o outro, eu faço leitura labial. Mas não vou mais escutar o ar-condicionado, a campainha. Se alguém falar atrás de mim, não vou ouvir. A minha voz muda completamente no meu ouvido. A minha experiência da vida muda completamente. Sem falar que vou terminar essa entrevista exausto. Como boa parte da minha vida eu terminava o meu dia.

As pessoas acham que é botar o aparelho ou fazer um implante coclear que, pronto, escuta-se normalmente. Não. Ele me ajuda a melhorar dentro das minhas perdas. Agora estou usando um aparelho que não é o meu, porque ele deu um problema e está precisando passar por ajustes. Estou com um emprestado e você não faz ideia do alívio que é estar com um aparelho regulado. Ontem usei um que não estava adequado. Fico nervoso, ansioso. As pessoas não percebem.

Pedro Neschling: 'Eu tinha preconceito com relação à imagem, à ideia, ao fato de ser deficiente. Surdez é coisa de velho, pensava'  — Foto: Leo Martins
Pedro Neschling: 'Eu tinha preconceito com relação à imagem, à ideia, ao fato de ser deficiente. Surdez é coisa de velho, pensava' — Foto: Leo Martins

Qual é a reação das pessoas quando conta que é deficiente auditivo?

Riem, acham que é piada, não acreditam. Como se ser deficiente fosse uma aberração. Olham e pensam: "Ator, bonito, bem-sucedido, casado, tem uma filha. Como pode ser deficiente?". É a imagem depreciativa da deficiência, o capacitismo, a coisa do "parece que está surdo". Tem gente que está surda mesmo. E, mesmo que não esteja, não tem graça, sabe? Às vezes, vou pedir algo e tenho que pedir para repetirem uma, duas vezes para conseguir ouvir a resposta. Na terceira, digo: "Desculpe, é que sou surdo". Levam um susto. Mas sinto uma mudança depois da pandemia, no sentido de as pessoas estarem mais empáticas e abertas.

Por que resistiu por tanto tempo a usar o aparelho?

Graças a Deus, o mundo está mudando e estamos começando a conversar sobre essas coisas de uma forma mais natural. Não tive repulsa no sentido de não querer ajuda. Mas a verdade é que eu tinha preconceito com relação à imagem, à ideia, ao fato de ser deficiente. "Surdez é coisa de velho". Não era possível que eu, um jovem ali trabalhando, fosse surdo.

Mudei no dia em que fui fazer uma audiometria e o otorrino começou a conversar comigo de trás. Tentou falar comigo em alemão, uma língua que tenho algum tipo de domínio. E eu não entendi uma palavra. Ele disse que era um milagre eu ter uma vida profissional e social com aquela perda auditiva. Tomei um susto, pensei que o negócio era mais sério do que eu pensava. “Sai daqui agora e vai experimentar um aparelho", ele disse.

No momento em que passei a ter esse recurso, entendi a dimensão do meu problema. E aí mudou a minha forma de lidar com isso em relação ao mundo. Compreendi como era importante falar sobre para entenderem que não é o fim do mundo.

E recebi muitas mensagens de pessoas dizendo que tinham vergonha de admitir que eram surdas. O recado que dou é: não tenha vergonha. Errado não é quem tem deficiência, mas quem não a compreende. Errada é a sociedade capacitista que não tem formas de receber o diferente como igual.

Falando sobre isso sem tabu, você não só ajuda quem tem deficiência, mas também educa. Ensina quem não tem deficiência a ter empatia, paciência...

Falo sempre: normal é uma ilusão. Não existe. Não existe uma pessoa ou um deficiente igual a outro. A gente precisa, como sociedade, diminuir a competição e aumentar a cooperação.

Em que a ajuda do recurso tecnológico mudou a sua forma de atuar?

Na verdade, mudou completamente a minha existência no mundo. É como uma pessoa que usa óculos ser obrigada a ler um livro sem eles. Um set de filmagem é a antítese do ambiente controlado. Um barulho danado, pessoas falando ao mesmo tempo, som de microfone, caixas de som. Perco mais ainda a definição do que está sendo dito. Precisava ficar superatento, prestar atenção em todas as direções. Isso me causava um cansaço extremo.

Fora a percepção da minha própria voz e da dos outros. Porque a minha emissão muda completamente, por mais que não seja tão perceptível. Eu mesmo tinha dificuldade em entender isso. Quando tiro o aparelho, me escuto diferente. Se fico sem ele muito tempo, a tendência é cada vez ir perdendo as nuances do que estou falando.

Faz exercícios de dicção?

Fiz fonoaudiologia por muito tempo. Certas coisas não adiantavam. Porque o problema não era de emissão, mas de audição. Eu lá, preocupado em falar direito, em articular, fazendo os exercícios, e as fonos diziam: "Mas você não tem problema nenhum de fala,. não entendo". Chegava um momento em que eu ficava cansado e vinha essa diferença na voz, talvez um chiado, que eu não conseguia entender porque não ouvia.

Hoje sei o que estou falando e como, estou escutando muito melhor. E o que é atuar? É estar presente, em todos os sentidos. Tinha certo nervosismo em cena, um medo de não ouvir a deixa. Agora estou mais tranquilo até para, se for o caso, pedir a pessoa: “Pode falar um pouquinho mais alto? É que sou surdo".

Tirou um peso enorme de cima de você...

Toneladas. Um peso que saiu em todas as áreas da minha vida. Estou mais à vontade para estar aqui conversando com você, para ir a um bar, trabalhar.

Ir a shows, onde já te encontrei algumas vezes...

Para você ter uma ideia, eu achava que não gostava de sair. O que acontece? Eu vou aos lugares e é um barulho danado, pessoas falando ao mesmo tempo, eu não consigo entender. Então, dizia: “Ah, gente, não gosto de sair, prefiro ficar em casa, sou canceriano (risos)”. Tenho até uma tatuagem com a frase "não quero passear". Mas, aí, descobri que não, que adoro sair, estar com as pessoas nos lugares.

Agora, eu dependo de ajuda. Depois que comecei a falar sobre o fato de ser deficiente... Tenho um grupo de amigos que passaram a entender importância de levar isso a sério. Se estamos numa mesa grande, me perguntam: "Pedro, quer passar para cá para escutar melhor? Estamos falando de tal assunto". Isso vai te dando um relaxamento.

A tal da empatia...

Que dá um conforto tremendo. Gosto de explicar sobre o capacitismo. Ele é o preconceito que vem do fato de acharem que o deficiente não é capaz. Aí está o grande erro. As deficiências são múltiplas, não existe um deficiente igual ao outro. Tanto que na Paralimpíada as pessoas ficam loucas com tanta categoria. É difícil mesmo categorizar a deficiência. Não existe um surdo igual a outro. Entendo que para a sociedade seja difícil compreender.

Segundo dados do IBGE, são 18,6 milhões de deficientes no Brasil. Surdos são 2,3 milhões. Há desde pessoas com surdez leve até profunda. Dados da Organização Mundial de Saúde dão conta de que existem um bilhão e meio de pessoas com algum tipo de deficiência auditiva no mundo. Óbvio que a maior parte, com perda leve. Mas estamos falando de uma a cada 5 pessoas ter algum tipo de perda auditiva.

Os números são altos, mas a surdez parece ser uma deficiência bastante solitária. Estou certa?

Você acaba se isolando. Porque é difícil fazer as pessoas entenderem. O que acho bacana de falar sobre o assunto não é esse lado meio ridículo de história de superação. Mas é que eu trabalhei por anos e ninguém sabia que eu tinha. Sei a dificuldade que havia e estou felicíssimo agora em voltar a trabalhar.

Pela primeira vez na sua carreira de ator de TV usando aparelho auditivo.

Nunca atuei de aparelho. Quer dizer... Fiz o filme "Chocante", que escrevi e acabei atuando de farra. Foi a única vez em que atuei com o aparelho no ouvido. Na TV será a primeira vez.

Sabe o que eu acho uma grande ironia da vida? Você ser filho de maestro...

Tremenda ironia. Já pensei sobre isso. Teve uma época em que pensei: "Será que é psicossomático?".

Por quê? Não se dá bem com o seu pai?

Hoje em dia, me dou. Já tivemos momentos afastados, mas acho que a gente está num momento de vida em que conseguimos acertar nossos ponteiros em relação ao nosso sentimento.

A peça que escreveu, "Como nossos pais", tem a ver com isso?

Não, é uma peça social. Óbvio que tem ali a morte do pai, apesar de eu representá-la na morte do filho... Não tem nada biográfico. Há um personagem em busca do carinho do pai... Mas é um clássico das tramas.

Já sofreu sem conseguir ouvir direito um concerto regido por seu pai?

Nunca pensei sobre isso. É que outro aspecto da deficiência é não perceber que não tem uma coisa até tê-la. Não sei o tipo de som que não escuto até o momento em que passo a escutar. Se tiver tocado algo que não estou escutando, não sei o que estou perdendo. Mas na hora em que escuto... É o que acontece quando regulo o meu aparelho. Penso: "Meu Deus, eu estava perdendo tudo isso?".

Eu não sabia que era deficiente porque fui desenvolvendo ferramentas para me virar. Se conversar com a minha mãe, ela fica confusa até hoje. "Mas você já era surdo ali mesmo?". Lembro de coisas no colégio que reforçam para mim o fato de que sim, eu já era surdo ali.

Nunca percebi num concerto do meu pai que talvez não estivesse escutando algum tipo de som. É muito mais o caso de hoje em dia eu pensar: "Nossa, não reparei naquele barulhozinho da harpa ou do xilofone". Certamente sons que me faltariam tempos atrás e que, hoje, eu provavelmente vou escutar.

O que te motivou a voltar a atuar?

Não planejava voltar tão cedo, mas quando surgiu a oportunidade não pensei duas vezes. Quem gosta de novela sabe a importância de “Renascer”. É como aquele cavalo que passa selado, você monta e vai. Minha intuição disse que era o momento certo.

Que características do personagem te desafiam?

Eriberto é sócio do Zé Venâncio (Rodrigo Simas) na agência de publicidade e tem interesse pela mulher dele, a Eliana (Sophie Charlotte). Tem certa inveja da vida do Zé, é aquele cara que está nas beiradas, esperando oportunidade para se dar bem. É um personagem próximo da minha realidade, de situação física mesmo. Um publicitário, que deve andar aqui pelo baixo Botafogo (risos). Não exige muita composição. É mais um estudo de compreender o momento de vida em que ele está.

Você começou no mundo artístico atuando nos bastidores, como assistente de direção da sua mãe no filme "Timor Lorosae - O massacre que o mundo não viu". Depois, se dedicou ao ofício de ator por alguns anos. Em seguida, se afastou dos holofotes e focou na carreira de roteirista, diretor e escritor, escreveu dois livros "Gigantes" e "Supernormal". Agora, após 11 anos, retorna a um trabalho que traz projeção. Dá certa preguiça da vida de famoso? Está preparado para lidar com o assédio?

A fama é uma faca de dois gumes. Quem falar que não tem um lado bacana é mentiroso (risos). Mas sempre tive preguiça do universo de celebridade, que me afastou da carreira de ator. Fiz sucesso nos anos 2000. Ia na farmácia e tinha paparazzi fotografando. Me incomodava. Hoje é mais a coisa de autoexposição nas redes. As pessoas são suas próprias produtoras de conteúdo. É uma dinâmica interessante porque você escolhe o que expor...

Nem sempre...

É, há exceções. Outro dia, fiquei assustado com a quantidade de pessoas filmando a Paolla Oliveira escondido em um samba. Não estou ligado nesses paranauês. Mas acho que nada vai me assustar. Estou preocupado em fazer meu trabalho, me divertir, aproveitar o carinho das pessoas.

Você usa as redes para falar de um assunto sério como a surdez, do seu amor pelo Flamengo, mas também dá aquela biscoitada, né?

É uma brincadeira (risos). O grande problema é levar aquilo a sério demais. Vejo gente vivendo disso hoje, e respeito. Mas mesmo quem vive, segue fazendo um recorte da vida. Ninguém se expõe 100% nas redes. Não é um "Big Brother". O erro é o cancelamento. Quando tomam por verdade um fragmento de uma coisa que ouviram falar e tiram uma conclusão. Mas isso também faz parte do bololô.

Gosto de tratar de assuntos, sempre curti escrever e tive necessidade de expressão da minha opinião. As redes permitem isso. Antigamente, a gente precisava de uma mídia tradicional. Hoje, elas possibilitam ir direto ao público que te conhece ou até conquistar um público diferente.

Como assim?

Muita gente surgia dizendo: "Nem sabia que você era ator, passei a te acompanhar porque gostava das coisas que você dizia". Gente que me seguia no Twitter porque eu falava do Flamengo. Tento utilizar minhas redes de forma leve. Nunca fui de superexposição. O que está ali não é a minha vida de verdade. São pequenos retratos de coisas que acho interessante compartilhar.

Você acabou de se casar com a Nathalie. Foram andando para o cartório, com seus cachorros, suas mães. Tudo super simples. Achei tão legal, ainda mais num momento em que as pessoas transformam até uma ida à padaria em grandes acontecimentos nos stories...

Não foi planejado. A gente já mora junto há um tempo, mas na nossa sociedade, há determinados contratos que são importantes para garantir direitos. Para ela ser minha dependente no plano de saúde, precisava de um documento oficial. Então, quisemos oficializar. Partimos desse desejo pragmático.

Mas não queríamos fazer uma festa. Apenas ir ao cartório. Mas tem determinados signos que são mais fortes que a gente. Então, quando nos pegamos indo ao cartório, com uma roupinha arrumada, os cachorros e nossas mães, nos emocionamos. Tinha uma juíza de paz hilária, que cantarolava a marcha nupcial. Não podia ser melhor (risos). Um amigo fotografou...

Não teve pretensão de ser nada além do que era. A gente vive numa sociedade em que está tudo tão espetaculoso, grande, para fora, que muita gente nas redes comentou: "Que bacana, um casamento simples".

Antes desse, você teve dois outros casamentos. Com a cantora Luiza Possi e, depois, com a atriz e artista plástica Vitória Frate, com quem teve uma filha, Carolina, de 6 anos. Acho bonito você não ter desistido do amor depois de duas separações...

Do amor? Jamais! Sou canceriano. Passo por reflexões sobre o formato de relacionamento. O grande barato do meu encontro com a Nathalie é que era tão improvável dar certo... Estávamos vindo de separações difíceis. Os dois descrentes do modelo. Mas abertos ao amor. É aí que a gente constrói nossa história no dia a dia.

Que acordo diferente dos anteriores procuraram estabelecer para tentar fazer dar certo?

Honestidade sobre o que não estamos a fim e sobre nossas necessidades. Estamos num momento em que se rotula demais. Tudo muito para fora e pouco para dentro. Se discute monogamia, não monogamia, relacionamento aberto, poliamor... Colocam rótulos. No nosso caso, estamos mais preocupados com a forma com que lidamos com as situações. Nesse aspecto, nosso encontro funcionou.

Sentimos certa frustração e entendemos que determinados padrões são fracassados. Com todo respeito a quem continua tentando. A grande dificuldade da minha separação anterior foi admitir o fracasso do casal da propaganda de margarina. Estávamos juntos há dez anos, tínhamos uma filha. Como aquilo podia acabar? E, se acabou, podemos de novo.

Hoje penso que temos a vida inteira para experimentar e se transformar. Em todas as fases e áreas da vida. Não sou igual ao que era há 10, 20 anos. Antigamente, se sentássemos para bater esse papo aqui, eu estaria tão mais armado, preocupado em demonstrar um tipo de coisa que hoje não faço questão.

Nada como a maturidade nesse sentido...

Sim. Para entender que é isso: o meu relacionamento hoje é muito saudável para a gente do jeito que a gente é agora. E que continuemos tendo essa maturidade de seguir tendo essa troca honesta sobre o que a gente pensa e precisa.

O que foi mais difícil no processo de separação com uma filha no meio?

Se tenho um buraco no meu peito é a distância da minha filha. Carolina mora com Vitória em Portugal. Infelizmente, não tenho a convivência diária. Isso me levou à depressão. Tive que fazer terapia, psiquiatra e muita luta, jiu-jitsu, luta livre e box. O esporte me ajudou a me reencontrar, a dar vazão à ansiedade e à depressão patológica. Me ajudou a parar de tomar remédio na fase mais difícil.

A vida traz imensos desafios para todo mundo. Uma coisa triste hoje é o julgamento exacerbado sem que as pessoas saibam o que a outra está vivendo, o que ela passou para chegar onde está. Isso é algo que eu aprendi. Sempre que me pego julgando muito alguém, paro e penso: "Peraí, não sei exatamente como essa pessoa chegou nesse ponto". É muito fácil pegar um recorte e tirar uma opinião. Mas faz parte do ser humano, a gente faz isso no "Big Brother".

Ninguém resiste a 24 horas de vigia, todo mundo erra...

Acho que quando você consegue ter esse olhar mais generoso, entende que são fases na vida, que o tempo passa e as coisas vão se ajustando. Novas histórias se sucedem e, quando você é uma pessoa de caráter, honesta, que pensa no coletivo e busca ser a melhor versão de você, a tendência é que as coisas se encontrem e deem certo.

Não tinha como terminar essa entrevista sem falar da sua mãe, uma mulher de posturas firmes, defensora de bandeiras como meio-ambiente, a causa indígena. O que de mais importante ela te ensinou na vida?

A força dela sempre me impressionou. Se alguém me ensinou a ideia de que nada é impossível foi minha mãe. É uma história de vida que penso: "Como pode ser tão firme e forte em seus princípios?" Isso me motiva. É uma honra ser herdeiro desse tipo de caminhada. Busco honrar o nome que carrego.

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