Teatro
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Por — Rio de Janeiro

Thiago Soares avisa: está aprendendo a usar a palavra “último” com mais cuidado. Em cartaz até semana que vem no Teatro Casa Grande, no Leblon, Zona Sul do Rio, “Último ato” está longe de cravar um ponto final na carreira do premiado bailarino brasileiro, como ele mesmo reforça ao reconhecer a força do termo.

— Sei que ficou dramático esse título (risos). Mas não vou parar de dançar tão cedo — assevera o artista, de 42 anos.

O dançarino é irrequieto e tem dificuldade em fincar os pés no chão por muito tempo. Quando decidiu abandonar o Royal Ballet de Londres — uma das mais prestigiadas companhias clássicas do mundo, em que ocupou o posto de primeiro bailarino entre 2006 e 2020 —, ouviu um sermão de uma antiga professora. “Menino, olhe onde você está, com os maiores prêmios, na Inglaterra... Acalme-se e fique aí!”, teria opinado a docente, segundo a memória do dançarino. Thiago deu de ombros e emendou um novo passo: um salto no escuro.

— Poderia ter me tranquilizado com algumas conquistas e ficado num lugar de conforto. Mas não consigo. Nunca descansei — diz. — Nesse período, comecei a imaginar como seria minha vida sem o Royal Ballet e pensei como faria minhas próprias produções. Aí me perguntei: aonde quero chegar? Alguns amigos me falam: “Descansa!” Mas tenho essa inquietação. É uma busca, sabe-se lá pelo quê. Vou ao trabalho como se não tivesse nada, sabe? E é justamente isso que me faz seguir em frente.

Thiago Soares em "O Último Ato". — Foto: Divulgação.
Thiago Soares em "O Último Ato". — Foto: Divulgação.

Misturinha

Em “Último ato”, que teve elogiada turnê internacional, Thiago coreografa uma transição particular com a qual bailarinos são sempre confrontados após determinada idade. Em cena, ele e outros quatro dançarinos — Letícia Dias (atual solista do Royal Ballet), Jaime Bernardes, Tairine Barbosa e Hélio Cavalcanti — passeiam por estilos diversos, entre elementos da dança de salão e urbana, do frevo, do samba e até do parkour, para entornar no tablado um caldo de visual brasileiríssimo, mas em embalagem clássica. Está aí o que o bailarino deseja daqui para frente: dançar (e criar) o próprio enredo.

— Quero contar minha história. Fisicamente, ainda posso dançar “O lago dos cisnes”. Por que não estou fazendo isso? Meu movimento vem no sentido de fugir da “validade” relacionada à carreira. É uma responsabilidade. Não queria que as pessoas deixassem de me ver no auge naquele lugar — ressalta ele. — Tive medo, mas sinto que dei um passo importante. Quero exercitar mais o lado da atuação agora. Deixar de ser apenas bailarino. “Último ato”, para mim, é algo como um workshop disso.

Nos últimos anos, Thiago até foi convidado para participar do elenco de séries televisivas, incluindo produções internacionais. Ele quer realizar essa virada profissional, mas ainda não se sente preparado. A procura pelos passos perfeitos, algo absorvido e enraizado por meio das lições de balé clássico, pulsa forte na veia. E rende frutos, sem pressa.

Em formato inédito, sem diálogos e com narrativa inteiramente contada por meio da dança, o curta-metragem “Vermelho quimera” (2022) marcou a estreia do bailarino no posto de diretor cinematográfico, em parceria com Oskar Metsavaht, e chamou atenção na seleção do Festival de Cannes à época:

— O filme me abriu uma porta para o audiovisual. Mas preciso ainda sair da caixa preta da sala de teatro e entender minha voz. Amaria fazer uma novela ou filme, mas ainda necessito de mais preparo técnico. Já escutei pessoas falando: “Ah, é fácil, basta conseguir um papel.” Não vejo assim. Estou num processo.

História de cinema

Enquanto isso, Thiago prepara um novo trabalho junto ao Balé Folclórico da Bahia — a estreia deve acontecer no segundo semestre. E tem mais.

Em breve, o bailarino terá a trajetória pessoal recomposta nas telonas, por meio do filme “Um lobo entre os cisnes”, dirigido por Marcos Schechtman e Helena Varvaki. Em processo de finalização e ainda sem data de lançamento confirmada, o longa-metragem protagonizado pelo ator Matheus Abreu repassará os caminhos dados pelo artista — da infância em São Gonçalo, na região metropolitana do Rio, ao estrelato mundial no universo da dança.

Aliás, nunca é demais lembrar: até hoje, Thiago é o único brasileiro a ganhar a medalha do ouro no exigente concurso internacional do Ballet Bolshoi, na Rússia.

—Acho que o filme vai trazer uma mensagem importante para quem acredita em sonhos. E vai lembrar ao público o valor das parcerias. Só estou aqui porque muita gente me estendeu a mão — diz o bailarino, que nos últimos três anos atuou como diretor artístico e coreógrafo do Ballet de Monterrey, no México.

Filho de uma dona de casa e um vendedor de automóveis, Thiago custa a acreditar que já esteve em mais de 30 países como um dos bailarinos mais cultuados no planeta. O interesse pela dança, ele relembra, surgiu por acaso, após se matricular numa escola de circo, aos 9 anos, e integrar um grupo de breakdance e hip-hop.

— Nunca imaginei tudo isso. A única referência que tinha era um irmão que dançava passinho. Quando comecei a me profissionalizar, lembro de ouvir familiares me questionarem: “Mas você tem certeza de que vai ganhar dinheiro com dança?” — rememora. — Volta e meia, meu pai me fala: “Filho, a gente já tem muito orgulho de você, fique tranquilo agora.” Mas sei que o sucesso é momentâneo. Às vezes, deveria só me aceitar, colocar a sapatilha e posar para fotos. Mas sinto que ainda falta muita coisa pela frente. Tinha até começado a escrever um livro autobiográfico... mas interrompi. Sei que preciso viver mais algumas aventuras.

“Último ato”

Onde: Teatro Casa Grande (Av. Afrânio de Melo Franco 290, Leblon — 2511-0800. Quando: Qui a sáb, às 20h. Dom, às 19h. Até 24 de março. Quanto: De R$ 150 (balcão) a R$ 230 (plateia vip). Classificação: 12 anos.

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