Cultura
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Por — Rio de Janeiro

Dois patrimônios americanos do indie rock — a cantora Cat Power, em show no qual interpreta a obra de Bob Dylan, e o grupo Pavement, efetivamente extinto em 1999, agora em turnê de reunião — são as principais atrações da segunda edição do C6 Fest, que ocupa uma série de palcos de sexta-feira (17) a domingo (19) no Parque Ibirapuera, em São Paulo.

Herdeiro do Free Jazz Festival e do Tim Festival (realizados pela mesma empresa, a Dueto Produções), o evento conserva, dos seus antecessores, uma diversidade na qual nomes de maior expressão comercial do pop e do rock americanos (como o grupo Black Pumas e a cantora Noah Cyrus) convivem com artistas renovadores do jazz, da música eletrônica, da MPB, do hip-hop e do rock.

Em 2024, dois nomes, de sonoridade indefinível — vindos, não por coincidência, do Reino Unido — trazem, para o festival, a quebra de barreiras como compromisso: o trio escocês Young Fathers e o quinteto inglês Squid.

Formado em 2008 na cidade de Edimburgo, quando seus integrantes ainda eram adolescentes, o Young Fathers (que se apresenta domingo, às 18h50, na Arena Heineken do festival) já ganhou de cara, com seu álbum de estreia, “Dead” (2014), o prestigiado Mercury Prize — um disco de originalidade assombrosa, no qual o rap é ponto de partida para uma viagem por sonoridades sombrias e emocionais, entre gritos, sussurros, ruídos diversos e melodias cativantes.

Era, em grande medida, o resultado da vivência multicultural em uma cidade fria e cheia de tensões e contrastes, que inspirou o romance (depois filme) “Trainspotting” (os Young Fathers, por sinal, comporiam e gravariam a canção “Only God knows” para “T2”, sequência do diretor Danny Boyle para o longa). Graham Hastings, Kayus Bankole (filho de nigerianos) e Alloysious Massaquoi (que nasceu na Libéria e se mudou para a cidade com 4 anos de idade) cresceram ouvindo soul, reggae e música gospel e começaram o trio em uma festa de hip-hop num lugar chamado Bongo Club.

— Gravávamos em nosso porão sem janelas, era frio e escuro. Gostávamos de coisas barulhentas, com frequências graves, de melodias doces, mas também de músicas soturnas. Nosso negócio era o contraste — conta Alloysious, em entrevista ao GLOBO por Zoom juntamente com Kayus. — O clima afeta as pessoas mais do que elas imaginam.

Espontaneidade e inconsciência

Ao contrário de muitos grupos que começaram adolescentes e rebeldes para depois se acomodarem à indústria, os Young Fathers, que eram praticamente uma boy band no início, foram gravando discos cada vez mais ousados e estranhos ao longo da carreira (e quem duvidar que ouça “Heavy heavy”, de 2023).

— Somos indivíduos extremamente diferentes, com gostos diferentes, que foram desenvolvendo ao longo dos anos uma confiança muito grande um no outro quando o assunto é música. No processo de gravação, a música é sempre a rainha, você está fazendo tudo o que for necessário para torná-la algo bom. Inclusive, sacrificar seu próprio ego — descreve Kayus. — Deixamos vários instrumentos espalhados pelo estúdio, para pegar o que quiser e tocar. E estamos sempre gravando tudo, para que nada seja perdido. Os momentos de espontaneidade, inconsciência e expressão que acontecem são mágicos.

O grupo inglês Squid — Foto: Divulgação
O grupo inglês Squid — Foto: Divulgação

Bem jovens também eram os integrantes do Squid (show às 15h15 de domingo, na Tenda Metlife) quando formaram o grupo em 2015, na cidade costeira de Brighton, a partir de um amor em comum por bandas alemãs do movimento krautrock dos anos 1970, como Can e Faust. Mas, como conta por Zoom o vocalista e baterista Ollie Judge, de 29 anos, o fator decisivo para que eles seguissem em frente na música foi o show que viram juntos, numa viagem de colégio, de um mito do post-rock, o grupo canadense Godspeed You! Black Emperor.

— Aquele foi um verdadeiro momento de virada porque não era apenas música fora das regras, do padrão, aquilo mostrou que podemos ter uma faixa com dez minutos de duração ou uma que seja apenas de música ambient — diz ele, que, não muito tempo depois disso, se mandou com o Squid para Londres, onde encontrou uma cena formada por bandas igualmente novas e estranhas, como Black Midi e Black Country, New Road (atração do C6 Fest do ano passado) . — Mandamos um e-mail para (o produtor) Dan Carey, ele se ofereceu para produzir um single nosso e, com isso, conseguimos contrato com a gravadora Warp. Fora que fizemos um monte de shows. Entre 2019 e 2020, acho que foram de 150 a 200. A ideia era: se você fizer algo bastante, vai melhorar e alguém vai notar você.

Noah Cyrus: ‘Sombria’ e ‘autobiográfica’

A cantora e compositora americana Noah Cyrus — Foto: Divulgação/Amaury Nessaibia
A cantora e compositora americana Noah Cyrus — Foto: Divulgação/Amaury Nessaibia

Maior representante do lado pop do C6 Fest, Noah Cyrus, de 24 anos, é filha do astro da música country Billy Ray Cyrus e irmã mais nova de Miley Cyrus — cantora que teve em “Flowers” a música mais ouvida no mundo ano passado. Ex-atriz mirim (como Miley), Noah seguiu, contudo, seu próprio caminho: em 2022, lançou o primeiro álbum, “The hardest part”, voltado para o indie-folk e indie-country, que abre com “Noah (stand still)”, faixa em que não esconde o caráter autobiográfico de versos como “quando completei 20 anos, fui dominada pelo pensamento de que talvez não chegasse aos 21”(na época, Noah lutava contra depressão, ansiedade e ataques de pânico).

— Difícil, para mim, é não ser autobiográfica! É mais fácil para ser honesta e um tanto sombria — conta por Zoom a cantora, que se apresenta domingo, às 16h35, na Tenda Metlife do festival e na semana passada lançou com Orville Peck (um dos raros cantores country a assumir-se gay) a canção “How far will we take it?”. — Foi uma experiência muito bonita, porque gravei uma música com meu melhor amigo, e uma música que o meu irmão, Braison, compôs.

Diferentemente do que se poderia esperar de alguém da família Cyrus, Noah conta ter tido dificuldades para lançar o seu álbum de estreia.

— Me diziam que seria em 2017, mas ele nunca saía e eu continuava ouvindo promessas vazias até que finalmente fui capaz de assumir o controle do meu próprio destino e fiz eu mesma meu álbum — diz a cantora, prometendo para o C6 um show intenso. — Eu e minha banda temos uma conexão muito bonita, somos como uma família. Então, sempre que você vem ver nosso show, estaremos tocando sozinhos, sem qualquer público na frente, que é como são os melhores shows que eu vi de outras pessoas.

O saxofonista Charles Lloyd — Foto: Divulgação/Marcos Hermes
O saxofonista Charles Lloyd — Foto: Divulgação/Marcos Hermes

A juventude de Noah Cyrus contrasta com a experiência do saxofonista americano Charles Lloyd, de 86 anos, um dos mais populares músicos do jazz dos anos 1960, com pioneirismo reconhecido no chamado spiritual jazz. O músico se apresenta hoje à noite no C6 Fest, com seu quarteto, a partir das 20h30, no Auditório Ibirapuera. Para Lloyd, que experimentou um renascimento artístico recente, ao cair nas graças de jovens músicos, “o jazz fala do agora”.

—E ele está no que muita gente boa está fazendo agora. O jazz segue sendo uma música que tira do chão, que eleva para um outro lugar. O jazz consegue, em seus momentos mais incríveis, a proeza de transformar verdades individuais em universais. Por isso, ele segue — argumenta o saxofonista.

O passado do jazz, porém, vive nas homenagens ao pianista Thelonious Monk (“Monk’s dance”) e Billie Holiday (“The ghost of Lady Day”), faixas de seu recém-lançado álbum “The sky will still be there tomorrow”.

— Quando tinha 22 anos e cheguei a Nova York para tocar com os grandes, fui convidado pelo cara que cuidava da carreira do Monk para ir à casa dele. Fiquei muito nervoso e não fui. Monk, para mim, é o Alto Sacerdote do Jazz, lamentei muito não ter tido coragem de ir à casa dele, e por isso passei a compor para ele — conta. — E a Lady Day... quando era criança, eu escutava as músicas dela no rádio e me sentia apaixonado de fato por ela, por aquela voz, sonhava que um dia iria dirigir de Memphis, no Tennessee, de onde sou, até Nova York, e me casaria com ela. Mas cheguei muito tarde, e por isso compus “Lady Day”, do fundo do meu coração.

Com a colaboração de Eduardo Graça, de São Paulo

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