Cultura
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Por — Rio de Janeiro

Ney Matogrosso não sobe aos palcos depois das 22h30. A determinação está nos contratos de shows do cantor, que anda feliz da vida desde que passou a alinhar os horários profissionais e pessoais — o artista de 82 anos não é lá muito afeito a chegar tarde em casa. E ele não está sozinho. Repare só: dos últimos três anos para cá, em São Paulo e no Rio de Janeiro, a noite é uma criança que... parece gostar de dormir cedo.

A constatação é geral entre produtores de eventos e administradores de casas de show pelo país. Em décadas passadas, o público demonstrava mais disposição para assistir a apresentações musicais que adentravam, com força total, a madrugada. Hoje, a onda nas pistas é dançar e se divertir sem esquecer que há, sim, o amanhã. O discurso, acredite, enche a boca de vários jovens com idades na faixa dos 20 aos 30 anos, a tal Geração Z.

— Quando o show não começa tão tarde, nossas pernas agradecem (risos). Em muitos casos, tem a questão da fila. Para pegar um bom lugar, já cheguei de manhã ao local — diz Juliana Melo, de 27 anos, que “maratonou” grande parte das apresentações internacionais que aportaram no Brasil no último ano, como RBD, Coldplay e The Weeknd.

Detalhe: em solo tupiniquim, todos esses astros estrangeiros surgiram diante da plateia entre 20h30 e 21h.

— Quem trabalha ou estuda não pode se dar ao luxo de madrugar na rua por causa de um show durante a semana — acrescenta a jovem. — O fato de ser mais cedo traz flexibilidade, além de vantagens para segurança e mobilidade. E, claro, fica menos cansativo.

Adeus, ‘rock and roll’

O depoimento atesta a conclusão a que chegou uma pesquisa recentemente realizada pelo Circo Voador junto a frequentadores do espaço, um dos mais tradicionais na capital fluminense. Em atividade há quatro décadas, a casa no bairro boêmio da Lapa vive uma transformação inédita e radical. Desde a última semana, o lugar passou a abrir os portões às 20h, com shows começando entre 21h30 e 22h30. Antes, as apresentações eram iniciadas por volta da meia-noite — ou ainda mais tarde.

Público assiste a sessão de cineclube no Circo Voador, antes de show em horário mais cedo — Foto: Cristiano Juruna/Divulgação
Público assiste a sessão de cineclube no Circo Voador, antes de show em horário mais cedo — Foto: Cristiano Juruna/Divulgação

Há tempos, o público reclamava, e muito, de tais horários, como ressalta a produtora Gaby Morenah. Após a pandemia, continua ela, a chiadeira triplicou. A solução para o problema foi aplicada finalmente neste verão, com uma campanha incentivando as pessoas a saírem da praia diretamente para a casa de shows, onde rolam — antes das performances no palco — sessões de cineclube, com curtas e médias-metragens na área externa, atualmente também ocupada por chuveirões. A mudança não é sazonal. Está aí algo que veio para ficar.

— O Circo tem um público que já está com 50, 60 anos. Pensamos que essa galera com certeza iria amar a novidade. Mas, para a nossa surpresa, segundo a enquete que fizemos, quem mais reclamava do horário tarde eram as pessoas mais jovens, com 20 anos — conta a produtora. — Tempos atrás, o comportamento era outro e havia aquela coisa “rock and roll” de curtir a madrugada. Notamos que, hoje em dia, as pessoas estão mais preocupadas com a saúde. A juventude gosta de sair cedo de casa no dia seguinte. À meia-noite, a gente espera que o público já esteja indo embora, indo para casa ou para o “after” em outro lugar.

Entre empresários, a expectativa é que endereços com jeitão de bar e boate — que oferecem apresentações em clima de festa — assumam totalmente o comando da alta noite, tanto no Rio quanto em São Paulo.

Mobilidade à vista

Na terra da garoa, diferentemente do que era visto épocas atrás, poucos são os estabelecimentos dedicados exclusivamente aos grandes shows que esticam o funcionamento até a madrugada. Grande parte das casas inicia as atrações entre 18h e 22h. As exceções são lugares como o Villa Country, na Água Branca, complexo dedicado à música sertaneja e com diversos ambientes com ares de balada. No alternativo Cine Joia, no bairro central da Liberdade, apenas festas com discotecagem se estendem madrugada adentro. É o caso do Baile do Bowie, evento em homenagem ao britânico David Bowie, e que acontece neste sábado (13) até às 4h. A cena muda quando o lugar serve de palco para algum show — neste caso, as atividades são encerradas à meia-noite, cumprindo uma demanda dos clientes.

— O fato de estarmos tão próximos a uma estação de metrô é um diferencial. Passamos a antecipar a programação para que o público pudesse ir e voltar de transporte público, antes da meia-noite — explica Facundo Guerra, um dos sócios e responsáveis pela revitalização do espaço, cuja história remonta a um antigo cinema de rua da cidade.

'Às 23h, já estou de pijama'

Em países da Europa e da América do Norte, a cena musical sempre foi menos notívaga, se comparada a nações do lado de baixo do Equador. Percussionista e parceiro de nomes como Seu Jorge, Caetano Veloso, Xande de Pilares e Marisa Monte, o compositor e instrumentista Pretinho da Serrinha é um dos entusiastas da nova tendência por aqui.

O Samba Pretinho da Serrinha na Arena Jockey — Foto: Divulgação / Foto de  Bruno Ryfer
O Samba Pretinho da Serrinha na Arena Jockey — Foto: Divulgação / Foto de Bruno Ryfer

Entre novembro e dezembro, o carioca, de 45 anos, topou a proposta de realizar uma roda de samba semanal em plenas quintas-feiras, às 18h. Isto ocorreu na Arena Jockey, na Zona Sul do Rio, dentro de um evento com shows diversos até 22h, impreterivelmente. A empreitada deu tão certo que voltará a ganhar forma, no mesmíssimo esquema, no últimos meses de 2024.

— Fiz muitos shows fora do Brasil, e lá não tem essa coisa de se apresentar na madrugada. A gente entra às 20h no palco. Por volta das 22h, já acabou. E às 23h, no máximo, já estou de pijama, pedindo uma canja, para dormir alimentado — graceja o músico. — Fica fácil para quem trabalha cedo no dia seguinte. A rua ainda tem um movimento, para quem depende de condução. Outra coisa boa é que as pessoas conseguem assistir a dois shows na mesma noite. Muita gente saía do meu samba e ainda ia pegar o último set no Beco do Rato.

Festivais na onda

A moda vem sendo absorvida, mais recentemente, por festivais. Ao contrário do que se via até pouco tempo atrás, as atrações principais de eventos de grande porte não mais ocupam necessariamente os últimos postos da programação. Aconteceu assim, por exemplo, na última edição do festival Queremos!, no Rio, que pôs Marisa Monte para cantar num horário intermediário, às 21h50.

Show no Universo Spanta — Foto: Divulgação
Show no Universo Spanta — Foto: Divulgação

Diretor de criação e conteúdo do Universo Spanta, atualmente o maior festival de música brasileira — e que, na edição deste ano, ocupa a Marina da Glória aos fins de semana de janeiro —, Gustavo Nogueira conta que a realização de shows mais cedo se consolida, de fato, como uma estratégia promissora (e lucrativa).

— No sábado, por exemplo, é um dia em que a gente quer que as famílias estejam lá, com suas cangas, deitadas nas redes, para curtir o pôr do sol. Tem muita gente que chega para ver os primeiros shows e depois vai embora — conta ele, lembrando que, amanhã, a dupla sertaneja Cesar Menotti & Fabiano abre o palco principal às 19h10. — Muitos artistas gostam de fazer show mais cedo, porque aí podem sair para jantar com a família depois da apresentação.

Fato é que o cenário segue em meio a uma transformação lenta e gradual, com artistas ainda se adaptando aos novos fusos. É um novo mundo.

— Existe certa loucura dos shows mais tarde, daqueles que começam perto da meia-noite, que é insubstituível. E isso é especial — opina o cantor Tim Bernardes, que se apresentará com a banda O Terno, no Circo Voador, em março, já dentro do novo horário da casa. — Acho que cada caso favorece um tipo de clima na plateia. Especialmente em lugares abertos, esses shows mais cedo são sempre bonitos.

Produtores ouvidos pelo GLOBO vão além: reforçam que sobretudo no verão explode a demanda por apresentações em turnos variados, mais cedo, a despeito das altas temperaturas no ar.

— Até algum tempo atrás, a molecada do Rio viajava toda para a Bahia, e o verão virava o período mais fraco para nós — comenta Uirá Fortuna, diretor-geral da Fundição Progresso, no Rio. — A virada começou com os ensaios dos blocos de carnaval. Hoje, nosso forte é o verão. Mas, por causa do calor, a gente tem sempre que inventar algo com água, como chuveirões e banhos de mangueira, para refrescar a galera.

(Reportagem com colaboração de Mariana Rosário, de SP, e Silvio Essinger)

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