Música
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Espécie de showroom dos encontros da música brasileira, o Festival de Verão Salvador chega a sua edição 2024 este sábado e domingo, no Parque de Exposições da capital baiana, repleto de combinações (além de shows exclusivos, como os do cantor americano CeeLo Green, do grupo Àttooxxá, de Ivete Sangalo e de Caetano Veloso, que interrompe suas férias para cantar o disco “Transa”). Tem de tudo: Iza com Liniker, Baco Exu do Blues com Psirico, Seu Jorge com Mano Brown, Lulu Santos com Gabriel o Pensador, Gloria Groove com Péricles, Leo Santana com Luísa Sonza, Thiaguinho com Maria Rita... E a junção de dois importantes capítulos da fervilhante história da música pop de Salvador: pela primeira vez em um show inteiro, Carlinhos Brown e BaianaSystem.

— Nós somos os velocistas atrás da poesia. E o ritmo, os nossos calçados — poetiza Brown, 61 anos de idade (e quase 40 de pesquisas e criações musicais que levaram a Bahia para o mundo a partir dos anos 1990, seja com a Timbalada, seja com sua carreira solo), em encontro promovido pelo GLOBO no mês passado, antes do começo dos ensaios para o espetáculo conjunto.

— A gente já era velocista, mas ainda estava tentando entender os calçados (riso) — brinca Russo Passapusso, vocalista do BaianaSystem, banda fundada em 2009, que sacudiu o carnaval soteropolitano e depois o cenário nacional da música, com suas releituras do pop baiano a partir da estética dos paredões de som e da contestação social do reggae jamaicano.

O valor do erro

Segundo Russo, no começo da carreira, “o Baiana não tinha essa consciência (de ser herdeiro de uma tradição musical) que tem hoje”:

— E não ter consciência era o que impulsionava a não ter pretensão e continuar sendo intuição, até poder visitar o erro. Nas primeiras apresentações, era o erro que fazia o público se aproximar de nós. Quando eu tropeçava, quando eu caía, quando eu gaguejava, quando eu esquecia a letra era que o público dava um passo para frente!

Brown assina embaixo.

— É por isso que os ensaios tomaram o lugar dos shows, porque as pessoas querem o erro, querem a improvisação! — diz ele, um defensor de que não se desperdice o espaço que o festival oferece para apresentar novidades. — Porque, senão, é só hit, hit... Quando você viu, passou dez anos enxugando gelo. Tem uma hora que o próprio público fala que não aguenta mais. Se não der certo, não deu, mas se deve tentar.

Nos primeiros encontros, surgiu o nome do espetáculo: Paredão Patuscada. Patuscada, conta Brown, no sentido de “procissão batuqueira”, da tradição afro de Salvador. E paredão, explica Russo, no das caixas de som presentes nas festas de rua, com diversos ritmos (às vezes, tocando todos ao mesmo tempo), nos vários recantos do Brasil.

— Nossa energia sugeriu Paredão Patuscada, isso estava no nosso desejo. A patuscada enfrentou seus problemas de 70 anos para cá, e o paredão também.

(Da mesma forma que a patuscada,) o paredão é visto de uma forma marginalizada, porque não se tem um cuidado de onde as pessoas devem se divertir. E, quando a gente não organiza a diversão, ela fica em conflito com a lei — analisa Brown. — O paredão não quer impor a ninguém a sua existência, o que nós estamos dizendo é que precisamos cultuar a alma.

Russo garante que as duas bandas, a de Brown e a do BaianaSystem, estarão em total interação no palco do festival, no sábado:

— A gente vai misturar as bandas no momento da interpretação das músicas. Porque uma coisa é chegar lá já com a coisa fundida, a pessoa não viu quando você misturou o cobre com ouro e com a prata. A gente vai criar na hora essa experimentação de transição da banda.

A partir da esquerda, Roberto Barreto, Carlinhos Brown e Russo Passapusso: “Nós somos os velocistas atrás da poesia”, diz Brown — Foto: Divulgação/Sergio Freitas
A partir da esquerda, Roberto Barreto, Carlinhos Brown e Russo Passapusso: “Nós somos os velocistas atrás da poesia”, diz Brown — Foto: Divulgação/Sergio Freitas

Diretor artístico do festival, Zé Ricardo acredita muito no Paredão Patuscada:

— Achei maravilhosa a disponibilidade do Baiana e do Brown, que têm agendas cheias, de quererem fazer um negócio único. Eles trazem essa combinação de modernidade e ancestralidade, de tambor e programações eletrônicas, junto a uma apurada parte visual, que tem grande valor artístico.

As origens do Baiana remetem a Brown: a banda começa quando Roberto Barreto (que tocou guitarra baiana na Timbalada entre 1995 e 2001) encontra Russo Passapusso, MC do soundystem Ministereo Público.

— Tomei um susto, porque no Ministereo eu vi as bases de reggae e o Russo cantando uma coisa melhor que a outra, com outras referências. E foi que pensei: “E se eu pudesse tocar temas com a guitarra baiana em cima disso?” — conta Roberto. — Sempre quiseram rotular o Baiana, chamavam de axé experimental. A gente é referência e reverência. Por exemplo: nos nossos primeiros discos tem Gerônimo, Roberto Mendes, Mateus Aleluia, todas essas referências para dizer de onde a gente vinha, do mesmo jeito que a Timbalada fazia.

Brown se recorda bem da primeira vez em que ouviu o BaianaSystem:

— Eu disse: “Poxa, é isso que nós estamos discutindo!” A linguagem vem afirmando socialmente os cuidados de dar voz a quem não tem voz. Porque nós não somos donos da cultura, somos intérpretes culturais. E, quando isso aparece com responsabilidade, quem antecede dura mais, passa a ter valor. Você vê a referência amadurecida, porque eu aprendo com o BaianaSystem.

  • Silvio Essinger viajou a convite da organização do evento.

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