Música
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Por — Rio de Janeiro

Para quem marcou o ano de 2022 com o bordão “fogo nos racistas” (da música “Olho de tigre”, que viralizou depois de ele pôr em cena um homem em chamas num de seus shows), o mineiro Djonga — um dos rappers brasileiros mais bem-sucedidos da atualidade — viu 2023 se encerrar em outro clima, embora tão quente quanto. Em novembro, numa apresentação em Cabo Frio, na Região dos Lagos, foi a vez de ele próprio experimentar o fogo — um erro no equipamento pirotécnico incendiou a sua bermuda — e, ali, passar por cima da situação com graça.

— Era de duas uma: ou eu apelava, começava a dar vexame, a xingar os caras, ou eu simplesmente continuava o show e agradava às pessoas que estavam lá embaixo — explica-se Djonga, em entrevista por Zoom. — Entre levar uma vibe negativa, que era de ficar xingando o mano que errou ali e tal, e que é meu parceiro, meu irmão, e que de forma alguma ia querer me matar; e a de levar uma vibe de zoeira para o público e continuar fazendo show... Velho, quem escolher pela primeira ou está maluco ou está passando por um momento muito complicado na vida!

É este artista dual (“as pessoas têm uma impressão de que a gente, que às vezes fala muita coisa séria, não consegue ser leve; na maior parte do tempo eu estou brincando e zoando com meus amigos”, garante Djonga) que será posto à prova a partir do 19, quando ele começa a turnê de “Inocente”. O show deste álbum, lançado em outubro com excelente repercussão (foi a melhor estreia dos últimos tempos do Spotify no Brasil, com 50 milhões de streams em apenas 60 dias), começa em Belo Horizonte (no Arena Hall) e segue por Rio (dia 3/2, na Fundição Progresso), Porto Alegre (2/3, no Pepsi On Stage), São Paulo (9/3, no Audio Club), Curitiba (16/3, na Live) e Recife (dia 23/3, no Clube Português).

Aos 29 anos de idade, o rapper se destaca ainda como o mais jovem convidado que Zeca Pagodinho leva para seu show no Engenhão, no dia 4 de fevereiro, para a gravação de seu DVD de 40 anos de carreira (onde estará também ao lado de Alcione, Seu Jorge, Jorge Aragão, Xande de Pilares, Diogo Nogueira e Marcelo D2). Com Aragão, por sinal, Djonga gravou ano passado um dueto na música “Respeita” (e em 2021, com outro monumento do samba, Martinho da Vila, registrou o samba “Era de Aquarius”):

— O que eu mais gosto de ouvir é samba. Então, estar do lado dessas pessoas para mim é tipo um trofeuzão, um premiozão. São momentos muito importantes para mim como pessoa e de muito aprendizado como profissional — derrama-se. — E o mais legal não é o que os caras ensinam, é a gente ver que eles querem entender a gente também e aprender com a gente. Porque os caras contarem os causos e tal, isso é o normal, né? Mas os caras chegarem do nosso lado e terem humildade de querer ouvir... O Aragão falar “pô, é assim que você escreve, que doideira, cara!”... É por isso que eu sou muito fã deles!

Com as oito faixas de “Inocente” (seu sétimo álbum em seis anos de carreira fonográfica), Djonga promove uma mudança de rota na carreira de um artista normalmente visto como feroz e aguerrido. O disco abre com “5 da manhã”, uma terna canção de amor em meio à rotina nem sempre fácil da favela.

— É o rolê do cara que rala o dia inteiro na motoca, que só quer curtir um baile à noite e vive na expectativa de pegar a menina mas vai ficar só na vontade. E a última frase é “e hoje eu acordei às seis”. Então, é o loop da vida cotidiana — explica Djonga. — E “5 da manhã” é mais do que simplesmente um lovesongzinha, uma historinhazinha, é o dia a dia da periferia, da nossa rapaziada. E ter conseguido trazer isso de uma maneira mais leve foi importante para mim, no sentido de saber que eu consigo fazer isso também. Acho que essa é uma música tão forte e tão importante quanto várias outras minhas, que falam do cotidiano da nossa rapaziada, só que com outras palavras e outra roupagem.

Capa do álbum "Inocente", do rapper Djonga — Foto: Reprodução
Capa do álbum "Inocente", do rapper Djonga — Foto: Reprodução

Como de costume em seus álbuns, a capa de “Inocente” parodia a de algum LP célebre da música popular. No caso, o de “Perfect angel” (1974), no qual a cantora americana de soul Minnie Ripperton (1947-1979) aparece em clima solar, com um sorriso no rosto e um sorvete de casquinha, já meio derretido, nas mãos.

— Sempre que eu via aquela capa e ouvia as músicas desse disco, eu era remetido a uma coisa muito calma, mas, ao mesmo tempo, com um certo deboche. Acho que esse que esse era o lance do meu disco. O título do disco é um deboche para a galera que vai criticar. A mensagem está ali, é metalinguagem mesmo — diz. — Eu quis brincar com essa imagem do inocente, tanto que a contracapa traz o outro lado dessa inocência, porque o disco tem dois momentos. Eu pensei: “Vamos introduzir na galera de levinho nesse mundo, com as lovesongs, daqui a pouco vem a putaria, a zoeira, a noite”. E ele termina com o arrependimento em “Camarote”, uma coisa meio meio feliz, meio triste.

Assumidamente contraditório

Para Djonga, “Inocente” se refere, ao mesmo tempo, à inocência da criança que não sabe nada da vida e à inocência de quem não tem culpa de nada daquilo de que está sendo acusado. Porque o que não faltou para o rapper nos últimos meses foi gente pegando no seu pé.

— Quando eu fiz o show na pandemia (em dezembro de 2020, ele se apresentou para uma multidão no Complexo da Maré, no Rio), a galera foi para cima... mas sensação real de que vou ser cancelado, eu tenho é quando eu vejo um policial na rua — provoca ele, que no Lollapalooza de 2022 confrontou o seu próprio público ao saber que havia apoiadores de Jair Bolsonaro na plateia. — Para mim, isso não faz o menor sentido, parece até que hoje em dia as pessoas não prestam atenção nas letras. Às vezes tem muita gente que só gosta da melodia, gosta da vibe, gosta da batida, mas nunca parou para falar “tô cantando isso, mas olha o que isso tá dizendo!” Tenho minhas hipocrisias, minhas contradições, mas você achar normal uma pessoa falar que tem que dar um tiro na cabeça de outro, eu acho esquisito.

Mais até do que com o público, o compromisso de Djonga (ou melhor, de Gustavo Pereira Marques) é com a família. Em especial, com os dois filhos, que o acompanham em todo canto.

— Eles passam uma semana comigo, uma semana com as mães. Na semana em que estão com elas, apesar de a gente conversar bastante por vídeo, eu não posso nem ouvir uma criança chorando que já acho que são eles — emociona-se. — O Jorge gosta de futebol, é atleticano doente igual a mim, e agora quer andar vestido que nem eu, com correntinha e tudo. E a Iolanda é toda vaidosa, ela acha que ela é blogueira e fica em frente ao espelho falando “meninas, olha aqui a boneca que eu comprei...”

Djonga faz 30 anos de idade em junho. Mas se sente bem mais velho do que de fato é:

— Às vezes acho que tenho uns 98 anos! Porque, sei lá, é muita responsabilidade, de alguma forma eu sinto que fui obrigado pela circunstâncias a crescer mais rápido. Às vezes eu queria ser mais infantil, mais criança, deixar algumas coisas para lá, zoar mais... acho inclusive que minha carreira estaria em outro lugar se eu fosse mais foda-se... mas talvez também não estaria neste lugar, em relação ao respeito que as pessoas têm por mim.

Apesar de todas as conquistas na carreira, o rapper continua a achar a vida de artista de sucesso “um bagulho bizarro, meio desumano até”.

— Às vezes você fica longe da família muito tempo... e, no último show do ano, eu estava exausto de verdade. A galera acha que a gente é pesado, que fica o tempo todo falando sobre racismo e movimento social... Admiro quem é assim, quem consegue ser reto, sem contradição, sem defeito. Deve ser maravilhoso, mas eu tô longe disso!

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