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Luiz Gabriel Lopes e Carlos Posada se consolidam em novos discos

Compositores são gravados por colegas de geração e elogiados por veteranos como Lenine e Chico César

Luiz Gabriel Lopes, que lança “Mana”
Foto:
Divulgação
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Sillas Henrique
Luiz Gabriel Lopes, que lança “Mana” Foto: Divulgação / Sillas Henrique

RIO - Um é carioca, cresceu em Entre Rios (interior de Minas), se firmou em Belo Horizonte e hoje mora em São Paulo. Outro é sueco, cresceu no Recife e hoje mora no Rio. Luiz Gabriel Lopes (o “mineiro”) e Carlos Posada (o “pernambucano”) se aproximam não só pelas raízes espalhadas — na vida e na música. Ambos estão entre os compositores de sua geração (31 e 36 anos, respectivamente) que vêm consolidando suas carreiras em parcerias com colegas de sua idade e mestres como Lenine (Posada) e Chico César (Luiz Gabriel) e em trabalhos como os recentes “Mana” e “Posada e O Clã” ( leia críticas abaixo ).

Com canções gravadas em alguns dos discos marcantes de sua geração lançados em 2016 e 2017, de artistas como Juliana Perdigão, Maglore, Luiza Brina, Arthur Nogueira e Apanhador Só, Luiz Gabriel remarca em “Mana” sua personalidade de compositor. No álbum, se lança com leveza no ofício de bardo ourives, em canções que buscam iluminar a simplicidade com rara inteligência alegre.

— Não me interessa muito falar sobre o último ato dos vampiros do Congresso. Quero tratar mais de temas como o sentimento de comunidade, a integração latina, que atravessa de forma sutil algumas canções, algo que tem a ver com o imaginário hippie, a tentativa de simplificação, o terrorismo poético. A gente tem que ser o startup da utopia. Não adianta ficar contando os mortos. Tento me colocar menos no desespero com o agora e mais no mergulho visionário.

Fã de Björk, Alceu Valença e Leonard Cohen, Posada — que lançou no início de 2017 o álbum solo “Isabel” e agora o disco ao lado de sua banda Posada e O Clã — foi gravado por artistas como Aíla, Duda Brack, Júlia Vargas, César Lacerda, Chico Chico e Cicero, além do citado Lenine. Sua música traz uma dureza — reafirmada na sonoridade d’O Clã — suavizada pela surpresa luminosa que seus versos carregam (ora na forma, ora no que dizem, quase sempre nos dois). Como “Eu não trago na memória/ Nem troféu e nem abrigo/ Eu gosto é de varanda” ou “Tijolo tu já lê/ Já entende”.

— “Tijolo” eu peguei de uma história de Paulo Freire, do cara cuja primeira palavra que aprendeu a ler foi “tijolo” — diz. — Já “Jogo do bicho” vem de Almir Guineto, Marquinhos Satã. Fico felizão ouvindo esses sambas. Não gosto de música que me deixa triste, na qual a tristeza não se resolve. Então tento escrever canções que, mesmo que sejam tristes ou raivosas, não sejam mantras ruins. E gosto muito do real, mas ele é insuportável às vezes. Quero falar do amor e da dureza, como Cartola e Chico conseguiam.

CRÍTICA: ‘POSADA E O CLÃ’, DENSIDADE DE POESIA E TEXTURAS

Capa de 'Posada e O Clã' Foto: Divulgação
Capa de 'Posada e O Clã' Foto: Divulgação

O carregado sotaque pernambucano de Carlos Posada e sua poesia urbana com tom questionador são devidamente acompanhados por sua banda escolhida a dedo — os entrosados Gabriel Ventura, Hugo Noguchi e Gabriel Barbosa — que, no disco e, mais ainda, em shows, traz a densidade necessária para acompanhar a urgência dos versos. A pesada “Tijolo”, por exemplo, traz uma pegada suja, noise, enquanto a romântica “Doce” é um dos momentos em que Posada e seu clã convidam o ouvinte a dançar. A caótica “Mais que desejo”, que conta com a voz de Duda Brack, é outro ponto alto. (Luccas Oliveira)

Cotação: Bom

CRÍTICA: LUIZ GABRIEL LOPES E A FUNDAMENTAL ARTE DE CIRCULAR

Capa de 'Mana', de Luiz Gabriel Lopes Foto: Divulgação
Capa de 'Mana', de Luiz Gabriel Lopes Foto: Divulgação

Circulando, estudando, se conectando, criando e ouvindo. É enfatizando cada uma dessas missões com carinho e curiosidade que Luiz Gabriel Lopes se tornou um dos grandes compositores de sua geração, o que prova em “Mana”, um disco em que inspiração, originalidade e influências coexistem harmoniosamente. No trabalho de traços ruralistas e tropicalistas (sem soar datado ou retrô), Lopes reforça o orgulho do sangue latino-americano e exala seus mestres — Belchior, Caetano Veloso, Tom Zé — como mostra na sequência inicial que traz “1986”, “Apologia” e “Matança”. (L.O.)

Cotação: ótimo