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Crítica: Cardi B estreia em álbum com força e sem papas na língua

Ex-stripper e ex-participante de reality show, a rapper de ascendência dominicana lança 'Invasion of privacy'
A rapper americana de ascendência dominicana Cardi B Foto: Jorda Frantzis / Divulgação
A rapper americana de ascendência dominicana Cardi B Foto: Jorda Frantzis / Divulgação

RIO - Como muitas das celebridades de seu tempo, Cardi B foi de 0 a 100 num piscar de olhos: garota de origem dominicana do Bronx, em Nova York, ela fez parte de uma gangue de rua, começou a trabalhar como stripper, fez fama no Instagram e foi parar no reality show “Love and hip-hop: New York”. No meio disso tudo, a moça engrenou carreira como rapper: ano passado, desalojou a princesinha Taylor Swift do topo das paradas americanas de sucesso com uma de suas primeiras músicas, “Bodak yellow”, representante do nervoso, safado e sombrio estilo trap.

Aos 25 anos de idade, grávida (novidade anunciada sábado no programa de TV “Saturday Night Live”), ela lançou na sexta-feira o seu primeiro álbum: “Invasion of privacy”. Que, para a decepção dos seus possíveis haters , atesta que Belcalis Almanzar não chegou a esta altura para ficar no meio do caminho. Com 13 faixas, produção e convidados de primeira, alguma variedade musical e muita segurança nos raps, o disco é uma das mais poderosas estreias da história do hip-hop.

A rápida (mas nada fácil) trajetória rumo ao topo, Cardi B examina em “Get up 10”, faixa de abertura de “Invasion of privacy”. Conhecida por não ter papas na língua, superego ou qualquer tipo de autocontrole, a rapper lembra que um dia estava preparando sanduíches, no outro era notícia. E se compara a um pugilista, durante sua artilharia verbal nada desprovida de cadência: “Derrube-me nove vezes/ mas eu levanto dez.”

Daquelas rappers que se gabam de seram capazes enfiar um salto Loubotin na jugular das rivais, a estrela que dividiu o palco com Bruno Mars em janeiro na festa da entrega dos Grammys prova que tem muito mais trap de onde veio “Bodak yellow”: ela pega pesado também em “Drip” (com os Migos, grupo do qual faz parte o noivo, Offset), “Bardier Cardi” (com 21 Savage), “She bad” (com YG) e “Money bag”.

E se quiser falar de sexo, fale com a Cardi B. Craque em botar os homens em seu lugar, ela usa a palavra “pussy” como vírgula em “Bickenhead” e propõe uma brincadeira na cama com Rihanna e a modelo Chrissy Teigen em “She bad”. Já em “I do”, com SZA, ela ensina: “Garotas boas fazem o que dizem para elas fazerem/ Vadias más fazem o que querem”. Um pouco de coração (mesmo que partido) se faz presente nas faixas “Be careful” (um quase samba), “Ring” (balada com os vocais da musa do neo soul Kehlani) e “Thru your phone”, com letra sobre infidelidade, que Cardi B cospe em interpretação raivosa digna do bom Eminem.

Duro em sua opção pelo trap, “Invasion of privacy” oferece, no entanto, alguns respiros, como a latina “I like it” (algo como um “Havana” com mais pimenta e as participações de J Balvin e Bad Bunny) e “Be careful”, embelezada pelas melodias de Chance The Rapper. De uma maneira ou de outra, hit em potencial é o que não falta no disco.

Cotação: Ótimo