Cultura Música

Em novo disco, Gilberto Gil olha para a morte, a velhice e a família

Além de 'OK OK OK', Gil estreia programa de TV, compõe para Roberta Sá, prepara ópera e trilha de balé do Grupo Corpo
Além de ‘Ok ok ok’ e ‘Amigos, sons e palavras’, Gil compôs 12 canções para disco de Roberta Sá e prepara trilha sonora para Grupo Corpo e ópera Foto: Guito Moreto / Agência O Globo
Além de ‘Ok ok ok’ e ‘Amigos, sons e palavras’, Gil compôs 12 canções para disco de Roberta Sá e prepara trilha sonora para Grupo Corpo e ópera Foto: Guito Moreto / Agência O Globo

RIO — Na música “Cérebro eletrônico”, lançada em 1969, Gilberto Gil se opunha ao nascente computador (o tal cérebro eletrônico) afirmando sua humanidade: “porque sou vivo/ Sou muito vivo”. Hoje, quase 50 anos depois, o compositor segue muito vivo. Ele está lançando “OK OK OK” (Biscoito Fino), seu primeiro disco de inéditas desde “Fé na festa” (2010).

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No próximo dia 21, estreia ainda “Amigos, sons e palavras”, programa semanal do Canal Brasil em que conversa com convidados como Caetano Veloso, Fernanda Torres e Drauzio Varella. Gil também compôs todas as músicas do novo disco de Roberta Sá, que está no forno. Enquanto isso, trabalha numa ópera com Aldo Brizzi (“Amor azul”) e está criando a trilha do próximo balé do Grupo Corpo (“Gil”), que estreia no ano que vem.

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Mas a letra de “Cérebro eletrônico” prossegue com uma consciência que também ecoa forte hoje. “Sou muito vivo e sei/ Que a morte é nosso impulso primitivo”. Tanto o disco quanto o programa de estreia de “Amigos, sons e palavras”, com Caetano ( assista aqui ), tocam de forma recorrente em temas como a morte e a decadência do corpo trazida pela velhice (“Quase uma obsessão”, brinca o músico, que em 2016 atravessou um longo e delicado tratamento para problemas nos rins e no coração). Os temas passam ainda pela afirmação da energia da vida que ganha sentido maior com a consciência do fim, pela percepção da grandeza da descendência que se desenrola em filhos e netos, pela reflexão sobre a divindade — pela sabedoria do tempo, enfim.

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— É como o líder chinês falando da Revolução Francesa: “ainda é muito nova” — diz, aos 76 anos, entre risos. — Falar da morte é uma preocupação no sentido de me livrar de certos disfarces que a gente é levado muito facilmente a adotar com relação a essas questões. “Não vamos ligar pra isso. Saúde? Velhice? Morte?” Esse pragmatismo que nos leva a esse materialismo confuso que a gente tem aqui: “É tudo aqui agora, é tudo nossa capacidade funcional enquanto estamos incorporados neste corpo, a fala é apenas um desdobramento de nossa capacidade de estar no mundo”. É como se estivéssemos para sempre aqui neste mundo. Não estaremos — se emociona. — Isso é preciso ser lembrado, pelo menos para mim mesmo. E, como poeta que sou , ouso lembrar os outros.

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