Julio Maria
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Por , O GLOBO — São Paulo

Usadas pelo showbiz como sinônimo de anunciação grandiosa, início de ciclo e abertura de coisa próspera, as estreias não costumam ser vivenciadas pelos seres humanos exatamente como glórias. Às lágrimas, protagonizamos contrariados a estreia original assim que somos retirados do ventre materno. Aos gritos, fazemos nosso début social no dia em que nossas mães nos deixam no portão de uma escola. Assombrados, tentamos encaixar partes salientes de nossos corpos em outros corpos antes mesmo de descobrirmos que corpos são esses. As estreias seguem pela vida provocando tremores. São um deleite para quem assiste — veja o júbilo dos pais na selfie de boas-vindas de um mini-humano estreante com a alma ainda em download — e o mais incontrolável pavor para quem está nos holofotes.

Busco por um aprazível texto de estreia. Algo leve, fluido, que não queira brigar com ninguém. Que tal a ligação que vejo entre a bossa nova e, a partir de um entendimento enviesado de seu liberalismo formal, o consequente sucateamento generalizado do canto na música brasileira? Melhor não. Nada empático para uma estreia culpabilizar a bossa nova por alguma coisa em um jornal lido por Caetano Veloso. Seria como estrear no Chicago Tribune com uma reflexão sobre a importação que os bluesmen negros dos anos 1960 fizeram da figura do guitar hero branco inglês para tornarem o blues um produto de larga escala. Eles só devolveram na mesma moeda a apropriação dos brancos de tudo o que haviam criado, mas, até este parágrafo chegar, minhas contas já teriam sido violadas pelos fãs de Buddy Guy. E algo sobre o que de fato levou o sertanejo a se tornar a música de maior abrangência territorial de um país que já teve suas fronteiras demarcadas pelo samba? Estrear expondo confrontos ao samba na terra de Cartola e Dona Ivone Lara? E se Paulinho da Viola ler? Ainda não.

Se as estreias nos acovardam? Óbvio que sim. Ou alguém expõe suas sombras em um primeiro encontro romântico? Investiguemos os imortais: Elis Regina tinha 9 anos quando chegou ao Clube do Guri para estrear diante do microfone da Rádio Farroupilha, de Porto Alegre. “Não, mãe. Não quero mais”, disse, tensa e decidida a não dar um pio. Jimi Hendrix tocou tão enlouquecido dos nervos no primeiro show de sua vida que acabou sendo demitido no intervalo. A banda voltou ao palco sem ele. Ney Matogrosso foi chacoalhado pelo produtor Jorge Abicalil no dia em que gravou uma canção pela primeira vez: “Rapaz, você precisa relaxar... Cante igual ao Simonal!” Ivan Lins resolveu a agonia do batismo de outra forma: encheu a cara no bar da esquina antes de colocar voz em seu disco de estreia. E Miles Davis ouviu o seguinte depois de tocar seus primeiros temas para o professor Elwood Buchanan: “Não me venha com esse vibrato, menino. Toque seco e pare de tremer. Você vai tremer bastante quando ficar velho.”

Estreias nos fazem tremer em qualquer idade, e é justamente por isso que todas são deliciosamente aterrorizantes e vitais. Espetáculos íntimos da alma, elas têm o tamanho que lhes damos e se dividem em duas espécies. As estratégicas existem quando as provocamos. Acabo de me inscrever em um curso de lindy hop, uma dança dos salões de jazz dos anos 1930, imaginando meus primeiros rodopios públicos ao som da big band de Mark Lambert. Sim, ousado, ou não seria estreia. As insondáveis atropelam as previsões. Aceito em festa o convite do GLOBO para estrear em suas páginas disposto a tirar as palavras para dançar mesmo correndo o risco de pisar em alguns calos.

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