Cultura

'Framing Britney Spears': documentário mostra os efeitos do sexismo na carreira da cantora

No Twitter, artista se pronunciou pela primeira vez desde a estreia ao relembrar saudade dos palcos e como está aprendendo a ser uma 'pessoa normal'
Britney Spears, em Los Angeles, 2016 Foto: Mario Anzuoni / Reuters
Britney Spears, em Los Angeles, 2016 Foto: Mario Anzuoni / Reuters

Ser a princesa do pop e uma das grandes promessas musicais dos Estados Unidos levou Britney Spears a um período sem o controle de sua própria vida. A pressão da mídia, o sexismo que a cercava e uma indústria feroz que tentava extrair totalmente sua energia, tudo está exposto em "Framing Britney Spears", o documentário exibido pelo canal FX e produzida pelo "The New York Times", que vem mexendo com os fãs da cantora.

Ainda sem previsão de estreia no Brasil, a produção, dirigida por Samantha Stark, mostra como o excesso de fama conseguiu levar a estrela ao limite, a tornando prisioneira de sua própria realidade.

Na noite da última terça-feira, a cantora se manisfestou no Twitter sobre a produção, mas não entrou em detalhes sobre as polêmicas levantadas no documentário, exibido nos Estados Unidos na última sexta-feira.

"Não posso acreditar que essa performance de Toxic é de 3 anos atrás!!! Sempre adorarei estar no palco... Mas estou dedicando um tempo para aprender a ser uma pessoa normal... Adoro simplesmente aproveitar o básico da vida diária", escreveu ela. "Cada pessoa tem sua história e sua opinião sobre as histórias de outras pessoas!!!! Todos nós temos tantas vidas lindas e brilhantes. Lembre-se, não importa o que pensemos que sabemos sobre a vida de uma pessoa, isso não é nada comparado com a pessoa real que vive atrás das lentes".

Assédio

Sexismo é uma das coisas das quais Spears teve que lidar durante sua carreira e um dos temas mais abordados na produção. A loira de rosto angelical foi tratada com curiosidade desde que apareceu vestida de colegial no clipe de "Baby, One More Time", e a pressão para saber mais detalhes de sua vida amorosa e de suas mudanças físicas era constante. Entre os materiais mostrados no documentário, está a entrevista que concedeu ao apresentador Ed McMahon, na qual o interesse é saber se ela já estaria namorando e se já pensou em ter relações íntimas com seu parceiro, deixando de lado a conversa sobre sua carreira. Em outro vídeo, um motorista pergunta a ela sobre seus peitos e a repreeende quando a cantora se mostra desconfortável com a pergunta.

Além das entrevistas ao vivo com perguntas machistas, também são mostradas imagens de Spears ainda jovem suportando a perseguição constante de homens a fotografando dia e noite. Os paparazzi a perseguiam e a cercavam para tirar fotos em qualquer lugar que estivesse, além de a assediar com perguntas, a repreendendo quando não eram respondidos.

Até seu ex-namorado, Justin Timberlake, a colocou no local de objeto desejado. No videoclipe de "Cry Me a River" o cantor usou uma atriz muito parecida com sua ex em algumas cenas mais sensuais. Como se não bastasse, durante uma entrevista de rádio, se atreveu a revelar que foi ele quem tirou sua virgindade.

Free Britney

Durante anos, o mundo inteiro julgou as decisões da cantora, sem parar para analisar porque ela regia daquela forma. O constante sexismo, perseguição e humilhações públicas resultou na justiça tirando o controle de sua vida. Em 2008, seu pai, Jamie Spears, recebeu temporariamente a custódia e a tutela legal e financeira por "problemas de saúde mental".

Segundo o documentário, Jamie foi uma figura abusiva e tóxica para a artista, e o fato de ter assumido o controle de sua vida de forma tão aberta e com respaldo legal, é a prova de como o machismo continua presente na sociedade.

Durante a produção do documentário, figuras próximas a estrela, fãs, jornalistas e empresários musicais saíram em sua defesa.

- Não entendo para que serve a custódia, especialmente para alguém tão capaz de fazer tudo como eu sei que ela é - disse Felicia Culotta, ex-assistente e amiga de Britney.

Entre as pessoas que se pronunciaram em defesa da cantora estão Hayley Hill, sua ex-stylist entre 1997 e 2001; a agente de talentos infantis Nancy Carson; Kim Kaiman, diretora de marketing de sua primeira gravadora; e a advogada Vivan Lee Thoreen, cujo cliente era o pai de Britney.

Apesar de tudo que ela enfrentou, a história serviu para marcar o caminho de outras estrelas pop como Ariana Grande, Taylor Swift e Billie Eilish, que encontraram um mundo muito mais fácil do que sua colega, sendo capazes de lidar com suas próprias vidas e falar sobre seus problemas pessoais sem serem julgadas por isso.

No dia 11 de fevereiro, os tribunais irão analisar novamente o caso de Britney e determinar se ela voltará a ter controle sobre seu dinheiro e suas decisões. Caso a decisão seja favorável a ela, Britney será capaz de responder pela própria vida depois de muito tempo.