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‘No final do século XX, o público japonês foi confrontado com um evento televisivo extraordinário”, avisa a cartela inicial de “O competidor”, título que abre nesta quirta-feira (4) em São Paulo a 29ª edição do “É Tudo Verdade” — a versão carioca será inaugurada nesta quarta (3) com “Um filme para Beatrice”, de Helena Solberg. O acontecimento em questão era “Denpa shonen — A life in prizes”, um novo estilo de game show, lançado em 1998 por uma emissora de TV local, com regras rígidas e controversas: nu e isolado em um apartamento desprovido de confortos, o participante deveria preencher sorteios de uma pilha de revistas para ganhar o que precisava para sobreviver, incluindo comida, até atingir o total do prêmio de um milhão de ienes. Detalhe: o jogador não sabia que o seu cotidiano estava sendo exibido semanalmente em rede nacional.

O desafio foi aceito por Tomoaki Hamatsu, um então jovem aspirante a comediante de stand-up, que saiu direto de um teste aleatório na emissora para o regime de confinamento do “Denpa shonen”, considerado um dos precursores dos reality shows que conhecemos hoje, como o Big Brother. Por meio de entrevistas e imagens de arquivo, o filme da diretora britânica Clair Titley reexamina as circunstâncias da celebridade de Hamatsu, mais conhecido pelo apelido de infância, Nasubi (que significa “berinjela”, em alusão ao seu rosto comprido), e o comportamento do produtor Toshio Tsuchiya, criador do show, que prendeu a atenção de mais 15 milhões de pessoas ao longo de 15 meses. “O competidor” ganha primeira sessão carioca na sexta, às 20h30, no Estação Net Botafogo.

Clair, por e-mail ao GLOBO, comenta ainda a participação do público na transformação da vida privada em espetáculo:

A cineasta Clair Titley — Foto: Divulgação
A cineasta Clair Titley — Foto: Divulgação

— As pessoas riem das situações do filme, e depois se sentem culpadas por fazer isso. Mas é bom. Deveríamos questionar os papéis que desempenhamos nesse contexto.

Você acompanha algum reality show? Qual é a sua relação com o gênero?

Sou fascinada pela linha que em que os reality shows e o documentário podem se esbarrar, e pelo que é a verdade na tela. Acho que está inextricavelmente ligado à revolução das mídias sociais da última década. A citação de Andy Warhol dos anos 1960 sobre todos no futuro terem 15 minutos de fama ainda parecia distante no final dos anos 1990. Naquela década, o reality na TV tornou isso acessível para alguns. E agora qualquer um pode ter seu próprio canal no YouTube e ser uma estrela. Hoje divulgamos nossas informações e identidade gratuita e diariamente nas redes. Adoraria que as pessoas assistissem a este filme e questionassem a sua própria relação com os meios de comunicação social — bem como com as redes sociais.

Há pouco material documental sobre o caso Nabusi.

Havia alguns documentários no estilo YouTube sobre o “Denpa shonen”. Mas, fora um bom segmento do podcast “This american life”, pouco foi feito profissionalmente sobre o caso. Provavelmente, se deve em parte ao fato de ser difícil licenciar imagens do programa. Muito do material que existia parecia abordar a excentricidade cômica do programa.

Muitos acham que o programa criado por Tsuchiya envolvia algum nível de tortura. Você se sentiu tentada a julgar o comportamento dele na época?

Não nos contivemos no nosso questionamento e, para dar crédito a Tsuchiya, ele foi honesto e direto durante toda a entrevista. Até dissemos a ele que estava brincando de deus com Nasubi, e ele responde que era mais um demônio do que um deus! O que fizemos foi dar-lhe espaço para tentar explicar por que fez o que fez na época e se achou aquilo correto. Ao incluir isso, não estou sugerindo que concordo que o que ele fez foi certo. E também não senti necessidade de dizer ao público que o que ele estava fazendo era errado. Eles podem descobrir isso ou fazer esse julgamento sozinhos. Não queria dizer às pessoas o que pensar, como sentir, ou ser outro ocidental apontando e julgando com base em minhas experiências. Se o público se sentir ambivalente em relação a Tsuchiya, é mais interessante. Estamos tão acostumados a contar histórias no preto e no branco, o bem contra o mal, o certo contra o errado, mas às vezes é o cinza que é o mais interessante.

O que achou de extraordinário na história de Nasubi, a ponto de fazer um filme a respeito?

Conheci a história dele quando fazia pesquisas por um outro projeto, muitos anos atrás. Havia esse material sobre o programa em si, mas ninguém tinha falado com Nasubi, perguntado sobre como ele se sentia sobre isso, como o programa o afetou, enfim, por que ele aceitou as condições do programa e ficou lá. Queria conhecer esse lado dele na história e contei isso para ele quando fizemos o primeiro contato. Embora ele não tenha tido controle editorial sobre “O competidor”, trabalhamos juntos para contar a história dele. À medida que conversávamos, ficou claro que ele não havia refletido muito sobre o que aconteceu na época.

Você conviveu muito com Nasubi ao longo dos sete anos de produção do documentário. Entende agora por que ele se ofereceu sem hesitar e questionar para o reality de Toshio Tsuchiya?

Eu não diria que não houve hesitação por parte dele — Nasubi estava inquieto com a ideia de participar, principalmente por ter que ficar nu. Mas ele era jovem e ingênuo. Ele fazia questão de agradar às pessoas, é um tipo de pessoa obediente. Também queria progredir na carreira de alguma forma, naquele início. E ele estava tão confiante — confiante demais! Vale lembrar também que não havia nenhum precedente real naquele momento da televisão. Hoje assistimos a imagens de “Denpa shonen” com duas décadas de história de reality shows atrás de nós, mas Nasubi não tinha isso. Nem o público da época.

Como você convenceu tanto Nasubi quanto o produtor Tsuchiya a participar do projeto?

O consentimento foi uma parte importante do meu processo de abordagem desse filme. Conversei sobre cada etapa do filme com Nasubi, que esteve muito envolvido nele todo o tempo. Parecia um esforço colaborativo. Na verdade, foi Nasubi quem convidou Tsuchiya para participar do filme, e acredito que o produtor tenha aceitado participar por causa dele.

Juliet Hindell, correspondente da BBC no Japão à época do programa de TV, e que cobriu a comoção causada por ele na época, funciona como personagem e uma espécie de testemunha ocular do episódio.

Juliet não estava no primeiro corte do filme. Eu estava muito ansiosa para incluir qualquer tipo de voz ocidental porque sentia fortemente que não queria que um historiador, ou qualquer tipo de estranho, dissesse ao público o que pensar ou recontasse a história dessa perspectiva. Fiquei especialmente consciente disso diante da reação da mídia ocidental daquela época, que parecia querer rir dos japoneses. Mas Juliet não é uma estranha. Embora ela seja estrangeira, ela está muito inserida na história como correspondente estrangeira da BBC que fez reportagens sobre o assunto na época. Na verdade, ela é parte integrante da história, sendo a única na plateia do capítulo final do programa a perguntar diretamente sobre a saúde mental de Nasubi. O contexto que ela traz para o filme é importante e senti que tínhamos justificativa em adicionar sua voz. Ela é uma participante da própria história — não uma narradora.

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