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Por — Berlim

É inverno no Hemisfério Norte, a temperatura ao ar livre não passa dos 8 graus positivos, mas Adam Sandler entra na sala de um hotel de luxo da capital alemã vestindo uma camisa florida sob um moletom lilás, com faixas coloridas na altura do tórax. A camisa de estampa havaiana é um clássico do guarda-roupa do ator e comediante de 57 anos que, apesar de ser um dos nomes mais poderosos de Hollywood, com dezenas de sucessos no currículo, costuma promover seus trabalhos, sem qualquer tipo de artifício, como se estivesse indo a um jogo de basquete, um de seus esportes prediletos.

E é assim, confortável na própria pele, que Sandler se propõe a defender as virtudes e os desafios de “O astronauta”, ficção científica sobre um cosmonauta em crise existencial que está na grade da Netflix. Dirigido pelo sueco Johan Renck (o premiado diretor da série “Chernobyl”), o filme representa uma nova investida do astro de comédias ligeiras e amalucadas a exemplo de “Como se fosse a primeira vez” (2004) e “Gente grande” (2010) no terreno do drama. Os fãs sentirão falta das vozes irritantes e das feições franzidas criadas pelo ator de que críticos adoram desdenhar.

— Eu me sinto bem com todas as escolhas que fiz. Meu primeiro amor sempre foi a comédia. Gosto de fazê-las, daqueles tons. Recentemente coloquei a voz em “Leo”, uma animação para crianças, que ajudei a escrever e produzir. Ficava maravilhado quando um pai ou uma mãe vinham me dizer que passaram momentos divertidos juntos com os filhos. Isso me faz sentir melhor do que qualquer crítica — explicou Sandler durante o Festival de Berlim em fevereiro, onde “O astronauta” ganhou première mundial. — Mas fazer algo diferente, como o filme de Johan, é muito recompensador. É um desafio para mim e para o tipo de trabalho que faço.

Adaptação do romance “Spaceman of Bohemia”, de Jaroslav Kalfar, “O astronauta” se passa num futuro alternativo em que os tchecos são os pioneiros da corrida espacial. O grande herói dessa disputa intergaláctica é Jakub (Sandler), cosmonauta enviado em missão solitária aos arredores de Júpiter para investigar uma nuvem de poeira cósmica que pode conter os segredos do Universo. O casamento com a sua esposa grávida, Lenka (Carey Mulligan), está por um fio, e Jakub é consumido pela angústia. É aí que entra em cena uma enorme aranha espacial (dublada por Paul Dano), que se oferece para ajudá-lo em sua viagem emocional.

Jakub é órfão e um integrante do Partido Comunista, criado no interior da República Tcheca pelos avôs, que supera todas as adversidades e se torna o primeiro cosmonauta do país. Ambicioso, prioriza o trabalho e por isso passa muito tempo longe de casa, às vezes meses seguidos, o que acaba provocando desgastes no relacionamento. A fama também pode levar um artista ao mesmo lugar de solidão, admite Sandler, mas isso não é exclusividade de quem lida com a arte.

— Quem faz da carreira uma prioridade está sujeito a passar pela mesma angústia, independentemente da área em que atua. Ela pode levá-lo para longe da família, dos amigos e do mundo que você conhecia. Me sinto sendo lembrado do tempo que passo filmando, muitos meses, às vezes. Felizmente, a maior parte do tempo tenho podido trabalhar na companhia de amigos e até da família — disse o ator, cuja inclinação para a comédia começou a ganhar visibilidade no programa de esquetes humorísticos “Saturday night live”, nos anos 1990.

Sandler fala sério quando se trata de amigos e da família. Quase toda ela — incluindo a esposa, Jackie, e duas filhas do casal, Sadie, de 17, e Sunny, de 14, e sua mãe, Judy, de 85 — participou de “Você não tá convidada pro meu bat mitzvá!” (2023), comédia dirigida por Sammi Cohen. Os amigos que a profissão trouxe também são essenciais na carreira do ator, formam um grupo muito unido que surge aqui e ali na filmografia do americano: Rob Schneider, ex-colega de bastidores no SNL, participou de 18 longas-metragens; Steve Buscemi, 15; David Spade, 12.

— Quando não é possível estar cercado das pessoas que convivem comigo, eu questiono tudo o que estou fazendo naquele momento. Fico atento se estou me sentindo sozinho, se estou me afastando de todo mundo, se sinto falta de um som, de pessoas que me façam perguntas. E é nisso que “O astronauta” mergulha. O filme questiona exatamente o que você considera importante para si mesmo, quais portas você está fechando ao tentar derrubar outras e coisas assim — entende, Sandler, que passou grande parte das filmagens isolado em um estúdio tcheco, contracenando com objetos de cena.

Adam Sandler em 'O astronauta', filme que estreia na Netflix — Foto: Divulgação
Adam Sandler em 'O astronauta', filme que estreia na Netflix — Foto: Divulgação

‘O fígado infinito’

Com “O astronauta”, Sandler se junta à linhagem recente de filmes sobre homens solitários perdidos no espaço, como Matthew McConaughey, em “Interestelar” (2014), Ryan Gosling, em “O primeiro homem” (2018), e Brad Pitt em “Ad astra — Rumo às estrelas” (2019)”. Um dos pioneiros continua sendo Donatas Banionis, o psiquiatra de “Solaris” (1972), de Andrei Tarkovsky. Como a maioria dos garotos de sua geração, Sandler imaginava que poderia vir a ser um astronauta da Nasa, a agência espacial americana. Mas do que isso: queria salvar o mundo:

— Na verdade, quando criança, eu desejava duas coisas. Queria ser astronauta porque tinha um boneco de cosmonauta, e brincava com ele. Mas eu também tinha um kit de química e pensei em criar uma pílula chamada “o fígado infinito”, que evitaria que as pessoas morressem — lembrou o ator. — Eu dizia para o meu pai: “Vou fazer o ‘fígado infinito’ porque não quero que o senhor morra”. Era assim o tempo todo, trabalhei nesse “projeto” até os meus 10 anos. Mas, claro, nunca consegui ser astronauta ou inventar a fórmula do fígado infinito.

“O astronauta” é o 12º filme que Sandler protagoniza para a Netflix, com quem assinou um contrato milionário. Segundo a Forbes, ele foi o ator que mais ganhou dinheiro em Hollywood no ano passado: R$ 360 milhões. Além disso, é um dos poucos talentos que têm carta branca do poderoso streaming para escolher seus projetos.

Vencedor do prêmio de melhor ator do Independent Spirit Award por “Joias brutas” (2019), de Ben e Josh Safdie, tem alternado mais comédias geracionais como “Os Meyerowitz — Família não se escolhe” (2019), de Noah Baumbach, com comédias dramáticas, como “Arremessando alto” (2022), de Jeremiah Zagar. O sucesso delas torna outros projetos mais “ousados”, como o drama cósmico de Johan Renck.

— Sim, é importante que meus filmes façam sucesso. Mas nós trabalhamos juntos. Não sento e anuncio que projeto quero fazer, não é tão simples assim. Converso muito com as pessoas da Netflix, e sou muito próximo de Ted (Sarandos, diretor executivo da empresa). Tenho muitos companheiros lá dentro, que me ajudam a tomar decisões. Todos ficaram muito animados quando surgiu a proposta para fazer “O astronauta”, por exemplo. Era algo totalmente diferente, que nunca havia imaginado fazer na vida, e todos tiveram a mesma reação que eu. Mas nunca o teria feito sem o apoio deles.

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