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Por — São Paulo

Com duas horas e 35 minutos, sir Ridley Scott faz de seu “Napoleão” — a partir de hoje em pré-estreias país afora e no circuito na quinta-feira — dois filmes num só. Há o épico histórico, deslumbrante. E a história de amor entre Napoleão e Josefina, meio sonolenta. Estimado em US$ 200 milhões, o épico tem na precisão técnica característica do diretor de “Alien” e “Blade Brunner” sua maior razão de ser (visto). Cenas de batalhas icônicas merecem ser apreciadas em sala Imax com som de primeira. As imagens da cavalaria russa engolida pelo gelo após tiros de canhão franceses em Austerlitz já nasceram antológicas. Cinemão, como se estivéssemos no longínquo ano 2000, antes da fragmentação do streaming, quando Scott e seu agora protagonista, Joaquin Phoenix, trabalharam juntos pela primeira vez, num certo “Gladiador”.

— Joaquin é bom para mim, pois me mantém honesto. E eu sou bom pra ele, pois o mantenho na linha. Fisicamente ele é perfeito para o papel, algumas de suas características faciais são surpreendentemente semelhantes às de Napoleão — disse o diretor durante as filmagens.

Scott, que completa 86 anos semana que vem e prepara um versão de “Napoleão” com 4h30 para a Apple TV+, ainda sem data de lançamento, conta que teve uma revelação ao ver “Coringa”. Phoenix, com quem não falava desde o set de “Gladiador”, tinha de ser seu Napoleão:

— Veio a memória de como ele entendeu a jornada do personagem em “Gladiador” (inspirado no imperador romano Cômodo) e falei alto no cinema: “Caramba, é ele!”

Em longo perfil na mais recente edição da revista New Yorker, ele diz ter torcido o nariz para “a celebração da violência” do longa de Todd Phillips sobre o inimigo do Batman mas ficado de queixo caído com a interpretação do ator, que ganhou o Oscar pelo personagem. Mas Scott reforçou que “não disse a ele nada disso, para Joaquin não se sentir importante demais”.

Ironia que é puro suco de Ridley Scott. Afinal, poucas figuras históricas são tão definidas por sua arrogância quanto a de seu biografado. Napoleão foi o primeiro Senhor da Guerra do mundo ocidental moderno, responsável pela perda de ao menos três milhões de vidas em suas campanhas militares.

Xadrez político

Scott começa o filme em 1789, com Maria Antonieta perdendo a cabeça na guilhotina. Liberdade poética, no filme o soldado raso de 20 anos testemunha com atenção a decapitação da rainha. E move-se em seguida com maestria no convoluto xadrez político pós-Revolução Francesa. General aos 24, imperador aos 35, vira o mapa da Europa pelo avesso e só é de fato batido três vezes.

Sobre filmar detalhes que escapam ao rigor histórico, o diretor responde com um característico “que se danem!” aos críticos. Duas derrotas de Napoleão são registradas de forma magistral. A pelo General Inverno, ao tentar conquistar a Rússia a qualquer custo, com cenas impressionantes de Moscou em chamas. E o fiasco definitivo, em Waterloo, pela coalizão britânica-germano-holandesa liderada pelo Duque de Wellington, papel de Rupert Everett. A reprodução da formação em quadrado da artilharia britânica e o consequente pânico da cavalaria francesa lembram os mais sofisticados videogames de estratégia. E não escapa ao espectador, é claro, o fato de este Napoleão da tela grande ter sido gestado por um inglês.

Curiosamente, uma das principais influências de Scott (“Alien” é filho assumido de “2001, uma odisseia no espaço”), Stanley Kubrick passou dois anos quebrando a cabeça para entender como levaria seu Napoleão (papel de Jack Nicholson) ao cinema no começo dos anos 1970. Desistiu.

Scott leu o esboço de roteiro do americano (base da série que Steven Spielberg desenvolve no momento para a HBO), não se impressionou e disse que “o meu não tem nada a ver com o dele”. E que sua paixão pela França vem de longe, desde quando, aos 18 anos, mochilou com dois amigos pela Riviera. Hoje, passa boa parte do tempo no país, onde tem vinícola premiada, localizada ao lado do set de “Um bom ano”, sua ode de 2006 à vida no interior francês.

Seu primeiro longa, premiado em Cannes, “Os duelistas” (1977), livre adaptação de texto de Joseph Conrad sobre a insanidade das rivalidades, se passa nas Guerras Napoleônicas e “é sobre Napoleão, mesmo ele não aparecendo no filme”. Já “O último duelo” (2021) tem a mesma Dordonha como cenário. Foi durante as filmagens que ele decidiu ter chegado a hora de “contar a vida do maior francês na História”.

‘Gladiador 2’

A primeira apresentação pública de “Napoleão” foi em Paris, há uma semana, para 2.500 convidados. Scott surgiu na imprensa francesa ainda mais eufórico do que seu Napoleão após Austerlitz. Revelou na ocasião que já editou 1h30 de “Gladiador 2 ”, “metade do filme”, e que retomará este mês as filmagens, interrompidas pela greve dos atores em Hollywood. O filme será lançado ano que vem, com Paul Mescal, Denzel Washington e Pedro Pascal, além de Derek Jacobi e Djimon Hounsou de volta, respectivamente, como o senador Graco e o gladiador Juba.

Subestimado pelos críticos, “Gladiador” virou fenômeno de bilheteria, com quase meio bilhão de dólares mundo afora, e foi premiado com cinco Oscars, inclusive o de melhor filme (mas não o de diretor, estatueta que o responsável por “Thelma & Louise” jamais ganhou). Sua segunda megaprodução de época, oito anos após o fracasso de “1492 — A conquista do paraíso”, é percebida pela crítica como responsável por uma reinvenção central de sua carreira. Depois viriam “Cruzada” e “Êxodo: deuses e reis”, reconstituições igualmente grandiosas mas menos exitosas, dos conflitos entre cristãos e muçulmanos na Idade Média e do capítulo do Antigo Testamento.

Seu “Napoleão” fica no meio do caminho. Impressionante lição visual de História que inevitavelmente martela na cabeça os horrores de conflitos que acontecem do lado de fora da sala de cinema, de Gaza e Israel a Ucrânia e Congo, o filme só perde a batalha de atenção da audiência ao tentar humanizar seu protagonista.

É quando as câmeras se posicionam em buracos de fechadura que escancaram a vida íntima do autoproclamado Imperador da França com Josefina de Beauharnais, encarnada por Vanessa Kirby, a jovem princesa Margaret das duas primeiras temporadas de “The Crown”. O diretor namora com o tragicômico, em momentos como o da guerra de comidas atiradas a esmo na mesa de jantar do Palácio de Versalhes. E sem fazer rir nem gerar comoção pelo casal, em meio a traições inconsequentes, perdões improváveis e divórcio motivado pela incapacidade de se gerar um herdeiro, Ridley Scott oferece caminho possível, ainda que nublado, para se entender as contradições de um personagem maior do que a vida.

Quando conversou com a imprensa por “Rede de mentiras”, de sir Ridley Scott, lá se vão 15 anos, Leonardo DiCaprio comparou o estilo do inglês com o de seu parceiro mais constante, Martin Scorsese (com quem está em cartaz no momento pelo celebrado “Assassinos da lua das flores”). O que veio à cabeça do ator foi a palavra adrenalina.

Diferentemente de Scorsese, que pensa e repensa cada take, e exige a parceria do ator nas cenas, contou DiCarprio, Ridley chega ao set com “o filme já todo editado na cabeça, controlando as cinco ou seis câmeras que te registram dos mais variados ângulos, sabendo tudo o que acontece o tempo todo”.

Imenso, com cenas que contaram com 11 câmeras, como a da Batalha de Waterloo, “Napoleão” foi filmado em apenas 62 dias por um diretor que confessadamente tem horror à ideia de comandar dezenas de takes e discutir ao infinito a essência dos personagens com os atores. Um dos méritos de Joaquin Phoenix é justamente o de conseguir imprimir sua assinatura em um filme que berra a notória onipresença de Scott.

No perfil da New Yorker, um dos consultores de “Napoleão”, o historiador e “bonapartólogo” Michael Broers, da Universidade de Oxford, brinca, a sério, que Scott “está sempre no comando e te faz confiar nele até o fim”.

Pois dez dias antes do início das filmagens de “Napoleão”, Phoenix procurou Ridley para se dizer “agoniado” por não saber como fazer seu Napoleão. Os dois, disse o diretor, passaram 12 horas seguidas analisando o personagem, cena a cena. Até decidirem que iriam retratar um personagem às voltas, ele também, com agonia aparentemente insolúvel: a de lidar com a contradição de suas facetas privada e pública.

Phoenix se equilibrou então entre o viril e o frágil, o ousado e o carente, o líder e o homem da baixa nobreza com complexo de rejeição (o filme não trata, no entanto, do chiste sobre a altura do mito, com a única referência a personagem “baixinho” feita sobre a segunda mulher do imperador, a mignon Maria Luísa da Áustria). Sua interpretação, que tem recebido elogios da crítica, é onde a minuciosa investigação de Ridley Scott das faces do “Napoleão” melhor se resolve.

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