Filmes
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Era 1998, e a Netflix era somente uma recém-criada empresa americana de aluguel de DVD por correspondência. “Titanic” levou 16 milhões de brasileiros aos cinemas, “Central do Brasil”, de Walter Salles, ganhou o Urso de Ouro em Berlim, e “Cinderela baiana”, com Carla Perez, foi detonado pelos críticos que demoraram a perceber seu potencial cult.

Esse contexto pode soar estranho demais para quem tem menos de 25 anos. Mas é preciso entender que a fundação da Globo Filmes naquele ano foi apoiada pela crença de que, apesar do baixo investimento do início daquela década, o cinema brasileiro iria dar certo. Um quarto de século depois, a empresa se consolidou como a maior coprodutora de filmes nacionais, com um público acumulado de 260 milhões de espectadores e um portfólio de 500 obras, que variam de Xuxa ao diretor Kleber Mendonça Filho.

— Quando “Aquarius” e “Bacurau” foram realizados com a participação da Globo Filmes, senti que houve uma quebra muito positiva. Os filmes que eu faço passarem a ter um palco dentro da ideia do cinema brasileiro como indústria do audiovisual — recorda o pernambucano Kleber. — Os filmes de Pernambuco eram tratados como regionais. A parceria com a Globo Filmes deu a eles o verniz que sempre tiveram: de obras brasileiras e universais.

Criada a partir da TV Globo, a Globo Filmes surgiu no fim de uma década de montanha-russa para o cinema. Em 1990, assim que assumiu, o presidente Fernando Collor de Mello extinguiu a Embrafilme, antiga estatal de fomento à produção nacional. O efeito foi que a produção minguou, pouquíssimos conseguiam financiar um longa-metragem.

Mas aí, na metade do governo Collor e no início do governo Itamar, foram criadas as leis Rouanet e do Audiovisual. Eram mecanismos que incentivavam empresas diversas a patrocinar a cultura em troca de um percentual em isenção de impostos. Foi o ponto de partida do que os historiadores do cinema chamam de Retomada, quando foram realizados “Carlota Joaquina” (1995, de Carla Camurati), “O quatrilho” (1995, de Fábio Barreto), e “O que é isso, companheiro?” (1996, de Bruno Barreto).

Colaboração criativa

A Globo Filmes, então, resolveu apostar num modelo de se associar a outras produtoras brasileiras, a fim de viabilizar os projetos que voltavam a aparecer na Retomada. A estreia da empresa foi com “Simão, o fantasma trapalhão” (com Renato Aragão dirigido pelo seu filho Paulo Aragão), que chegou a 246 salas de cinema em dezembro daquele ano, manteve-se em cartaz por semanas de 1999 e alcançou um público de 1,6 milhão de pessoas. No ano seguinte, veio “Orfeu”, de Cacá Diegues. Dois anos depois, “O Auto da Compadecida”, de Guel Arraes. Em 2001, “Xuxa e os duendes”, de Paulo Sérgio de Almeida e Rogério Gomes.

Série de cartazes feitos para os 25 anos da Globo Filmes: 'O Auto da Compadecida' — Foto: Arte
Série de cartazes feitos para os 25 anos da Globo Filmes: 'O Auto da Compadecida' — Foto: Arte

Todos os gêneros foram bem-vindos. Dramas como “Cidade de Deus” (2002, de Fernando Meirelles) e “2 filhos de Francisco” (2005, de Breno Silveira) tiveram tanto espaço quanto comédias como “Minha mãe é uma peça” (2013, de André Pellenz) e “Saneamento básico” (2007, de Jorge Furtado). Seu catálogo inclui do documentário “Cartola” (2007, de Lírio Ferreira e Hilton Lacerda) ao infantil “Turma da Mônica: Laços” (2019, de Daniel Rezende). A empresa participou tanto de uma obra sobre um lutador, “Mais forte que o mundo: A história de José Aldo” (2016, de Afonso Poyart), quanto de outra sobre um guerrilheiro, “Marighella”, (2021, de Wagner Moura).

— A Globo Filmes é a produtora que mais respeita artista e autores. Ela sugere, participa, modifica, mas sempre respeitando as ideias e a autoria. Isso se reflete na qualidade e na diversidade dos filmes — diz Jorge Furtado.

Entre as ações para celebrar o aniversário, a Globo Filmes encomendou a artistas brasileiros 25 novos cartazes sobre obras como “Medida provisória” (2022, de Lázaro Ramos), “Tropa de Elite 2” (2010, de José Padilha) e “Carandiru” (2003, de Hector Babenco). Além disso, a empresa reafirma sua crença no cinema com 15 novos filmes exibidos no Festival do Rio, que começa nesta quinta-feira, 5 de outubro.

— O VoD (sigla de Video on Demand, onde o espectador escolhe o que assistir em serviços como o Globoplay) cresceu muito a partir da pandemia. Mas, para nós, a principal janela é a sala de cinema, até mesmo no nosso faturamento — afirma Simone Oliveira, head da Globo Filmes. — Como grupo, a Globo acredita que, se a janela do cinema for forte para um filme, ele tem muito mais chance de ter bom resultado em outras janelas.

Em defesa da volta da cota de tela

A Globo Filmes tem, só para este ano, mais dez lançamentos programados, entre eles “Mussum: O Filmis”, de Silvio Guindane; “Meu nome é Gal”, de Dandara Ferreira e Lô Politi; “Nelson Pereira dos Santos: Uma vida de cinema”, de Aída Marques e Ivelise Ferreira; “Ó paí, ó 2”, de Viviane Ferreira; e “Pedágio”, de Carolina Markowicz.

O que preocupa, no entanto, é a demora do Congresso em votar as novas regras de cota de tela, um mecanismo que exige dos exibidores um mínimo de tempo de filmes brasileiros nas salas de cinema. É uma proteção comum em vários países, e que teve sua primeira versão no Brasil criada na década de 1930, mas que não foi renovada no governo Bolsonaro.

Em julho, mais de 80% das salas brasileiras foram dominadas por apenas dois longas-metragens de Hollywood, “Barbie” e “Oppenheimer”. Em 2019, “De pernas pro ar 3” (da diretora Julia Rezende), coprodução da Globo Filmes que vinha tendo um ótimo resultado de público, com mais de 1 milhão de ingressos vendidos em duas semanas, foi varrido dos cinemas quando “Vingadores: Ultimato” estreou ocupando 92% das telas.

— A cota de tela é um dos motivos de a Coreia do Sul ter um cinema tão representativo hoje — explica Simone Oliveira, head da Globo Filmes. — A cota dá opção ao consumidor. Se tivermos a maioria das salas do país ocupadas por um ou dois lançamentos americanos, o espectador não terá como assistir ao filme brasileiro.

Nos próximos anos, diz Simone, a Globo Filmes vai seguir com a busca de projetos que mostrem a diversidade do cinema nacional, mas com um volume um pouco menor de produção:

— Houve momentos nesta trajetória em que a gente lançou mais de 40 filmes num ano. Mas agora nós queremos realizar um portfólio que permita mais retorno aos filmes e que nos possibilite pensar um a um, e sem perder a diversidade dentro e fora das telas. Temos o objetivo de lançar 13 filmes de ficção e quatro documentários por ano.

Para o ano que vem, a Globo Filmes tem programados lançamentos como “Clube das mulheres de negócios”, de Anna Muylaert; “Motel Destino”, de Karim Aïnouz; “As polacas”, de João Jardim; “Elza”, de Eryk Rocha; e “Minha irmã e eu”, de Susana Garcia.

— A Globo Filmes teve um enorme papel reconhecendo o potencial de “Que horas ela volta?”, o que acabou aumentando seu circuito e a possibilidade de o filme chegar a mais gente. Foi fundamental para que ele tomasse o tamanho que tomou — lembra a diretora Anna Muylaert, sobre seu filme de 2015 que ganhou prêmios em festivais como Berlim e Sundance.

Série de cartazes feitos para os 25 anos da Globo Filmes: 'Medida Provisória' — Foto: Arte
Série de cartazes feitos para os 25 anos da Globo Filmes: 'Medida Provisória' — Foto: Arte

Outra obra da Globo Filmes prevista para 2024 é “Grande sertão”, adaptação urbana de Guel Arraes para “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa. Guel, que foi diretor de núcleo da TV Globo, é um profundo conhecedor da Globo Filmes: seus longa-metragens “O Auto da Compadecida” (2000), “Caramuru: A invenção do Brasil” (2001), “Lisbela e o prisioneiro” (2003), “Romance” (2008) e “O Bem Amado” (2010) tiveram participação da empresa.

— A Globo Filmes ajudou a criar uma ponte muito importante entre a TV e o cinema no Brasil — avalia Guel. — Ela foi fomentadora da exibição de cinema nacional na TV Globo, contribuiu artisticamente para o cinema brasileiro com produções próprias e de seus artistas contratados, e ajudou e vem ajudando o cinema e a TV a se tornarem parceiros.

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