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Por Lucas Salgado — Rio de Janeiro

Em seus primeiros 20 minutos, “Babilônia”, novo projeto do diretor Damien Chazelle, vencedor do Oscar por “La La Land: cantando estações” (2016), retrata uma louca festa na Hollywood dos anos 1920, com muito sexo e drogas. Ao longo dos demais 169 minutos de duração, o espectador continua assistindo a um emaranhado de excessos, com personagens que usam e abusam do privilégio de fazerem parte de uma poderosa indústria do entretenimento.

Na chamada Era de Ouro de Hollywood, o star system, com sua constelação de astros, está mais do que consolidado, e o cinema se vê em meio a uma nova revolução: o som. Neste período, a novidade tecnológica exige adaptação de produtores, realizadores e atores. Alguns celebram a chegada do novo e de seu potencial comercial; outros, mais saudosistas, acabam soterrados pela novidade.

Em entrevista, o diretor destaca que teve a ideia para “Babilônia” há 14 anos, antes mesmo que chamasse a atenção da indústria com “Whiplash: em busca da perfeição” (2014). Por se tratar de um projeto ambicioso, ele imaginava que nunca conseguiria emplacá-lo no início de sua carreira. Decidiu, então, investir em outros projetos, mas, sempre que possível, voltava às pesquisas e aos estudos para sua produção.

Após “Whiplash”, “La La Land” e “O primeiro homem” (2018), o diretor finalmente conseguiu transformar o sonho em realidade. “Babilônia”, um épico com mais de três de duração que tem no elenco Brad Pitt e Margot Robbie, chega aos cinemas brasileiros amanhã, quando Chazelle comemora o aniversário de 38 anos. Cotado para estatuetas ao Oscar 2023, o longa já colecionou alguns prêmios na temporada, como o Globo de Ouro de melhor trilha sonora e o Critics Choice Awards de melhor design de produção, além de uma indicação ao SAG Awards de melhor elenco.

Confira a seguir a conversa com o diretor franco-americano.

Diretor Damien Chazelle durante as filmagens de 'Babilônia' — Foto: Divulgação
Diretor Damien Chazelle durante as filmagens de 'Babilônia' — Foto: Divulgação

“Babilônia” fala sobre amor ao cinema, mas também sobre momentos de decepção com a indústria. Como é a sua relação com Hollywood?

De certa forma, é parecida com a que vemos no filme. Tenho um amor tremendo por Hollywood, pela história de Hollywood e pelo cinema em geral. Mas também sou muito crítico do maquinário de Hollywood. Vi de perto o que pode fazer com as pessoas. Há uma brutalidade no modo de ser da indústria, na forma como mastiga e descarta as pessoas. Você precisa lutar pesado para manter sua sanidade e sua alma.

Como quis retratar esta dualidade na tela?

Existe o lado do sonho e o lado do pesadelo. Na maioria das vezes, acho que filmes sobre Hollywood escolhem um dos lados. Ou é uma crítica ou uma carta de amor. O meu objetivo era retratar as duas coisas, ser uma homenagem e um retrato duro da realidade. É uma carta de amor e ódio a Hollywood. Isso vem muito das minhas pesquisas. Encontrei coisas que me encantavam e outras que me repeliam.

O que diria que existe em comum entre a Hollywood da Era de Ouro e a de hoje?

A realidade é que as coisas são, ao mesmo tempo, completamente iguais e totalmente diferentes. Existe um elemento cíclico, o que pode ser dito por qualquer indústria. Estamos a cem anos do período retratado no filme e também lidamos com situações parecidas, diante de uma evolução tecnológica que afeta a cultura de Hollywood e a forma de arte. Lidamos com os mesmos dilemas existenciais de tentar definir o que é um filme, qual o futuro do cinema.

Você já conquistou um Oscar e conhece bem a temporada de premiações. Com “Babilônia” recebendo prêmios e indicações, isso é algo em que você gasta tempo pensando?

Não é muito saudável ficar pensando em prêmios. Eu tento muito evitar, nem sempre é possível. Morando em Los Angeles, você fica no meio de toda essa atmosfera de premiações. É difícil evitar completamente. Não é algo em que penso enquanto estou fazendo o filme. Claro que quero que meus trabalhos sejam reconhecidos, que tenham um bom desempenho comercial, mas meu objetivo não é ganhar prêmios ou dinheiro. O que quero é fazer coisas que sobrevivam à prova do tempo. Não quero que parem de falar de meus filmes em cinco anos, mas que continuem falando daqui a 50 ou cem anos. Quero fazer parte de projetos atemporais, é meu maior objetivo. Sou inspirado por filmes de cem anos atrás, e quero fazer parte dessa tradição.

Margot Robbie é destaque em 'Babilônia' — Foto: Divulgação
Margot Robbie é destaque em 'Babilônia' — Foto: Divulgação

Seu filme tem cenas de festas impressionantes, com centenas de figurantes. Não deve ter sido fácil rodá-las...

Foi muito desafiador. Uma coisa é escrever essas cenas em uma página: “Então, um elefante entra na sala e 300 pessoas dançam”. Foi difícil fazer essa transição do roteiro para a tela. Mas tive a ajuda de muitas pessoas com quem já havia trabalhado, como a coreógrafa Mandy Moore, o fotógrafo Linus Sandgren, Mary Zophres no figurino. Todo time estava muito disposto a mergulhar no projeto e aceitar o desafio de cabeça. Foi preciso força de vontade.

Sua experiência em festas hollywoodianas ajudou de alguma forma?

Nunca vi nada em uma festa hollywoodiana que seja remotamente parecido com o que vemos no filme. Acho que parte do objetivo do longa também é mostrar que essa cena não existe mais. O tumulto, o caos, a atmosfera de circo são únicas dos princípios de Hollywood. E isso não vai voltar.

Com “Whiplash”, “La La Land” e agora “Babilônia”, você geralmente trata dessa cena de arte e artistas em seus filmes.

Meus projetos são sempre muito pessoais. É uma coisa de escrever sobre o que você sabe. Sempre lidei com questões sobre ser um artista ou tentar me transformar em um por boa parte da minha vida. Mesmo com o filme se passando há cem anos, consigo me colocar no lugar de pessoas com este tipo de ambição e sonhos, são coisas muito familiares para mim.

Brad Pitt pareceu a escolha ideal para interpretar Jack Conrad, uma espécie de “última estrela do cinema”, um astro dos filmes mudos que precisa se adaptar aos novos tempos.

Trabalhar com Brad foi ver um sonho se tornar realidade. Quando escrevi esse personagem, pensava em um astro do cinema atemporal, precisava de uma figura icônica para assumi-lo. Estaria ferrado se ele não tivesse aceitado atuar no filme. Foi um sonho.

Brad Pitt e Diego Calva em 'Babilônia' — Foto: Divulgação
Brad Pitt e Diego Calva em 'Babilônia' — Foto: Divulgação

E como foi o trabalho com Margot Robbie (ela interpreta Nellie LaRoy, atriz iniciante descoberta em uma festa regada a drogas e álcool, e acaba se tornando uma nova sensação da sétima arte, mesmo não sendo a mais estável das pessoas)?

Não sei qual é o segredo dela, mas é impressionante. Ela aceita desafios que muitos recusariam, faz com perfeição, e está lá no dia seguinte para fazer tudo de novo. O papel dela é o mais difícil de todo o filme. Precisava de uma pessoa completamente destemida, que se jogasse totalmente nessa loucura. Não vejo muitos atores hoje em dia assumindo esse tipo de desafio. A maioria das estrelas é muito preocupada com suas imagens, mas Margot é o oposto disso. Foi a pessoa que mais trabalhou no set, a mais envolvida com o projeto. Foi incrível ver sua dedicação.

Passando “Babilônia” e essa temporada de premiações, você tem novos projetos em andamento?

Estou trabalhando em algumas frentes, explorando algumas possibilidades. No momento, tenho escrito algumas coisas e trabalhado em uma ideia para série de TV. Para o cinema, ainda não tenho um próximo projeto definido.

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