Martha Batalha
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Martha Batalha

Escritora e jornalista.

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Martha Batalha

Escritora e jornalista

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Destas histórias que a gente escuta e arregala os olhos, e se vê recontando, internamente, para absorver: Andrew Huberman é um neurocientista americano, com laboratório na Universidade Stanford, seis milhões de seguidores no Instagram e um dos podcasts mais populares do mundo. Este é um homem de 48 anos, de olhar intenso e barba espessa, corpo musculoso e tatuagens no tórax e bíceps. (Gostoso, leitoras. Bastante.)

Andrew se fez famoso ao tornar acessíveis informações científicas sobre o corpo humano. No podcast, ele discorre sobre neurotransmissores, dopamina, neuroplasticidade e cetogênese de modo minucioso, fazendo com que o ouvinte se sinta valorizado pela inteligência. Ele ressalta a importância da saúde emocional através de terapia, meditação e mesmo preces diárias.

Eis um homem exemplar. Intenso, inteligente, humilde e deliciosamente masculino na aparência. Atento à saúde física, mental e espiritual.

As mudanças de hábito, ou “protocolos”, como Andrew define no podcast, influenciam milhões de americanos. Eu mesma, cozinhei e lavei muita louça ouvindo seus conselhos. Eu me submeti a jejuns esporádicos, diminuí o consumo de álcool e passei a tomar banhos frios. Ele era, e ainda é, um dos mais confiáveis gurus da longevidade.

Eis que Andrew tinha uma namorada. Da mesma idade, bonita, interessante, independente. Os dois chegaram a morar juntos e concordaram com um relacionamento monogâmico. Tudo na paz, apesar de alguns hábitos estranhos de Andrew, como, por exemplo, sumir. Ou passar para ela uma doença venérea. Ela enfim desconfia, e descobre que ele tinha outra namorada. Depois ela descobre outra, e mais outra. No total eram seis mulheres independentes e bem educadas, na crista da onda feminista, tendo relacionamentos com o mesmo homem.

Elas se tornam amigas, trocam mensagens e entregam a história para a New York Magazine, uma revista de circulação nacional. Fofoca da boa, e por algumas semanas um dos assuntos mais discutidos por aqui.

ndrew Huberman deve ser cancelado? Dormir com uma namorada, trocar mensagens com outra e sair para encontrar uma terceira, no mesmo dia, invalida sua carreira? Não invalida. Mas me faz querer cozinhar ouvindo outros podcasts, um amargo no canto da boca quando eu me lembro do caso. Porque, apesar de todos os avanços, é possível a um homem num dos lugares mais desenvolvidos do mundo agir assim. O futuro chega antes em bolhas de conhecimento como Stanford, chega antes ao Norte da Califórnia, educado e muito rico. E nesse futuro um homem ainda tem a audácia de enganar descaradamente seis mulherões, achando que vai se safar.

Não vai. A internet deixa as pessoas mais vulneráveis e transparentes. E apesar dos excessos e da ditadura do moralismo, isso é bom. É um espelho que reflete hábitos e costumes arraigados, tornando mais fácil avaliar e desconstruir o que se vê.

De minha parte, pretendo continuar com os “protocolos” de Andrew Huberman. Quero viver muitos anos e me tornar uma velhinha ativista (cabelos brancos com reflexos azuis), contribuindo para um futuro com genuína igualdade entre os sexos, no Norte da Califórnia e além.

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