Ana Paula Lisboa
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Por Ana Paula Lisboa — Rio de Janeiro

Lá venho eu de novo escrever sobre violência, acho até que já faz tempo. Não é que não haja motivo. Poderia escrever sobre violência muito além das “quartas-sim”. Poderia escrever um jornal inteiro e diário sobre violação de direitos, violências, mortes, traumas. Apesar disso, para equilibrar a vida e os sete anos desta coluna, me mantenho refletindo: para além das violações diárias, que outras histórias quero contar? Mas desta vez não, hoje quero e preciso escrever sobre violência.

Faz quatro meses que me tornei editora do jornal Maré de Notícias. Falo disso com a emoção de quem tem a memória de acordar e ver na porta de casa, uma casa com memórias tão lindas, as edições mensais do mesmo jornal. A Maré “me deu régua e compasso”.

E Exu trabalha demais, porque fazia tempo que eu estava pensando como me reaproximar da Maré, mesmo remotamente. Não tenho família em nenhuma das 16 favelas do conjunto, meus amigos crias estão espalhados pela cidade e pelo mundo. Acaba que, quando estou no Brasil, só apareço pra comer baião de dois no Parque União.

Então, quando Jéssica Pires, editora executiva e coordenadora do jornal, me chamou pra essa responsa, fiquei emocionada. Tem sido um enorme desafio porque, como digo desde 2012, a Maré é um curso de doutorado. Cada beco, cada instituição, cada um dos mais de 140 mil moradores, é um universo. O jornal foi criado pela Redes da Maré em 2009, com a missão de informar para mobilizar a população do território. É hoje um dos maiores jornais comunitários do Brasil, com tiragem de 50 mil exemplares, e completará 150 edições em julho.

Tenho aprendido tanto em cada edição. Da visita da Madre Teresa de Calcutá até a história do morador que convencia os amigos, motoristas dos caminhões que levavam a terra dos morros derrubados do centro da cidade, a levar o entulho para a Maré e ajudar assim no aterramento.

O desafio, agora como editora, é manter o pensamento: para além das violações diárias, que outras histórias queremos contar? Este pensamento se tornou muito difícil quando, no final do último domingo, policiais iniciaram uma operação à meia-noite nas favelas de Parque União e Nova Holanda. Vídeos mostram os momentos de pânico dos moradores. Foi a terceira operação só em abril e, na última sexta, a deputada Renata Souza já havia denunciado os momentos de desespero numa operação que começou às 15h e a deixou, assim como outras 70 mulheres, presas durante um evento na Casa das Mulheres. Ironicamente, o evento era sobre o impacto da violência na vida das mulheres. A gente segue sendo correspondente de guerra.

Eu me lembro do meu aniversário em 2017. Tinha marcado de encontrar alguns amigos e passar o dia na praia. Acordei ao som de tiros e, num rompante de muita raiva, resolvi não desmarcar a minha comemoração e saí de casa. Estava tão indignada que pra mim era “melhor morrer do que perder a vida”. As operações policiais já me tiraram muito.

Óbvio que esta não é a forma de agir, mas que tempo estranho em que, ao mesmo tempo em que decidimos sobre circulação de dados, pessoas são encurraladas em casa. Segundo o Boletim de Segurança Pública da Maré, só em 2022 foram 15 dias sem aulas em escolas públicas e 19 dias sem atividade nas unidades de saúde. Na última segunda, 23 escolas ficaram fechadas. Como a vida cotidiana das favelas segue sendo interrompida, violentada e traumatizada, continuamos precisando falar sobre violência.

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