Ana Paula Lisboa
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Por Ana Paula Lisboa — Luanda

É difícil falar de atraso, porque, primeiro, você teria que admitir que existe um padrão, algo que é considerado o certo em relação aos outros. Em relação ao tempo, a gente considera o para frente ou para trás quem está a leste ou oeste do fuso zero. Então, não existe fuso certo, existe quem está a leste ou a oeste de uma determinada linha, e tudo que isso implica e significa. E a maioria dos países que está no “fuso certo”, ou no centro do mundo, está na África.

Isso para dizer que existe uma teoria de mesa de bar que explica, por exemplo, os poucos casos e mortes de Covid-19 em Angola, quando todo mundo achou que o vírus iria dizimar o continente africano. Um inexistente sistema de saúde público, a quantidade de pessoas numa mesma casa, a desconfiança dos governantes e das vacinas, a falta de condições sanitárias adequadas, tudo era motivo real para o alarde.

Há meses, o jornalista angolano Israel Campos escreveu para a BBC Brasil detalhando motivos para a baixa quantidade de mortes pela doença no continente, comparando a condições em outros países: média de idade, resposta rápidas dos governantes, falta de casas de repousos para idosos, o clima e até a possível subnotificação.

A teoria de mesa de bar considera todos esses e mais alguns pontos como um só: o atraso. Séculos de saques, sequestros de pessoas fortes e inteligentes, manter os territórios em regimes coloniais, incentivo a conflitos internos. Tudo isso somado a tantas outras coisas…

Essa conversa voltou quando comentávamos, na mesa do bar, sobre o atual medo da Humanidade: as inteligências artificiais, ou a computação cognitiva. Meus amigos angolanos riram, dizendo que uma guerra entre máquinas e humanos demoraria bastante até chegar aqui.

De fato, o “atraso” da falta de crédito e do dinheiro de papel me protege das dívidas do uso irrestrito do dinheiro eletrônico, dos juros, das fraudes on-line e do pagamento por aproximação. A OpenAI, desenvolvedora do ChatGPT, divulgou esses dias uma lista de umas cem profissões que vão acabar por conta das IA. Considero essas listas um grande terrorismo, mas meus amigos mais uma vez riram e disseram que o “atraso” da informalidade protege muitos empregos.

Dizem que as “profissões criativas” ainda sobreviverão por muito tempo, mas não sei. Talvez daqui a pouco seja uma máquina que ocupe o meu lugar nestas páginas, e a gente lide tão bem com isso como vive com o Google, o robô aspirador ou a Alexa.

Das coisas mais engraçadas que li sobre isso tudo foi quando disseram do medo de que a IA possa entender a Humanidade como uma ameaça. É engraçado porque é exatamente isso que somos e o medo é ter alguém “de fora” fazendo essa classificação. Alguns países já estão banindo a ferramenta GPT porque nada é mais humano do que banir algo que a gente não entende de cara.

Mas, vejam bem, na outra ponta de toda a discussão está a sobre bem-estar, digital ou off-line. Nunca se pensou tanto em como ter uma vida mais saudável, nunca se gastou tanto com terapias alternativas, nunca se criou tanto método pra ficar fora das redes, nunca se tomou tanto antidepressivos, nunca se valorizou tanto a inteligência emocional das pessoas.

Vamos aproveitar enquanto a gente não vira bateria para as máquinas e só se assusta com elas fingindo ser uma pessoa e contratando um funcionário freelancer. Todos queremos avanços para todos e todas. Aqui, no sul do mundo, na vanguarda das relações humanas, ainda consideramos o descanso e os encontros familiares tão sagrados quanto o trabalho. Se acontecer uma guerra, só o sul poderá nos salvar.

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