Se a pirâmide populacional brasileira surpreendeu a todos com uma inversão não prevista — segundo o IBGE, até 2050 mais de 30% da população brasileira vai ter mais de 60 anos, e a taxa de natalidade está cada vez menor —, olhar para o futuro financeiro se torna tarefa urgente. O problema, no entanto, é que essa ficha ainda não caiu para a maioria dos jovens.
— Não precisa ser especialista em finanças para entender que a idade mínima para se aposentar (65 anos para homens e 62 para mulheres) pode estar mais avançada daqui a uns anos. Precisamos entender então que somos os responsáveis pela nossa aposentadoria no futuro — aponta a economista Dirlene Silva.
Ela conta que, recentemente, abordou essa questão em uma palestra, com a seguinte pergunta: "Quem vai pagar essa conta?". No atual cenário, a resposta que recebeu não chegou a surpreender: "Os nossos filhos".
— Acontece que não teremos tantos filhos para isso e aí não vai ter gente para pagar essa conta — afirma a economista, que cresceu ouvindo que o Brasil era um país jovem.
Fato é que pessoas mais novas não prestam atenção nisso. Por isso, a importância de falar sobre o tema.
— Precisamos realmente que eles se conscientizem para que, desde que iniciem sua vida profissional, já pensem no futuro.
A dica de ouro da especialista é viver o presente em sua plenitude, tendo em vista, porém, o amanhã, porque ele vai chegar:
— Do que a gente precisa é ter a consciência de que o futuro se constrói agora. Não adianta pensar nisso aos 70 anos, quando ele já tiver chegado — observa Dirlene.
Segundo Dirlene, o desafio é olhar para a frente sem deixar de viver o presente. E a chave de tudo isso é o entendimento de que o dinheiro existe para nos servir:
— Dinheiro é uma coisa boa, mas a gente precisa entender que é a gente que manda nele e não o contrário. E cabe a nós utilizá-lo de maneira saudável ou não, sabendo que a vida é feita de altos e baixos. Porque, assim como não existem males que durem para sempre, não existem momentos bons que sejam eternos.
![Até 2050 mais de 30% da população brasileira terá mais de 60 anos, o que evidencia a necessidade de planejar o futuro — Foto: Getty Images](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/i9-3jeegvS8BWnrsUz0JR5KI2T0=/0x0:2121x1414/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/U/h/OBfBiuTWmSZkXNk2tMmA/aposentadoria-2.jpg)
Dirlene toma a própria história como exemplo. Depois de toda uma vida trabalhando com carteira assinada, ela, aos 46 anos, resolveu empreender.
— Fiz isso de uma maneira muito tranquila justamente por enxergar esse futuro. Como tinha uma reserva de emergência, não precisei pegar dinheiro emprestado nem nada. Mas esse futuro foi construído — conta.
A única maneira de conseguir isso, garante, é dominando os nossos hábitos. E para isso é necessário ter consciência do seu orçamento, saber o que você tem por mês de custos fixos e supérfluos e quanto exatamente é o seu ganho mensal líquido.
— Economia não é só sobre guardar dinheiro e investir. É sobre as nossas escolhas. A gente vive em uma sociedade consumista e, hoje em dia, todo mundo tem um cartão de crédito na mão. Ele precisa ser usado como seu aliado, não o contrário.
A maneira positiva de utilizá-lo é comprar ou parcelar sabendo que as condições são boas e que aquela conta cabe em seu orçamento.
Outra coisa importante é se planejar para os gastos que só ocorrem em determinadas épocas, como os do começo do ano. Ponha nessa planilha IPTU, IPVA, material escolar, matrículas renováveis.
— Só a partir desse conhecimento da sua vida financeira, é possível planejar e viver o presente em sua plenitude tendo em vista o futuro. Então, vou buscar a minha própria aposentadoria, trabalhando hoje para viver amanhã.
Atenção que a ideia aqui não é apenas sobreviver, mas viver. E, para isso, é preciso ter consciência de cada detalhe do seu orçamento.
— Nós só conseguimos atuar no que temos consciência — aponta a economista.
Dirlene repete quase como mantra: o futuro se constrói agora.
— Porque envelhecer com saúde física e mental é uma dádiva. Mas envelhecer com dinheiro, além de saúde física e mental, é o melhor dos mundos — ela conclui.
![Dirlene Silva, economista — Foto: Divulgação](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/AEjdPuy9fGu38JBpJzfOZ8G2BF4=/0x0:853x1280/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/u/h/65EoXOQlmHiB9gnt1cgw/dirlene-silva.jpg)