Uma sinagoga na cidade de Santos, no litoral de São Paulo, foi vandalizada durante a madrugada deste sábado com pichações de cunho antissemita. Em um muro da sinagoga Beit Sion, foram escritos os dizeres “morte aos $ionista” [sic], com um símbolo de cifrão no lugar do “s”.
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— A ação é antissemita por vários motivos. Ela responsabiliza judeus de forma coletiva e independente da sua origem nacional pelas ações do Estado de Israel. [...] É revelador, também, que a palavra “sionista” tenha sido feita com um $, invocando os mitos antissemitas de que judeus representam uma minoria super rica e super poderosa — explica Matheus Alexandre, doutorando em sociologia e pesquisador sobre antissemitismo contemporâneo no Brasil pela Universidade Federal do Ceará.
Segundo o pesquisador, ações do tipo tem se tornado mais frequentes no Brasil desde o atentado de 7 de outubro em Israel e o consequente início da guerra na Faixa de Gaza.
— É importante destacar que o depredador, ao pedir a morte de "sionistas", tenha escolhido uma sinagoga para fazer isso. Mostra que, para essas pessoas, o alvo é o judeu. O ataque não perguntou a posição de qualquer membro da comunidade. O ataque viu na sinagoga a personificação de um inimigo que deve ser eliminado — afirma.
A Secretaria de Segurança de Santos (SESEG) de Santos disse que "as imagens do Centro de Controle Operacional (CCO) serão encaminhadas para a Polícia Civil, a fim de contribuir na investigação do caso" e que a "Guarda Civil Municipal [...] intensificará as rondas no local da ocorrência, em apoio à Polícia Militar".
A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo disse que o caso foi registrado como "pichar, grafitar ou por outro meio conspurcar edificação ou monumento urbano na Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) de Santos".
Alexandre afirma que, como prevenção, “autoridades públicas devem agir para educar a população a respeito do amaissemitismo” e que “é preciso que o governo brasileiro, sobretudo através do Ministério dos Direitos Humanos, realize campanhas para debater com a sociedade brasileira o quão prejudicial é o antissemitismo, pois ele não fere apenas os judeus”.
— Ele fere a própria democracia. Não podemos normalizar um discurso que pede a eliminação do outro em razão da sua origem étnica ou posição política. Para isso, precisamos debater como um suposto combate ao antissionismo tem servido de escudo para a propagação de ódio racial contra judeus, o antissemitismo — defende Alexandre.
Casos anteriores
O local já havia sido alvo de ação similar no início deste ano. No início de março, um homem foi flagrado por câmeras de segurança chegando à Sinagoga Beit Sion durante a madrugada. Na ocasião, o criminoso usava uma máscara, um casaco de moletom e um boné, além de uma mochila na frente do corpo, segundo o g1.
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Ele pichou parte do muro com os dizeres "Palestina Livre" e "Israel terrorista" e, depois, foi até um outro ponto do muro, onde escreveu a palavra "paz".
Na ocasião, o presidente executivo da Federação Israelita de São Paulo (Fisesp), Ricardo Berkiensztat, disse ao g1 que o tom das manifestações antissemitas – de ódio aos judeus – cresciam no Brasil e que o ato de vandalismo não era algo inesperado, causando preocupação.
Antes desse caso, um homem foi filmado vandalizando o muro e as portas de um templo judaico no bairro Vila Nova, em janeiro. Segundo imagens obtidas pelo g1, ele pichou "palestina livre" e "paz" na Sinagoga Bet Jacob.