São Paulo
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Por O Globo — Rio de Janeiro

Dejan Kovac levava uma vida discreta e familiar, de acordo com vizinhos do "esloveno" em Santos, no litoral paulista. Moradores que costumavam vê-lo pelas ruas do tradicional bairro Embaré ficaram em choque ao saberem que ele foi assassinado a tiros no portão de casa, no último dia 5. E mais: ao saberem, em meio às investigações do assassinato, que Kovac era, na verdade, Darko Geisler, um matador de aluguel sérvio.

Na última década, o paradeiro do homem, que estava foragido, era desconhecido das autoridades. Ele era alvo de um mandado de prisão da Interpol. De acordo com a Polícia Civil de São Paulo, ele vivia clandestinamente no Brasil desde 2014. Vizinhos contaram à "Folha de S. Paulo", sob condição de anonimato, que o homem falava pouco e parecia ter dificuldade com a língua portuguesa. O sérvio levava o filho à escola com a mulher, brincava com a criança e comprava cigarros todos os dias.

Kovac (ou Geisler) se apresentava como marceneiro, mas não tinha atividade remunerada. Em vez disso, mantinha-se com dinheiro enviado por parentes do exterior. A polícia paulista confirmou que os documentos dele não estavam regularizados no Brasil e que ele sequer havia registrado o filho.

Apesar dos avanços, alguns pontos da trama que culminou na execução do sérvio, morto perto do prédio em que morava, na companhia da mulher e do filho, seguem sem explicação. Saiba mais abaixo:

Como foi o crime

Darko Geisler, que segundo a TV Tribuna, trabalhava como carpinteiro e morava no bairro Embaré, foi executado a tiros quando chegava em casa, junto da mulher e o filho, de bicicleta.

Gravações de câmeras de segurança capturaram o momento em que um homem chega por trás de Geisler e realiza os disparos, antes de fugir. Socorrido pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), o sérvio sofreu uma parada cardiorrespiratória a caminho da Santa Casa de Santos. Veja abaixo:

Novas imagens são procuradas pelas autoridades para ajudar a determinar quem realizou os disparos contra o homem. Segundo a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, o caso segue em investigação pela 3ª Delegacia de Homicídio da DEIC de Santos, que atua para prender o autor do crime.

Motivação

Segundo a imprensa sérvia, Darko Geisler teria sido morto a mando de um chefe de um clã mafioso dos Balcãs. A motivação do crime teria sido vingança, o que ainda é investigado pela Polícia Civil, de acordo com o divulgado na coletiva de imprensa desta quinta-feira.

O mandante, segundo o jornal Alo, seria Radoje Zvicer, um dos principais nomes do clã Kavac, organização criminosa originária de Montenegro envolvida com o tráfico de drogas. Segundo o relato de uma fonte ao jornal, o matador de aluguel Darko Geisler, desaparecido há quase dez anos, foi localizado em Santos por adversários após um deslize.

Darko Geisler teria ligado para um antigo conhecido de Belgrado, capital da Sérvia, com quem tinha trabalhado no passado e, com isso, revelado sua localização. O conteúdo da conversa chegou ao conhecimento de Zvicer. De acordo com o jornal, o sérvio seria o nome por trás das mortes de pessoas próximas ao mafioso, que também teria o temor de se tornar um alvo de Geisler.

Uma das possibilidades investigadas pela Polícia Civil de São Paulo é justamente a de que a morte do sérvio tenha relação com crimes passados do matador de aluguel.

— Há a possibilidade, dentre as inúmeras que ainda se apresentam na investigação policial, deste homicídio estar relacionado aos homicídios múltiplos praticados no Leste Europeu — disse o delegado Luiz Ricardo Lara Dias Júnior, titular do 3° Distrito Policial (DP) de Santos, em coletiva de imprensa, nesta quinta-feira.

Como Darko entrou no Brasil?

A Polícia Civil disse não saber ainda como o sérvio entrou no Brasil. Sua última localização conhecida até morrer em Santos era em Montenegro, onde cometeu um assassinato, antes de desaparecer. Seu único documento era um passaporte esloveno falso, com numeração correspondente a outra pessoa.

— Chamou atenção o passaporte apresentado. Não havia carimbo de ingresso no território nacional. Muito pelo contrário. Havia um de ingresso e saída no ano de 2014. Como um estrangeiro ingressa em solo nacional sem constar carimbo da Polícia Federal? — disse o delegado Lara Dias Júnior.

— O Brasil é um país de dimensões continentais, temos milhares de metros quadrados de fronteira seca. O certo é que ele se deu de maneira ilegal — acrescentou.

Acredita-se que nos últimos anos, desde que fugiu das autoridades em 2014, Darko Geisler morou no Brasil. Ele foi descrito por amigos e familiares como uma pessoa reservada, que trabalhava como marceneiro. Durante a coletiva de imprensa, nesta quinta-feira, no entanto, a Polícia Civil indicou ele não tinha emprego:

— Seus familiares falaram que ele não tinha uma fonte ativa de rendimentos, não tinha uma atividade profissional. Ele vivia de um comércio que ele supostamente teria com familiares na Europa — disse o delegado.

No Brasil, ele tinha uma vida descrita como modesta, em uma residência de classe média. Darko Geisler também não detinha nenhum documento nacional ou contas em instituições financeiras.

Procurado pelo GLOBO, o Ministério das Relações Exteriores da Eslovênia disse que Dejan Kovac, nome falso usado pelo sérvio, não consta entre os cidadãos do país. O caso foi notificado a polícia local que irá investigar como o homem obteve documentos de identidade falsos.

Último crime cometido

Há cerca de 10 anos, em dezembro de 2014, Geisler, disparou contra Andrija Mrdak, guarda-costas e número um de Armin Musa Osmanagić, na época, líder de um dos principais clãs mafiosos de Montenegro.

Mrdak foi assassinado na frente de uma penitenciária de Montenegro, onde havia ido visitar o irmão, preso por homicídio. Segundo a polícia, em frente ao portão, duas pessoas em uma moto aguardavam o homem, que chegou ao local em um Audi blindado, acompanhado da cunhada. Os tiros foram disparados, mas Mrdak chegou a reagir e acertou Geisler, autor dos disparos. O atirador conseguiu escapar e seu paradeiro se tornou desconhecido pelos próximos anos.

O assassinato teria sido mais um capítulo em uma briga de clãs criminosos. Meses antes, em setembro, o próprio Osmanagić havia sido morto em um restaurante no centro de Bar, uma cidade de Montenegro. Mrdak estava ao lado do chefe e chegou a tentar socorrê-lo, sem sucesso, segundo o jornal Vijesti.

Meses após a morte do guarda-costas, em setembro de 2015, a polícia de Montenegro disse acreditar que Darko Geisler, estava escondido em algum país do Leste Europeu e que um mandado de prisão havia sido emitido em seu nome. Como Geisler havia sido ferido no episódio, fontes policiais chegaram a afirmar ao tabloide Blic acreditarem que ele poderia ter morrido. Quase uma década depois ele reapareceu em Santos. A polícia investiga ainda se, no tempo em que esteve em solo nacional, o sérvio voltou a cometer crimes.

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