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Por Guilherme Caetano — São Paulo

Com clima renovado, a Parada do Orgulho LGBT+ retorna neste domingo à Avenida Paulista, em São Paulo, sem duas adversidades que marcaram os festivais nos últimos anos: a pandemia de coronavírus e o governo de Jair Bolsonaro.

Desde 2019, a comunidade LGBT convivia com um governo abertamente contrário às suas pautas. Além de declarações de cunho homofóbico do então presidente da República, sua administração cortou financiamento de políticas públicas voltadas para esse público.

Nos dois anos seguintes, o mundo foi assolado pela disseminação de coronavírus que deixou 700 mil mortos no Brasil e impediu a realização do evento. Voltou em 2022 em meio a algum receio sanitário. Apesar da cena incomum, havia casais de máscara de proteção, por exemplo.

O clima deste ano mudou — e as reivindicações seguiram a toada. Se no primeiro ano de governo Bolsonaro o tema da Parada relembrou os 50 anos de Stonewall, episódio de repressão policial em um bar LGBT de Nova York, e houve gritos de "resistência" e broches "LGBT contra Bolsonaro", agora as demandas refletem a maior abertura do governo federal à agenda do evento.

Placa ironizando o "kit gay" — Foto: Guilherme Caetano
Placa ironizando o "kit gay" — Foto: Guilherme Caetano

O tema desta edição é "Políticas Sociais para LGBT+ - Queremos por inteiro e não pela metade" e busca destacar a exclusão da população LGBTQIA+ das políticas de direitos humanos e pedir a inclusão dessas pessoas no Sistema Único de Assistência Social (SUAS). A multidão ocupou ao menos doze quadras da avenida.

O cunho político, no entanto, não esteve tão presente. Mais populares que cartazes com demandas foram as coroas coloridas de papel de uma marca de fast-food, os abanadores dobráveis vendidos a R$ 30 e R$ 50 pelos camelôs e os copos estilizados de plástico duro — pegando a onda dos copos térmicos. O calor ameno permitiu fantasias e roupas mais abertas, e alguns se permitiram tirar o tapa-seio do armário, bastante usado no carnaval.

De cima de alguns dos 19 carros de som, políticos conhecidos da militância cuidaram dos discursos mais combativos. Um dos caminhões teve um artista fantasiado do personagem Zé Gotinha, mascote das campanhas de vacinação no Brasil, negligenciadas durante o governo Bolsonaro. O ministro dos Direitos Humanos do governo Lula, Silvio Almeida, discursou que o público deveria sentir orgulho de estar vivo, apesar da violência do mundo contra a comunidade.

— A gente não pode confundir orgulho com soberda. Soberba é algo negativo, é o que nos leva a ter um excesso de amor próprio e achar que somos melhores que os outros. Outra coisa é o orgulho, e é esse que devemos ter. Orgulho de ser quem somos, das lutas que lutamos, das batalhas que vencemos, e todas as pessoas que estão aqui devem ter muito orgulho, porque estão vivas, porque existem apesar do mundo que as violenta, que massacra, que tira a dignidade — afirmou o ministro.

Ovacionada, a deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) destacou o dia de celebração, mas defendeu "um novo projeto de país", mais inclusivo para pessoas LGBT. Depois, hits de Léo Santana, Iza e Pedro Sampaio embalaram a multidão, além dos shows de Daniela Mercury, Pabllo Vittar, Pocah e outros artistas.

Pela Avenida Paulista, manifestantes afirmam sentir o clima "mais leve" com a saída de Bolsonaro do poder. O casal de mães Daniela Arrais e Laura Della Negra, ambas de 40 anos, dizem ter se sentido mais confortáveis este ano para trazer o filho Martin, de 2 anos.

— Ano passado demos uma passada meio rápida porque tinha essa ameaça velada. Apesar de sermos duas mulheres brancas, privilegiadas, havia esse sentimento. Este ano o clima está muito melhor — diz Daniela.

Daniela Arrais e Laura Della Negra levaram o filho, Martin, de dois anos, ao  evento — Foto: Guilherme Caetano
Daniela Arrais e Laura Della Negra levaram o filho, Martin, de dois anos, ao evento — Foto: Guilherme Caetano

Elas são fundadoras do Coletivo Dupla Maternidade, criado em 2021 para suprir a falta de amigos com essa configuração familiar. O grupo de WhatsApp reúne hoje mais de 600 pessoas de todo o país, em sua maioria mães, e se desdobrou em grupos locais.

— A gente não queria o Martin se sentindo o único (com duas mães), o "esquisito".

O casal Celso Cury, de 73 anos, e Wesley Kawaai, de 53, também dizem sentir uma atmosfera mais segura com o fim do governo Bolsonaro. Para Celso, que marca presença na Parada desde a primeira edição, o sentimento é nítido.

— Nada é perfeito, mas as coisas estão bem melhores. Esperamos que a Parada tenha um cunho mais político este ano do que geralmente propõe. Existe uma caça às bruxas à população LGBT no mundo todo que pode acontecer a qualquer momento por aqui também — diz ele.

Os cartazes de viés político se associaram mais a brincadeiras com o chamado Kit Gay, projeto do governo Dilma alvo de um ataque desinformativo de conservadores na década passada. Houve também referências a Marielle Franco, vereadora LGBT assassinada em 2018, entre as poucas manifestações políticas.

Jaqueline Gomes de Jesus, professora do Instituto Federal do Rio de Janeiro e presidente da Associação Brasileira de Estudos da Trans-Homocultura, afirmou que a Parada deste ano surpreendeu pela "esperança de um novo tempo", com uma ressalva:

— Porém, com a consciência de que precisamos trabalhar muito para retomar políticas públicas que foram desmontadas — disse Jaqueline.

Neste ano, famílias se sentem mais à vontade para trazer suas crianças. Na linha de frente do desfile que deve dar seu pontapé às 13h está o grupo Minha Criança Trans, um coletivo de responsáveis com o intuito de dar visibilidade à causa.

Thamirys Nunes, de 33 anos, porta-voz do grupo, diz que a ONG foi criada há 5 meses para atender crianças e adolescentes trans e hoje tem 580 famílias associadas.

— A gente quer mostrar o quão natural é nossa família. Nossos filhos merecem ser respeitados. Muitos nos julgam pais disfuncionais, mas nossas crianças são muito amadas — diz ela.

O desfile seguiu pela Avenida Paulista e dobrou a Consolação. Na Praça Roosevelt, no Centro, a multidão deve ser dispersada por volta das 18h.

Programação e ordem dos trios elétricos

  1. Organizações de Parada do Orgulho LGBT+ do Brasil
  2. Famílias LGBT+
  3. Prefeitura I — Artista: Aristela
  4. Prefeitura II — Artista: Megam Scott
  5. Prefeitura III — Artista: Márcia Pantera
  6. HIV/Aids — Artistas: Xênia Star, Luh Marinatti, Lorran Ciriaco
  7. Pessoas aliadas — Artista: Filipe Catto
  8. Rede de orgulho — Artista: Kauan Russell
  9. Patrocinadores — Artistas: Brunelli, Juan Nym, Dj Zuba
  10. Lésbicas — Artistas: Ana Dutra e Laura Finochiaro
  11. Patrocinador — Artistas: Pabllo Vittar, Salete Campari, Dj Transalien
  12. Gays — Artistas: Fiakra, Tiago Cardoso, Gustavo Vianna e Douglas Penido
  13. Patrocinador — Artistas: Daniela Mercury, Agrada Gregos e Paulete Pink
  14. Bi+ — Artistas: PC e Litta
  15. Patrocinador — Artistas: Majur, Thiago Pantaleão e Cris Negrini
  16. Travesti/Trans — Artistas: Boombeat, Lorenzo Zimon e Nick Cruz
  17. Patrocinador — Artistas: Urias, Grag Queen, Minhoqueens e Mama Darling
  18. Patrocinador — Artistas: Pocah, WD, DJ Heey Cat e Batekoo
  19. Diretoria da APOLGBT-SP — Artistas: Bixarte, Luana Hansen e Tico Malagueta

Veja o que muda na região

Horários

  • 5h: Medição e fiscalização dos trios elétricos na Avenida do Estado, 900;
  • 8h: Escolta dos trios até a Avenida Paulista, com o seguinte itinerário: Avenida do Estado, Avenida Tiradentes, Avenida 23 de Maio, Rua Ramon Penharrubia (entre o início do acesso pela Avenida 23 de Maio até o acesso à Avenida Bernardino de Campos), Avenida Bernardino de Campos e Avenida Paulista;
  • 10h: Montagem dos trios e concentração do público na Avenida Paulista;
  • 13h-18h: Início do trajeto na Avenida Paulista, sentido Consolação, com Rua Peixoto Gomide (próximo ao MASP), Rua da Consolação, sentido Centro, desligando o som dos trios elétricos na Rua Caio Prado e início da desmontagem dos trios na Rua Rego Freitas e Rua da Consolação.

Interdições

A partir das 5h: Rua Pamplona, entre a Avenida Paulista e Rua São Carlos do Pinhal; Rua Itapeva, entre a Avenida Paulista e Rua Carlos Comenale; Ruas Frei Caneca e Haddock Lobo, entre a Avenida Paulista e Rua Luís Coelho;

A partir das 8h, na Avenida Paulista entre a Praça Oswaldo Cruz e a Rua da Consolação, em ambos os sentidos. As transposições, pela Avenida Brigadeiro Luís Antônio, Rua Teixeira da Silva e Rua Carlos Sampaio/Rua Maria Figueiredo, permanecerão liberadas, enquanto houver segurança viária.

A partir das 12h, na Rua da Consolação, nos dois sentidos, entre a Alameda Santos e Rua Caio Prado.

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