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MPF pede que Justiça obrigue governo a acionar plano para conter óleo no Nordeste

Ação do Ministério Público deve abranger todos os estados atingidos
Manchas de óleo na Praia da Pituba, em Salvador (BA) Foto: Fotoarena / Agência O Globo
Manchas de óleo na Praia da Pituba, em Salvador (BA) Foto: Fotoarena / Agência O Globo

BRASÍLIA - O Ministério Público Federal ( MPF) entrou com uma ação contra a União pedindo que a Justiça obrigue o governo federal a acionar o Plano Nacional de Contingência dentro de 24 horas para tratar do derramamento de óleo no Nordeste . A ação requer ainda uma multa diária de R$ 1 milhão em caso de descumprimento.

Algumas das praias mais belas do Nordeste amanheceram cheias de óleo nesta sexta-feira. Carneiros, em Tamandaré, um dos cartões-postais de Pernambuco , foi tomada pelas manchas de óleo denso. Voluntários fizeram mutirões para limpar a areia.
Algumas das praias mais belas do Nordeste amanheceram cheias de óleo nesta sexta-feira. Carneiros, em Tamandaré, um dos cartões-postais de Pernambuco , foi tomada pelas manchas de óleo denso. Voluntários fizeram mutirões para limpar a areia.

Na ação, o MPF afirma que a União foi omissa em não acionar o plano e disse que a situação precisa ser reparada pelo Poder Judiciário. A juíza Telma Maria Santos Machado, da 1ª Vara Federal de Sergipe, determinou que a União se manifeste sobre os pedidos dentro de 24 horas.

“Se o Estado falha, por omissão total ou parcial, seja no exercício do poder de polícia administrativa, seja como agente de imputação de responsabilidade aos infratores ambientais, descumpre seu poder-dever de proteção”

Leia mais : Óleo invade praia dos Carneiros, em Pernambuco, e deve chegar a Porto de Galinhas

Áreas com localidades oleadas no nordeste brasileiro
O óleo se espalhou
por cerca de
Ilha de Caçacueira (Cururupu)
2.880 km
de extensão
Maranhão
O derramamento de óleo teria ocorrido entre 270 e 600 km do litoral, tendo como ponto de partida os estados da Paraíba, Pernambuco e Alagoas
Piauí
Ceará
Rio grande
do norte
Em limpeza
Não observado
Vestígios/esparsos (Oleadas)
paraíba
Manchas (Oleadas)
10
114
578
Pernambuco
270
km
600
km
estados
afetados
municípios
afetados
localidades
afetadas
Alagoas
Sergipe
Foz do
São Francisco
Bahia
Praia do Forte
MINAS
GERAIS
O registro mais ao sul foi realizado no município de Linhares (ES)
Praia do Formosa
Dados de 14 de novembro
Algumas
espécies
ameaçadas
Coral-de-Fogo
Cérebro da Bahia
(Millepora alcicornis)
(Mussismilia brasiliensis)
Encontrado desde o Caribe até o Rio de Janeiro. Está entre as 5 espécies mais importantes da construção dos recifes brasileiros. Em junho deste ano, foi encontrado branqueado, começando a morrer
Era considerado resistente ao branqueamento, este ano teve mortalidade sem precedentes devido à elevação da temperatura da água do mar
Fonte: Ibama
Áreas com localidades
oleadas no nordeste brasileiro
10
114
578
estados
afetados
municípios
afetados
localidades
afetadas
Dados de 14 de novembro
Em limpeza
Não observado
Vestígios/esparsos (Oleadas)
Manchas (Oleadas)
O óleo se espalhou
por cerca de
Ilha de Caçacueira
(Cururupu)
2.880 km
de extensão
Ma
Pi
Ce
Rn
pb
Pe
Al
SE
Foz do
São Francisco
Ba
MG
Linhares (ES)
Algumas espécies ameaçadas
Coral-de-Fogo
(Millepora alcicornis)
Encontrado desde o Caribe até o Rio de Janeiro. Está entre as 5 espécies mais importantes da construção dos recifes brasileiros. Em junho deste ano, foi encontrado branqueado, começando a morrer
Cérebro da Bahia
(Mussismilia brasiliensis)
Era considerado resistente ao branqueamento, este ano teve mortalidade sem precedentes devido à elevação da temperatura da água
do mar
Fonte: Ibama

Implementação

Em outro ação, sobre a implementação de planos estratégicos em áreas de proteção vulneráveis, a Advocacia-Geral da União (AGU) afirmou que o plano de contingência já foi acionado. Questionado pelo GLOBO desde segunda-feira sobre o acionamento do plano, o Ministério do Meio Ambiente respondeu, em uma nota curta, que as medidas previstas já estão em andamento.

"Os procedimentos previstos no PNC estão em curso desde o início de setembro", respondeu o Ministério.

A reportagem voltou a perguntar para a pasta se houve acionamento do plano, de forma plena, ou se apenas determinadas medidas previstas nele estavam sendo adotadas desde o mês passado, mas obteve a mesma resposta. Marinha e Ibama também foram questionados sobre o tema e disseram que a resposta era de responsabilidade do MMA.

Na quinta-feira, o presidente do Ibama, Eduardo Bim, afirmou que o plano já estava ativado. Segundo ele, houve a formalização da Marinha como coordenador operacional no último dia 11. No entanto, ele afirmou que não sabia a necessidade legal do decreto. Bim participou de audiência pública na Comissão de Meio Ambiente do Senado.

- Essa questão do decreto é uma questão um pouco mais legal, não sei a necessidade, mas o PNC está ativado, está em operação - afirmou Bim, sem dar mais detalhes.

'Desastre ambiental'

Segundo os procuradores, a União não tem tomado as medidas adequadas e no que eles afirmam ser o maior "desastre ambiental" da história do litoral brasileiro em extensão.

"(...) tudo que se apurou é que a União não está adotando as medidas adequadas em relação a esse desastre ambiental que já chegou a 2.100 quilômetros dos nove estados da região e é considerado o maior da história no litoral brasileiro em termos de extensão".

Além do acionamento do plano, o Ministério Público também pede que as medidas institucionais para implementação do plano sejam adotadas. São ações como a atuação, com a composição integral, da autoridade nacional, do comitê executivo, do grupo de acompanhamento e avaliação, do coordenador operacional e do comitê de suporte. A atuação desses órgãos está prevista no decreto que criou o plano, assinado pela ex-presidente Dilma Rousseff em 2013.

Entre os outros pedidos, está a determinação que o coordenador operacional apresente relatórios semanais à Justiça e que utilize todos os instrumentos previstos para garantir a efetividade do plano. Além dos relatórios, o MPF pede que a União comprove que está obedecendo a ação enviando fotos à Justiça e que membros do Ministério Público acompanhem a execução do plano.

“Requer-se, também, seja determinado à demandada UNIÃO que adote todas as providências que se mostrem necessárias para disponibilizar os recursos (materiais e humanos) suficientes, a todos os órgãos e agentes envolvidos, públicos ou privados, para o efetivo cumprimento do Plano Nacional de Contingência para Incidentes de Poluição por Óleo em Águas sob Jurisdição Nacional – PNC, nos termos em que imposto por esse Juízo Federal (item precedente) e que comprove, perante esse DD. Juízo Federal, inclusive com registros fotográficos, o cumprimento das medidas adotadas”.

Segundo os procuradores, apesar da gravidade da situação, a União "simplesmente insiste em não implementar" o plano de contingência.

"A situação se agrava e apesar de tudo isso, sem qualquer justificativa plausível, a UNIÃO, embora figure como Autoridade Nacional, simplesmente insiste em não implementar o “Plano Nacional de Contingência para Incidentes de Poluição por Óleo em Águas sob Jurisdição Nacional”.

Eles também criticam a União por se limitar a "fazer limpeza de praias" e de não tomar medidas protetivas para áreas sensíveis.

"A UNIÃO, aliás, se limita a fazer limpeza de praias, a passos lentos, e também prossegue em sua omissão reiterada de não adotar medidas protetivas às áreas sensíveis, mesmo, como enfatizado, já tendo sido impactadas, remarque-se, pelo menos 12 (doze) Unidades de Conservação Federais, além de mangues, estuários etc".

Os procuradores afirmam que falta um "comando organizado" e dizem que há uma "omissão sem precedentes" por parte da União. No entanto, ressaltam o trabalho dos servidores públicos.

"E aqui, por relevante, cabe destacar: servidores públicos municipais, estaduais e federais têm trabalhado e se dedicado muito, por toda a Região Nordeste, em atividades que levam à exaustão, fator que merece registro e reconhecimento. Na outra ponta, porém, uma falta de comando organizado e uma omissão sem precedentes, porquanto apesar de planos de ação inúmeros, nada é acionado, como se o Brasil não estivesse preparado para lidar com situações dessa gravidade".

A ação foi protocolada em Sergipe, abrange os nove estados atingidos pelo óleo e é assinada por procuradores de Sergipe, Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí e Rio Grande do Norte.

O plano

O decreto do plano nacional de contingência foi assinado pela ex-presidente Dilma Rousseff em 2013 e define responsabilidades, estrutura organizacional e diretrizes para incidentes de poluição por óleo. O texto prevê que, depois de acionado, as instâncias de gestão do plano sejam mobilizadas para "facilitar, adequar e ampliar a capacidade das ações de respostas adotadas".

Entre as competências da autoridade nacional do plano, exercida pelo Ministério do Meio Ambiente, está coordenar e articular as ações para facilitar a resposta aos incidentes e decidir se existe necessidade de solicitar assistência internacional, por exemplo.

As localidades afetadas pela mancha
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Falta de informações

Na ação, o Ministério Público ressalta que nem o Ministério do Meio Ambiente nem o Ibama prestaram informações concretas, mesmo depois da expeidição de óficios aos órgãos. Os procuradores afirmam que pediram a pretação de informações a respeito das medidas adotadas e a serem adotadas em Sergipe, mas que não foram atendidos.