Vera Magalhães
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Os principais fatos da política, do Judiciário e da economia.

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Vera Magalhães

Jornalista especializada na cobertura de poder desde 1993. É âncora do "Roda Viva", na TV Cultura, e comentarista na CBN.

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GERADO EM: 18/06/2024 - 10:55

Discordâncias políticas no Copom preocupam mercado

Lula critica Campos Neto, causando unidade no Copom. Nervosismo no mercado devido à falta de confiança no ajuste fiscal. Discordâncias políticas impactam economia e decisões do BC. Medidas de corte de gastos são necessárias para enfrentar desconfiança. Presidente busca apoio, mas discurso pode não ser eficaz.

Na entrevista exclusiva que concedeu à CBN nesta terça-feira, Lula voltou a artilharia, de novo, contra o presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto. Trata-se de um expediente manjado, que não vai ajudar em nada a dissipar a desconfiança, que não está circunscrita ao mercado financeiro, na capacidade do governo de entregar o necessário ajuste fiscal. Pior para seus propósitos: pode produzir uma unanimidade da diretoria do BC em torno do presidente que se despede no fim deste ano na reunião do Copom que começa justamente hoje.

O presidente não é fã da autonomia do BC, como se sabe. Mas o mandato do BC para perseguir o cumprimento da meta de juros é anterior a ela, e, no terceiro governo, Lula já deveria ter entendido que é esta a missão precípua da autoridade monetária. Mas insiste em fazer narrativa política onde não cabe. Contribui, assim, apenas para manter o nervosismo do tal mercado ao qual tem tantas restrições.

Já era previsto pelos analistas e economistas que não deverá se repetir na reunião deste mês a divisão meio a meio que marcou a decisão do Copom de maio: os diretores designados por Lula votando por manter o ritmo de queda da Selic em meio ponto percentual, e a ala anterior, RCN à frente, pisando no freio.

Existia uma possibilidade forte de alinhamento em torno da ideia de pausar a queda da taxa básica de juros para verificar fatores internos e externos de preocupação, a situação fiscal entre eles. A fala altamente agressiva de Lula à CBN, inclusive introduzindo uma comparação incabível com Sergio Moro, pode ser o fator decisivo para produzir esse alinhamento em torno de Campos Neto, em nome de certo espírito de corpo da instituição, e para não tornar a transição de comando no BC mais tensa.

A ideia de buscar um culpado pelos dissabores que o governo enfrenta em economia não colou em 2023, e tem ainda menos aderência agora.

Enquanto contou com o vento a favor na articulação política, Lula perseverou nas medidas que apresentou ao Congresso, a economia reagiu bem e os juros começaram a cair. Não se trata de um mecanismo tão sofisticado assim.

À medida que as dificuldades políticas se avolumaram, a pauta legislativa do governo parou, fatores como os as dúvidas em relação à economia dos Estados Unidos e a tragédia do Rio Grande do Sul se impuseram e, sobretudo, o próprio ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou mudanças na meta fiscal para os próximos anos, o vento mudou.

Lula entende esses fatores perfeitamente, e, a contragosto, vem sendo informado pela equipe econômica que será preciso anunciar medidas de corte de gastos para vencer, ao menos em parte, a grande desconfiança em relação à política fiscal de seu governo.

Como já disse várias vezes que não concorda com esse rumo, que, aliás, conta com forte oposição de alguns de seus assessores mais próximos, tirou da gaveta a carta do “culpado de sempre” para responder às pressões.

Trata-se de um discurso que só pode sensibilizar quem o presidente já tem ao seu lado: o PT, os economistas de perfil desenvolvimentista e sua base mais à esquerda.

Não é esse o público que o presidente precisa trazer de volta para o apoio às suas medidas e às de Haddad neste momento. A ideia de que a melhor defesa é o ataque nem sempre funciona quando o que está em jogo é algo tão complexo quanto o ambiente econômico do país.

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