Segredos do crime
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Segredos do crime

Histórias policiais, investigações e bastidores dos crimes

Informações da coluna

Vera Araújo

Jornalista investigativa há 30 anos e autora de "Mataram Marielle" e "O Plano Flordelis: Bíblia, Filhos e Sangue". Passou por "Jornal do Brasil" e "O Dia"

A ex-assessora da vereadora Marielle Franco (PSOL), a jornalista Fernanda Chaves, única sobrevivente ao atentado contra a parlamentar, se surpreendeu com a informação da Procuradoria-Geral da República (PGR) de que também era um dos alvos do ex-sargento da Polícia Militar, Ronnie Lessa. Segundo a denúncia, a ordem dos mandantes era matar, além da vereadora, o motorista Anderson Gomes e a jornalista "com o objetivo de assegurar a impunidade do crime contra Marielle". Fernanda soube das conclusões da PGR na noite desta quinta-feira pela imprensa.

— Por enquanto, tanto eu, como meus advogados, não tivemos acesso à denúncia da PGR. Seria prematuro comentar o caso sem conhecimento do teor das informações. Tudo tem que ser analisado com muita atenção — explica Fernanda Chaves.

No último dia 7, a PGR ofereceu denúncia contra o conselheiro do Tribunal de Contas do Rio Domingos Brazão; seu irmão, o deputado federal Chiquinho Brazão (sem partido-RJ); o delegado Rivaldo Barbosa, ex-chefe da Polícia Civil do estado; e o policial militar Ronald Alves de Paula, ex-chefe da milícia de Rio das Pedras e Muzema, na Zona Oeste, pelos homicídios de Marielle e Anderson. Nesta quinta-feira, com a Polícia Federal cumprindo o mandado de prisão contra o policial militar Robson Calixto Fonseca, vulgo Peixe, assessor de Domingos, a denúncia foi divulgada. Na delação premiada de Ronnie Lessa, Robson é suspeito de ter entregado a metralhadora HKMP5, usada no crime, pelo delator.

Dia do crime

No dia 14 de março de 2018, Marielle, Fernanda e Anderson saíram, por volta das 21h, da Casa das Pretas, na Lapa, onde a vereadora participou do evento Jovens Negras Movendo as Estruturas. O Cobalt prata seguiu o Agile dirigido por Anderson até o local da emboscada, no Estácio. Segundo os investigadores, o ex-PM Élcio de Queiroz emparelhou seu carro com o da parlamentar para que Lessa atirasse, uma vez que uma de suas habilidade era o de atirar com veículo em movimento.

Os tiros que mataram Marielle atravessaram seu corpo e atingiram Anderson. A parlamentar caiu sobre Fernanda, que conseguiu escapar por milagre. Em estado de choque, a jornalista imaginou que estivessem no meio de um fogo cruzado, mas logo percebeu que o carro que viajavam que era o alvo.

Élcio de Queiroz, Ronnie Lessa, Chiquinho Brazão, Rivaldo Barbosa e Domingos Brazão: envolvidos na morte da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes — Foto: Marcelo Theobald e Reprodução
Élcio de Queiroz, Ronnie Lessa, Chiquinho Brazão, Rivaldo Barbosa e Domingos Brazão: envolvidos na morte da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes — Foto: Marcelo Theobald e Reprodução

Com estilhaços de bala presos ao cabelo, a roupa e algumas partes do corpo sujas de sangue, Fernanda demorou um pouco para perceber que havia saído ilesa. Mas bastou ouvir do policial que os demais ocupantes estavam mortos para se dar conta que fora a única sobrevivente. Sua amiga e comadre e Anderson foram executados.

Ao tomar conhecimento nesta quinta-feira, pela imprensa, sobre o conteúdo da denúncia de que também era alvo, Fernanda pode ter relembrado o pior momento de sua vida. Daí a decisão de falar só após saber o que a Polícia Federal investigou e a PGR concluiu.

De vereadora nascida na Maré, Marielle virou ícone do combate às milícias e ao crime organizado — Foto: Reprodução de colagem da revista Elástica
De vereadora nascida na Maré, Marielle virou ícone do combate às milícias e ao crime organizado — Foto: Reprodução de colagem da revista Elástica

A denúncia assinada pelo vice-procurador-geral da República, Hindenburgo Chateaubriand Filho, corrobora a investigação da Polícia Federal, conduzida pelo delegado da Polícia Federal Guilhermo de Paula Machado Catramby. Os executores Élcio de Queiroz e Ronnie Lessa, em delação premiada, apontaram os supostos mandantes e esclareceram a possível motivação: Marielle estaria atrapalhando os interesses financeiros dos irmãos Brazão com a grilagem de terras na região de Jacarepaguá.

Em certo trecho da denúncia, o vice-procurador-geral da República reforça: "Marielle se tornou, portanto, a principal opositora e o mais ativo símbolo da resistência aos interesses econômicos dos irmãos. Matá-la significava eliminar de vez o obstáculo e, ao mesmo tempo, dissuadir outros políticos do grupo de oposição a imitar-lhe a postura".

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