Renata Agostini
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Renata Agostini

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Renata Agostini

Repórter especial em Brasília e colunista do GLOBO. Formada em jornalismo pela UFRJ, passou pelas redações de Folha, Estadão, CNN, Exame e Veja.

Por — Brasília

Com a confirmação pelo Congresso das restrições à saída temporária de presos no regime semiaberto, o governo conta agora com a judicialização do tema para ter uma "saída honrosa" na discussão. Há expectativa que o Supremo Tribunal Federal (STF) seja acionado.

Para isso, estão no radar do governo discussões em andamento na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que já se posicionou claramente a favor da manutenção da "saidinha", e na Defensoria Pública União (DPU). Apesar de não poder entrar diretamente com uma ação neste caso, os argumentos da DPU podem servir de base para entidades que queiram questionar a corte. Partidos políticos, por exemplo, têm legitimidade para acionar o STF em discussões sobre constitucionalidade.

Os parlamentares derrubaram nesta terça-feira o veto de Lula às restrições à “saidinha” apesar dos esforços do Palácio do Planalto e do ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, que se engajou pessoalmente na tentativa de convencer deputados e senadores a não barrar a liberação dos detentos em datas especiais.

A derrota já era dada como certa no governo quando a sessão do Congresso começou. Além das indicações que lideranças passavam aos ministros, o clima de euforia na oposição reforçava o sentimento de que seria um dia dos mais duros para a administração Lula no Parlamento.

Horas antes de o Congresso sacramentar a decisão, Lewandowski dizia a interlocutores estar "sereno" e que, apesar da tendência ser de derrota, via "vitória moral" do governo na discussão. Para o ministro, trata-se de uma questão humanitária e propor o fim desse direito dos presos fere não só a Constituição, mas convenções internacionais das quais o Brasil é signatário.

Além disso, o time de Lewandowski vê a limitação à saidinha como um fator de desestabilização do sistema prisional. A avaliação da equipe do Ministério da Justiça é que, sem a saída temporária, rebeliões devem aumentar.

A OAB Nacional se posicionou contra a restrição da saída temporária e, em nota técnica, expôs apoio aos vetos de Lula. Segundo a entidade, o ato do presidente era necessário para "impedir a violação ao princípio da dignidade da pessoa humana, o descumprimento do dever constitucional de proteção à família, bem como para impedir o retrocesso social em matéria de direitos fundamentais". Fontes ligadas à cúpula da OAB confirmaram ao GLOBO que a ordem analisará a possibilidade de judicialização.

A DPU também divulgou nota técnica defendendo a manutenção do veto e alertando para a insegurança jurídica que o fim da saída temporária trará. ​​A defensoria já havia declarado que a saidinha - concedida somente a presos do semiaberto - é essencial para a manutenção do sistema progressivo de execução de pena no país.

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