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O ritmo da opinião pública

Informações da coluna

Vera Magalhães

Jornalista especializada na cobertura de poder desde 1993. É âncora do "Roda Viva", na TV Cultura, e comentarista na CBN.

Pablo Ortellado

Professor de Gestão de Políticas Públicas na USP

Por e — São Paulo e Rio

RESUMO

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GERADO EM: 28/06/2024 - 04:30

Desafios da Reeleição nas Capitais do Sudeste

Prefeitos em busca de reeleição enfrentam desafios distintos em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Pesquisas indicam cenários variados, com destaque para a influência de Bolsonaro e Lula nas campanhas. A polarização política e a nacionalização das eleições são temas presentes, com alianças e estratégias sendo discutidas para garantir o apoio dos eleitores. O Sudeste é visto como uma região-chave para as eleições futuras.

As primeiras pesquisas de intenções de voto divulgadas em algumas das principais capitais do país indicam desafios desiguais para prefeitos que buscarão a reeleição em outubro e sinalizam que campanhas precisarão fazer ajustes em relação ao nível de envolvimento do presidente Lula (PT) e do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) nas disputas em São Paulo, Rio e Belo Horizonte.

Na cidade mais populosa do país, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) larga na corrida eleitoral embolado no pelotão da frente com mais dois adversários, o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) e o apresentador José Luiz Datena (PSDB). Segundo pesquisa divulgada ontem pela Quaest, o emedebista tem 22% das intenções de voto contra 21% do parlamentar e 17% do tucano — considerando a margem de erro de três pontos percentuais para mais ou menos, os três estão tecnicamente empatados.

Nunes tem o governo bem avaliado por 31% dos eleitores paulistanos, contra 20% que o desaprovam. O atual prefeito é apoiado por Bolsonaro e pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos). Mas a luz amarela está acesa em sua pré-campanha devido às indicações de que tanto Datena quanto o ex-coach Pablo Marçal (PRTB) conseguem tomar do emedebista parte dos votos do eleitorado bolsonarista.

Embora 50% dos moradores de São Paulo afirmem que gostariam que o próximo prefeito da cidade seja um candidato “independente”, o núcleo político aposta que a eleição paulistana será altamente polarizada, à imagem do pleito presidencial de 2022. Se de um lado Nunes tem o apoio declarado de Bolsonaro, Boulos contará com a presença de Lula em seu palanque.

— A nacionalização da eleição é uma questão que já estava posta, e que fica ainda mais forte pela opção do Nunes de trazer um vice próximo a Bolsonaro — diz o deputado estadual Paulo Fiorilo (PT), um dos coordenadores da pré-campanha de Boulos, referindo-se à confirmação do ex-coronel da PM Mello Araújo (PL) na chapa de Nunes.

O prefeito vinha adiando a escolha de seu vice, mas se viu pressionado diante da entrada de Marçal na disputa. O ex-coach é apoiador de Bolsonaro e tem a simpatia de parte do eleitorado do ex-presidente, com quem se encontrou no início do mês.

Apoios dos padrinhos

Os dados da Quaest mostram que há ainda uma compreensão maior do eleitorado sobre o apoio de Lula a Boulos do que em relação à existência do pacto entre Bolsonaro e Nunes. São 50% os que dizem “achar” que Boulos será o nome apoiado pelo presidente, enquanto 29% “acham” que Nunes terá o apoio de Bolsonaro — outros 10% pensam que o apadrinhado será Marçal, mesmo percentual dos que acham que Datena terá o apoio do ex-presidente.

Para o CEO do instituto de pesquisas, Felipe Nunes, a aliança do prefeito com Bolsonaro é “uma faca de dois gumes”, uma vez que o ex-presidente tem rejeição alta na capital paulista:

— Nunes tem muito a ganhar na largada, porque ele não é um nome amplamente conhecido e não tem o seu trabalho tão reconhecido, o que o faz depender de um padrinho. Mas na chegada essa rejeição do Bolsonaro poderá ser um problema.

Se em São Paulo o prefeito inicia a campanha em um cenário de incerteza, na capital fluminense a Quaest indica que o prefeito Eduardo Paes (PSD) tem situação mais confortável. Aliado de Lula, o pré-candidato à reeleição no Rio tem 51% das intenções de voto, mais que a soma de todos seus adversários na disputa.

O levantamento sinaliza ao deputado federal Alexandre Ramagem (PL) a necessidade de colar sua imagem na de Bolsonaro, a quem serviu como diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante o mandato do ex-presidente. Ramagem alcança 11% das intenções de voto quando seu nome é apresentado isoladamente aos eleitores do Rio, mas sobe para 29% quando sua candidatura é acompanhada pela expressão “apoiado por Bolsonaro”. Paes, por outro lado, oscila de 51% para 47% se apresentado como o candidato “apoiado por Lula”.

A aposta do PL será justamente a de nacionalizar a campanha, conforme apurou a colunista do GLOBO Malu Gaspar junto a aliados próximos ao presidente nacional da legenda, Valdemar Costa Neto. O partido se apega ao retrospecto de Bolsonaro na cidade, seu berço político, onde o ex-presidente obteve 52,7% dos votos válidos no segundo turno de 2022, ante 47,3% de Lula.

Paes, por sua vez, é pressionado pelos partidos que compõem sua coligação a aceitar um vice de fora do PSD para atrair o eleitorado de esquerda e evitar que essa massa se disperse para o voto em Tarcísio Motta, do PSOL. Para a presidente nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), a chapa do atual prefeito “tem que cativar” a militância.

Cenário embolado em BH

Em Belo Horizonte, a pesquisa mais recente da Quaest mostra que o atual prefeito, Fuad Noman (PSD), tem só 9% das intenções de voto e está espremido em meio a um bloco com outros cinco nomes correndo atrás do líder da disputa eleitoral, o deputado estadual Mauro Tramonte (Republicanos), que tem 25% das menções.

Assim como Datena em São Paulo, Tramonte é apresentador de um programa policial na TV e consegue atrair especialmente o eleitorado menos escolarizado e de renda familiar mais baixa.

O fato de Fuad ter largado atrás e de os candidatos de Lula (Rogério Correia, do PT) e Bolsonaro (Bruno Engler, do PL) em BH serem desconhecidos pela maioria dos eleitores tem potencial de provocar mudanças no tabuleiro político da cidade até a oficialização das candidaturas.

Tramonte se aproximou do senador Carlos Viana (Podemos), que tem 9% das intenções de voto, e os dois discutem uma possível aliança. Em paralelo a isso, o presidente do Senado e correligionário de Fuad, Rodrigo Pacheco (MG), procurou o Republicanos para tentar convencer Tramonte a ser vice do atual prefeito.

O nome de Correia também é aventado como uma alternativa para compor a chapa de Fuad, e as indefinições na capital mineira têm feito Lula adotar cautela em sua visita ao estado — o presidente desembarcou ontem no estado e deve participar de evento hoje ao lado de Rogério Correia.

— Acho que temos que esperar ainda para ver como vai se consolidar a disputa eleitoral, as candidaturas e alianças. Eu, como presidente, não quero entrar em disputas entre candidatos da base, do campo democrático — disse Lula em entrevista ao jornal “O Tempo”.

O peso do sudeste

Já Bruno Engler tenta atrair o governador Romeu Zema (Novo) para seu palanque e ofereceu o posto de vice em sua chapa à ex-secretária e pré-candidata do Novo, Luísa Barreto, que pontua 1% na pesquisa. O movimento atende ao desejo de Valdemar Costa Neto, que deseja uma aliança da direita na disputa.

— Zema é uma figura importante, e Minas Gerais tem que estar junto com a gente como esteve no passado e vai estar no futuro. Nós temos que nos acertar agora para poder nos acertar para 2026 — declarou o presidente do PL.

Felipe Nunes avalia que Lula e Bolsonaro não poderão deixar de se empenhar nas campanhas nas três maiores cidades do Sudeste devido ao peso que essas regiões, que juntas abrigam um décimo da população brasileira, terão na próxima eleição presidencial.

— As três capitais são importantes arenas de disputa política para quem quiser ganhar em 2026. Na última eleição, o Bolsonaro manteve no Nordeste o mesmo percentual de votos que teve quando foi eleito em 2018, mas recuou 11 pontos no Sudeste. É nesse espaço que o xadrez político poderá ser decidido — afirma.

Mais recente Próxima Pesquisa Genial/Quaest: Nunes (22%) e Boulos (21%) têm a companhia de Datena (17%) em empate triplo em SP