No domingo, estimamos o tamanho da multidão e fizemos uma pesquisa de opinião com os bolsonaristas que estiveram na avenida Paulista atendendo o chamado do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Nossa estimativa do número de pessoas presentes é feita a partir de fotos de drones e uso de um software de inteligência artificial treinado para reconhecer cabeças em fotos aéreas. Estimamos em 185 mil pessoas a multidão na Paulista às 15 horas. Esse número é bastante alto e o maior que já medimos nos últimos dois anos em que acompanhamentos protestos de rua em São Paulo.
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Entrevistamos 575 pessoas que estiveram na manifestação, medimos a demografia e a identidade política e fizemos perguntas sobre alguns temas políticos. A margem de erro, com grau de confiança de 95%, é de 4 pontos percentuais, para mais ou para menos. Descobrimos que um terço dos manifestantes (34%) veio de fora da Grande São Paulo — do interior, mas também de outros estados.
Perguntamos para os manifetantes quais candidatos gostariam que concorresse nas eleições presidenciais de 2026 com a impossibilidade legal de Jair Bolsonaro. Colocamos um leque grande de candidatos (que incluía Damares, Eduardo e Flavio Bolsonaro), mas confirmou-se entre os presentes a grande preferência pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (com o apoio de 61%), seguido de longe por Michele Bolsonaro (com 19%).
Se Bolsonaro não puder ser candidato, qual dos nomes é o melhor para concorrer à Presidência da República?
Candidato | Percentual |
Tarcisio de Freitas | 61% |
Michele Bolsonaro | 19% |
Romeu Zema | 7% |
Eduardo Bolsonaro | 1% |
Damares Alves | 1% |
Flavio Bolsonaro | 1% |
General Braga Neto | 1% |
Não sei | 6% |
Nenhum deles | 3% |
Em São Paulo, as lideranças bolsonaristas estão divididas entre lançar um candidato próprio (fala-se principalmente do deputado Ricardo Salles) ou apoiar o atual prefeito Ricardo Nunes. Perguntamos qual das opções os manifestantes queriam e eles se dividiram, com 47% preferindo um candidato bolsonarista “puro sangue” e 37% preferindo apoiar o atual prefeito.
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Bolsonaro deve lançar um candidato à Prefeitura de São Paulo ou apoiar o atual prefeito Ricardo Nunes?
Lançar um candidato | 47% |
Apoiar Ricardo Nunes | 37% |
Não sei | 15% |
Investigamos também o preocupante apoio às medidas de exceção que foram cogitadas no final do governo Bolsonaro em 2022: a decretação de um estado de sítio, de uma operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) e o acionamento do artigo 142 da Constituição, que muitos bolsonaristas entendem que autoriza as Forças Armadas a arbitrarem um conflito entre os poderes da República. Os bolsonaristas estavam muito divididos sobre o uso destes instrumentos em 2022 e o que teve menos apoio foi justamente o Estado de sítio —que Bolsonaro defendeu durante o discurso (disse que, como era um mecanismo constitucional, não constituiria tentativa de golpe de Estado). Vale destacar que 42% dos entrevistados não apoiavam nenhuma das três medidas. Quase metade dos bolsonaristas mobilizados não sabia ou preferia que Bolsonaro não tivesse tentado nenhum desses caminhos.
O que Bolsonaro deveria ter feito ao fim de 2022?
Sim | Não | Não sei | |
Deveria ter decretado uma operação de GLO (Garantia da Lei e da Ordem)? | 49% | 39% | 12% |
Deveria ter invocado o artigo 142 para solicitar a arbitragem das Forças Armadas? | 42% | 45% | 12% |
Deveria ter decretado Estado de Sítio? | 23% | 61% | 15% |
Perguntamos também como viam o resultado das eleições e como interpretavam os processos judiciais após o 8 de janeiro. Esperávamos um índice alto de bolsonaristas que acreditavam que as eleições presidenciais de 2022 tinham sido fraudadas e se consideravam perseguidos nos inquéritos instaurados após o 8 de janeiro. Porém os números foram ainda mais elevados com 88% dos presentes considerando que foi Bolsonaro quem ganhou as eleições e 94% acreditando que vivemos hoje numa ditadura.
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Resultado das eleições e estado da democracia brasileira
Sim | Não | Não sei | |
Acredita que foi Bolsonaro e não Lula quem de fato ganhou a eleição para presidente em 2022? | 88% | 8% | 4% |
Os excessos e perseguições da Justiça caracterizam a situação atual como uma ditadura? | 94% | 4% | 2% |
Os resultados mostram um público bolsonarista acuado, se sentido perseguido politicamente pela Justiça e vítima de uma fraude eleitoral. A alta participação e engajamento em uma manifestação com esse teor deveriam preocupar a todos nós. É muito ruim que uma parte grande do eleitorado sinta que não tem espaço na democracia brasileira, ainda que, ao que tudo indica, as eleições de 2022 tenham sido limpas. A Justiça precisa estar atenta e evitar recursos a práticas heterodoxas nos processos do 8 de janeiro para não ampliar a sensação de que há perseguição. E todos nós precisamos melhor a comunicação e a interlocução com esse segmento importante da sociedade brasileira que faz parte da cidadania.