Portugal Giro
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Portugal visto de dentro por um jornalista carioca

Informações da coluna

Gian Amato

Jornalista há mais de 20 anos, fez diversas coberturas internacionais por O Globo. Escreve de Portugal desde 2017.

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A família de Felipe Torto dos Santos, morto aos 33 anos após acidente de trabalho em um supermercado de Portugal, mantém o sonho de viver no país.

Esposa de Santos, Poliana Santana, de 35 anos, disse ao Portugal Giro que a melhor homenagem ao marido e pai é prosseguir com o planejamento feito para a família.

— Não tenho medo, vou ficar aqui para seguir nosso sonho. Nós sempre trabalhamos e educamos nossos três filhos. Felipe tinha esta força e a luz dele está viva — disse Santana.

Ela conta que o casal decidiu emigrar para Portugal em 2022 depois que a transportadora que mantinham em São Paulo foi afetada pela crise econômica pós-pandemia de Covid-19.

— Éramos classe média estável. Vendemos casa e carros para emigrar. Com os gastos com saúde e escola particular lá, é melhor aqui em Portugal, com hospital e colégios públicos.

A estratégia da família é a mesma de milhares de brasileiros em Portugal, que buscam mais qualidade de vida. Além dos cinco, foram com eles a mãe, a irmã e a sobrinha de Poliana.

— Ele não tinha obrigação, mas me ajudou a trazer minha mãe, irmã e sobrinha. A vida em família Barcelos é boa, trocamos a ida ao shopping pelo piquenique no parque — lembrou.

Com a mudança do apartamento de três quartos no centro para um imóvel do mesmo tamanho, mas mais afastado, a família ganhou espaço e poupou dinheiro com aluguel.

— Pagávamos € 900 (R$ 4,8 mil) e passamos a pagar € 550 (R$ 2,9 mil) em uma casa boa, com uma hortinha, onde minha mãe gosta de passar o tempo dela — disse Santana.

Santana trabalhava no supermercado. Felipe, em uma empresa têxtil. Ela conta que ele decidiu trabalhar meio expediente no supermercado para ganhar mais.

— O meio expediente aconteceu depois que houve a necessidade de dois dos nossos filhos terem que fazer terapia da fala. Foi para poder pagar as despesas — afirmou Santana.

Ela conta que fez a manifestação de interesse (autorização provisória e limitada) em dezembro de 2022 e espera ser chamada. Poderia receber apoios, se o governo fosse ágil.

— Nada. Não tenho apoio ou ajuda dos órgãos do governo por ainda estar esperando a minha autorização de residência — disse ela.

Santana foi testemunha do acidente em fevereiro que acabou sendo fatal para Felipe, que morreu no último domingo depois de quase um mês internado no hospital de Braga:

— A empresa me deu uma dispensa temporária (baixa) isenta, porque eu testemunhei o acidente e fiquei em estado de choque. Recebo o salário integral.

A empresa, uma das maiores cadeias de supermercados do país, prometeu apoio. Amigos em Portugal e no Brasil quiseram doar dinheiro e entregaram alimentos.

— Os alimentos foram bem-vindos. Quando perguntaram: “Está precisando de um Pix?”, eu disse que não. Eu estou à espera da empresa, eu trabalho e não quero usar isso — disse.

Por fim, Santana diz que as mensagens que chegam a todo momento do Brasil e de Portugal servem de consolo.

— Felipe era expansivo, extrovertido e deixava uma marca por onde passava. Estávamos sempre juntos. Agora, perdi meu conselheiro, meu mimo. Posso me sentir perdida, mas não vou deixar faltar nada para minha família — concluiu Santana.

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