Míriam Leitão
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Míriam Leitão

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O primeiro movimento importante que aconteceu nas eleições na França foi barrar a extrema-direita que saiu na frente no primeiro turno. Isso foi conseguido com a estratégia de união entre os partidos da esquerda e os de centro. Mas agora vem a maior dificuldade: governar nessa heterogeneidade.

Do ponto de vista econômico, há grandes dificuldades a serem enfrentadas. A França está com 5,5% de déficit público, acima do que prevê o Tratado de Maastricht que organizou a União Europeia. O presidente Emmanuel Macron deveria reduzir esse déficit público e agora ele precisa lidar com um grupo que defende propostas que são expansionistas do ponto de vista do gasto público.

Há muito tempo não se aumenta o salário mínimo, é possível que venha um reajuste. Outros pontos da agenda da Nova Frente Popular, porém podem bater de frente com o objetivo melhorar as contas públicas. Mas a grande vitória de domingo foi o das forças democráticas contra a extrema-direita de inspiração fascista do Reagrupamento Nacional (RN), liderado por Marine Le Pen e Jordan Bardella , que ameaçava ter maioria no Parlamento francês. Há um crescimento da extrema-direita no mundo inteiro, e apesar do avanço na França, o país conseguiu barrar sua chegada ao poder.

E como se conseguiu isso? Com a união entre a esquerda e o centro. Nas eleições francesas é possível haver mais de dois candidatos no segundo turno, sendo assim em cada distrito foi mantido o candidato mais viável na disputa contra a extrema-direita, cabendo aos demais a renúncia. A negociação aconteceu entre os partidos de esquerda e verdes e o centro do presidente Emmanuel Macron. Várias candidaturas foram retiradas durante a última semana, numa estratégia de fortalecimento do grupo de centro e de esquerda na disputa.

Se soma a essa iniciativa, a presença esmagadora do povo francês nas urnas, 67% de comparecimento, a maior participação em 40 anos, o que se desdobrou numa reviravolta surpreendente que levou a extrema-direita do primeiro para o terceiro lugar no resultado final das eleições.

De toda forma a extrema-direita avançou, deve dobrar sua participação no Parlamento francês.

Será complicadíssimo governar nesse novo cenário sem maioria. Não haverá maioria na assembleia francesa, haverá três "grandes" minorias. A maior delas é a Nova Frente Popular, de esquerda, o Juntos, que é o grupo do Macron, ficou em segundo lugar e o Reagrupamento Nacional, que é da extrema direita, em terceiro. Há cinco tendências de esquerda e elas não são unidas entre si. Há França Insubmissa, de Jean-Luc Mélenchon, que é considerada extrema-esquerda, tem os socialistas, os verdes, que se juntaram nessa Nova Frente Popular, que foi a que ficou com a maior minoria.

Gabriel Attal, primeiro-ministro francês, que é do grupo político de Macron, renunciou, abrindo espaço para uma reorganização do governo. O presidente , no entanto, não aceitou a renúncia e o manterá no cargo, enquanto as novas forças se organizam no Parlamento.

Como Macron vai lidar com esse novo parlamento, no qual o macronismo não é mais maioria, é a questão do momento. Isto porque, o programa da Nova Frente Popular tem pontos que são fáceis de serem incorporados pelo governo, outros, no entanto, são difíceis na atual situação fiscal do país.

Mas a grande lição francesa foi que as forças democráticas precisam se unir diante das ameaças neofascistas que têm avançado no mundo. Mais uma vez, a França nos aponta caminhos, é a união da esquerda com o centro, e até da direita democrática, o caminho para vencer esse movimento da extrema-direita.

Nada contra a direita, quando ela é democrática, o problema é que a força que tem crescido em vários países do mundo é de direita extrema que emula ideias e métodos dos fascistas e dos nazistas. Na França, por exemplo, um cartaz do Reagrupamento Nacional dizia que a França deveria ser das crianças brancas.

A direita democrática é importante no equilíbrio de forças políticas em qualquer país, mas a união precisa correr contra movimentos que deixaram tragédias impregnadas na História. No Reino Unido, aliás, houve na última semana outra vitória importante, a dos trabalhistas, sucedendo os conservadores, uma transição elegante, com respeito de parte a parte.

No Irã, o candidato moderado foi o vencedor da eleição, prometendo reduzir a repressão contra mulheres. A ver.

Os últimos dias marcaram um bom momento contra os extremos. Mas há ainda muito o que discutir a partir de agora. A França tem que reorganizar o governo. O presidente na França tem muitos poderes. Como Macron vai se organizar ainda não está claro, mas se quiser governar sem a coabitação, que já ocorreu em outros momentos da história francesas, será um governo instável.

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