Míriam Leitão
PUBLICIDADE
Míriam Leitão

O olhar único que há 50 anos acompanha o que é notícia no Brasil e no mundo

Informações da coluna

RESUMO

Sem tempo? Ferramenta de IA resume para você

GERADO EM: 27/06/2024 - 15:47

Pressão da mudança climática na inflação de alimentos

As mudanças climáticas estão aumentando a pressão sobre a inflação de alimentos. O clima adverso afeta a produção e os preços dos alimentos, levando a projeções de alta de 6% nos alimentos e uma inflação média de 4,15% no país. O cenário incerto pode resultar em impactos significativos na economia em 2024.

As mudanças climáticas, responsáveis pelo excesso de chuva no Sul e a antecipação da seca no Centro-Oeste, estão fazendo com que os alimentos pressionem a inflação por mais tempo este ano. Em condições normais, essa é uma época em que os alimentos in natura costumam cair de preço. No entanto, todos os indicadores divulgados até aqui ainda mostram forte influencia dessa categoria. E não foi diferente com o IGP-M, divulgado nesta quinta-feira pelo FGV Ibre, que registrou alta de 0,81% em junho. Apesar do índice ser menor em relação ao de maio, quando subiu 0,89%, em 12 meses houve uma aceleração, alta de 2,45% ante a uma queda de 6,86% nos 12 meses anteriores.

Segundo André Braz, coordenador dos Índices de Preços do FGV Ibre, tanto no Índice de Preços ao Produtor Amplo (I PA) quanto no Índice de Preço ao Consumidor (IPC) - que compõe o IGP-M- as maiores contribuições para essa subida vieram dos alimentos.

- Os alimentos in natura normalmente começam a apresentar queda de preço agora. Uma estação mais seca, onde é mais fácil controlar o volume de água do que no verão, onde chove toda hora. Mas como o clima mudou, tá seco no Centro-Oeste e chovendo muito no Sul. Com isso, a oferta de alimentos também está confusa.

Braz explica que ainda sobre os alimentos os efeitos sazonais:

- São aqueles que acontecem sempre nesta época do ano. Isso está bem explícito no preço do leite. O leite está ficando mais caro e com ele tende a ficar mais caro toda a cadeia de derivados. Isso é um problema. O outro é o café. O café está subindo de preço no mercado internacional e também houve a nossa desvalorização cambial. E isso afeta o preço do café doméstico, o que já aparece no IPA e no IPC.

A próxima pressão, diz o economista, deve vir do trigo, diante da desvalorização do real frente ao dólar.

- O Brasil não é autossuficiente em trigo, produz , menos da metade do trigo que consome, o que nos leva a nos preocupar com o preço desse produto. O trigo contamina toda a cadeia de itens derivados, a farinha, consequentemente pães, massas, biscoitos. A soja e o milho, por sua vez, encarecem o preço das carnes. Então, se houver problema de safra, principalmente no Centro-Oeste e no Sul, relacionado à safra dessas grandes commodities, junto com a nossa desvalorização cambial, porque nesse caso não importa o Brasil ser o maior produtor, que o preço desses produtos é cotado em dólar. Então, se a nossa moeda desvaloriza, a gente paga mais caro por eles. Isso também tende a contaminar o preço de carne de aves, suínas, a parte de ovos, que são os animais que consomem esses grãos para engordar. Então, a história da alimentação ainda está sendo contada em 2024 e a possibilidade de a gente ter um impacto maior do que a gente tinha na planilha - ressalta.

Com esse cenário, Braz projeta uma alta de 6% para os alimentos.

-Quero eu fazer uma revisão para baixo desse número, mas por enquanto eu sustento. E com ele, a inflação média do país deve ultrapassar a casa dos 4%, ficando em 4,15% - conclui.

Mais recente Próxima ​ Banco Central sai à frente do mercado e projeta crescimento de 2,3% para este ano