A substituição do ano-calendário pela meta contínua de inflação, que deve ser publicada nesta quarta-feira após o aval do presidente Lula, não altera substancialmente a maneira como o Banco Central age, avalia Carlos Lopes, economista do banco BV.
Ele explica que a autoridade monetária já há bastante tempo olha para um horizonte relevante de projeção por volta de dois anos para frente. E em episódios com choques específicos como reajuste de combustíveis, ou mudanças em impostos, por exemplo, o Banco Central teve o cuidado de destacar que era uma pressão pontual.
- Acho que a principal vantagem da meta contínua é justamente evitar que a política monetária reaja a choques específicos para fazer com que a meta atinja aquele valor no final do ano-calendário. Acho que, na prática, não altera muito do jeito que o Banco Central já atua hoje.
Isto porque, afirma Lopes, o intervalo de flutuação da meta - 1,5pp para cima ou para baixo - já dá essa flexibilidade para o Banco Central.
A Secretaria de Política Econômica deve divulgar uma nota técnica sobre a mudança na meta nesta quarta-feira. Em seguida, o Conselho Monetário Nacional (CMN) - formado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, pela ministra do Planejamento, Simone Tebet, e pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto - se reunirá para definir a meta de inflação, que deve ser de 3%. Lembrando que em julho do ano passado, o CMN aprovou o regime de meta contínua a partir de 2025.
- A meta em 3% é algo bem compatível com o que a gente tem de experiência internacional e já é uma meta baixa, digamos assim. Principalmente para mercados emergentes com economias um pouco mais instáveis. Então acho que a manutenção dessa meta não deve trazer não deve trazer grandes surpresas. O mais importante é o compromisso e em atingir essa meta e manter a inflação dentro desse intervalo de flutuação por bastante tempo.
Como explica a matéria de Sérgio Roxo e Karolini Bandeira, com a mudança na meta de inflação, em vez de considerar um ano cheio para atingir a meta, o objetivo seria perseguido num período mais longo. Dessa forma, o BC poderia ser mais suave na sua atuação para manter os preços sob controle. Segundo os repórteres, a avaliação dentro do governo é que uma regra que não siga o ano-calendário poderia atenuar as pressões e reduzir as chances da a política monetária ser muito contracionista - ou seja, com taxas de juros muito elevadas.