Malu Gaspar
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Por — Brasília

A cúpula da Procuradoria-Geral da República (PGR) avalia que a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) foi “infeliz”, mas não cometeu o crime de racismo ao trocar nomes e chamar a deputada Benedita da Silva (PT-RJ) de “Chica da Silva”.

A PGR ainda não se manifestou oficialmente no caso, mas terá que fazê-lo em uma representação que o líder do PT na Câmara, Odair Cunha (PT-MG) apresentou contra a parlamentar bolsonarista na última quarta-feira (3).

Na terça-feira (2), Zambelli chamou Benedita de “Chica” enquanto reclamava de não ter espaço de fala na Reunião de Mulheres Parlamentares do P20, que ocorreu em Maceió (AL). O evento reuniu parlamentares de países-membros do G20 para discutir temas como combate às desigualdades e representatividade feminina.

– “Eu não vou ter poder de fala, né? Eu não vou falar porque provavelmente... não sei por que que não vou falar. Parece que já foi montada pela Secretaria da Mulher, que é a Chica da Silva”, disse Zambelli.

Benedita da Silva é a atual coordenadora da Secretaria da Mulher na Câmara dos Deputados. Durante a reunião em Maceió, Zambelli também trocou o nome da colega em outra oportunidade, chamando “Benedita” de “Chica”, em entrevista à TV Câmara.

Odair alega que Zambelli “demonstrou ter dificuldades de conviver com a pluralidade democrática” ao chamar – duas vezes num mesmo dia – Benedita de “Chica da Silva”, filha de uma mulher negra escravizada e de um português, nascida no século XVIII na região de mineração de diamantes do arraial do Tejuco, atual cidade mineira de Diamantina.

“Claramente se vislumbra que a comparação com a personagem é usada pela deputada agressora no contexto de sua fala de forma pejorativa, para desqualificar sua identidade racial e, especialmente, sua história política de luta pelos direitos das mulheres”, sustenta Odair.

Segundo interlocutores do procurador-geral da República, Paulo Gonet, para configurar o crime de racismo seria preciso comprovar que Zambelli agiu com a intenção de ofender a deputada petista nas duas ocasiões.

Mas a própria parlamentar bolsonarista, por meio de nota, alegou que confundiu os nomes e que se desculpou com a colega ainda durante o evento em Alagoas.

“Zambelli lamenta o referido lapso, mas torna público que não houve qualquer intenção de ofensa à sua colega de Parlamento. Mais uma vez, Carla Zambelli pede desculpas à deputada Benedita da Silva”, diz o comunicado.

Benedita, no entanto, afirmou ao GLOBO que a fala teve, sim, cunho racista e que Zambelli “terá a correção necessária”.

Outro argumento que circula nos bastidores da PGR é a relevância histórica da figura de Chica da Silva, que se tornou uma das mulheres mais importantes da sociedade colonial de Minas Gerais devido à sua ascensão social.

Chica foi comprada e alforriada pelo contratador de diamantes João Fernandes de Oliveira, com quem viveu 16 anos e teve 13 filhos. A personagem foi a primeira protagonista da atriz Taís Araújo, em uma novela veiculada em 1996 pela Rede Manchete.

Seria, portanto, uma associação nada pejorativa, na avaliação de integrantes da PGR.

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