Malu Gaspar
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Por Malu Gaspar

Quatro meses antes do terremoto que rachou casas e ruas de Maceió em 2018, dando início ao processo que levou ao desmoronamento recente de uma mina, a Braskem comunicou à Secretaria de Recursos Hídricos (Semarh) do governo de Alagoas o fechamento de dois poços artesianos que serviam à mineração de sal-gema na região.

Esses poços fornecem a água que é injetada nas minas para bombear a salmoura de onde se tira a sal-gema usada para fabricar de PVC a soda cáustica.

Documentos a que tivemos acesso mostram que, em novembro de 2017, a Braskem avisou ao governo do estado que os poços PW23 e PW27 tinham sido tamponados em decorrência de um colapso. O poço 23 ficava a 686 metros do epicentro do abalo de 2018, e o 27, a 343 metros.

Mapa dos poços da Braskem que tiveram alterações meses antes do terremoto de 2018 — Foto: Reprodução
Mapa dos poços da Braskem que tiveram alterações meses antes do terremoto de 2018 — Foto: Reprodução

Diante da informação sobre o colapso, o governo cancelou a outorga para a exploração dos poços, mas não pediu novas informações ou relatórios a respeito do que tinha acontecido. Também não fez qualquer inspeção adicional.

Questionada sobre o caso, a Braskem afirmou que tempos depois concluiu que afinal o que aconteceu não foi um colapso e sim que os poços estavam com pouca vazão. A empresa, porém, disse que não repassou a informação à Secretaria de Recursos Hídricos.

No final de 2017, portanto, o que o governo de Alagoas sabia era que dois poços artesianos no entorno de minas da Braskem tinham colapsado. Em março de 2018, quatro meses depois, um tremor de 2,5 graus na escala Richter fez surgir crateras nas ruas e rachaduras nas paredes das casas de cinco bairros, fazendo com que milhares de moradores deixassem suas casas.

Mesmo assim, não houve nenhuma apuração quanto à situação dos poços nem antes e nem depois do terremoto – segundo a assessoria de imprensa da Secretaria de Recursos Hídricos, porque "o colapso de poços é algo comum, não necessariamente relacionado aos eventos referentes às minas da Braskem".

Não é o que dizem dois geólogos que conhecem bem a região por terem se debruçado sobre os dados para produzir estudos sobre o impacto da mineração de sal-gema em Maceió.

Segundo esses técnicos, que não trabalham nem para a prefeitura e nem para o governo estadual, mas pediram para serem mantidos no anonimato, colapsos de poços artesianos em zona de mineração em área urbana não são ocorrências comuns, e uma informação como a enviada pela Braskem deveria ter desencadeado uma investigação mais atenta.

Eles afirmam que embora um eventual colapso de poços artesianos não fosse suficiente para causar o abalo que veio depois, o fato de haver sob suspeita de colapso deveria ter sido entendido como sintoma de que havia algo de errado naquela área.

"Os poços provavelmente foram 'vítimas' da instabilidade na região, e não a causa", disse um desses técnicos.

Naquela época não havia indicadores precisos de instabilidade, mas dados de consultorias contratadas pela própria Braskem depois do terremoto de 2018 e enviados ao MPF mostram que a instabilidade no subsolo de Maceió vinha aumentando constantemente desde 2011. Só em 2017 o solo afundou aproximadamente 10 cm. Em 2018, foram 25 cm de afundamento

Um levantamento mais acurado sobre as causas do fechamento dos poços poderia ter levado à constatação de que o solo estava se movendo, mesmo que o colapso não se confirmasse.

A Secretaria de Recursos Hídricos do governo de Alagoas informou ainda que a Braskem tem 31 poços na área das minas. De acordo com o governo estadual, não há registro de fechamento de poços depois de 2017, mas desde 2022 a Semarh não libera renovação nem outorga de novos poços artesianos à Braskem.

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