Malu Gaspar
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Informações da coluna

Por Rafael Moraes Moura — Brasília

A subprocuradora-geral da República Julieta Elizabeth Fajardo decidiu na noite desta terça-feira (12) derrubar o polêmico desconto de R$ 6,8 bilhões concedido por um colega no acordo de leniência do grupo J&F.

Mas uma manobra de um aliado do procurador-geral da República, Augusto Aras, retirou o caso das mãos de Julieta e do Conselho Institucional do MPF, onde a redução bilionária da multa a ser paga pelo grupo dos irmãos Joesley e Wesley Batista está prevista para ser discutida nesta quarta-feira à tarde.

Por decisão do corregedor nacional do Ministério Público, Oswaldo D'Albuquerque, o processo deve sair do Conselho Institucional do MPF, onde o caso estava sob a relatoria de Julieta, e ser encaminhado ao Conselho Nacional do MP, onde Aras detém mais poder e controle.

Segundo a equipe da coluna apurou, Julieta deu a decisão liminar derrubando a revisão bilionária no valor da multa pouco depois de Oswaldo D’Albuquerque decidir retirar o caso de suas mãos.

Isso porque, ao suspender a repactuação do acordo de leniência da J&F, a relatora ainda não havia sido comunicada oficialmente da determinação do corregedor de chamar o caso para si.

Integrantes da PGR ouvidos reservadamente pela equipe da coluna divergem se a liminar de Julieta continua valendo mesmo com a decisão do corregedor de retirar o caso das mãos dela. A única certeza é a de que a controvérsia ainda não está pacificada e marca de forma melancólica o fim da gestão Aras.

Na reclamação apresentada no mês passado ao Conselho Institucional do MPF, o procurador da República Carlos Henrique Martins Lima, responsável pelo caso na primeira instância, argumenta que o desconto, concedido de forma unilateral pelo subprocurador-geral da República Ronaldo Albo, não só foi decidido com “manifesta ilegalidade”, como “poderá ocasionar prejuízos irreversíveis” ao cumprimento do acordo de leniência.

Em fevereiro do ano passado, o Conselho Institucional do MPF já havia decidido que cabia a Martins Lima – e não à 5ª Câmara de Coordenação e Revisão do MPF, chefiada por Ronaldo Albo – conduzir qualquer renegociação sobre o acordo, firmado em 2017.

Martins Lima negou a revisão bilionária no valor da multa, mas mesmo assim a J&F recorreu à 5ª Câmara, onde Ronaldo Albo “tratorou” o voto de dois colegas contrários à revisão e impôs a sua vontade, atendendo aos interesses do grupo.

No início do mês, a gestão Aras já tinha feito outra manobra interna, daquela vez para blindar uma apuração sobre a conduta de Albo.

Aras tirou da Corregedoria do MPF e passou também para o CNMP o inquérito disciplinar aberto contra Albo.

Ao tirar o recurso contra o desconto bilionário concedido à J&F, Oswaldo D’Albuquerque justificou que, já que o inquérito contra Ronaldo Albo tinha ido pro CNMP, a reclamação contra a revisão no acordo de leniência também teria que ir.

Agora, caberá ao Conselho Nacional do MP decidir não apenas se pune ou não Albo, como se mantém de pé ou não a redução da multa a ser paga pelo grupo dos irmãos Joesley e Wesley Batista.

“Em princípio, causa estranheza, porque a discussão no Conselho Institucional não tem caráter disciplinar”, disse um integrante do conselho à equipe da coluna.

O procurador-geral da República detém influência e o controle do CNMP – diferentemente da Corregedoria, onde um desfecho desfavorável a Ronaldo Albo era considerado inevitável.

Inicialmente, os R$ 10,3 bilhões do acordo de leniência da J&F seriam distribuídos em quatro partes de R$ 1,75 bilhão a serem distribuídos para BNDES, União, Funcef e à Petros (Fundação Petrobras de Seguridade Social), além de mais duas cotas de R$ 500 milhões, uma para a Caixa e outra para o Fundo de Garantia de Tempo de Serviço (FGTS).

Outros R$ 2,3 bilhões seriam reservados para a execução de projetos sociais.

Com a repactuação, a J&F se compromete agora a pagar R$ 3,53 bilhões exclusivamente para a União. Isso significa que BNDES, Funcef, Petros e Caixa não receberão nenhum centavo.

A gestão de Aras se encerra em 26 de setembro.

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