A subprocuradora-geral da República Julieta Elizabeth Fajardo decidiu na noite desta terça-feira (12) derrubar o polêmico desconto de R$ 6,8 bilhões concedido por um colega no acordo de leniência do grupo J&F.
Mas uma manobra de um aliado do procurador-geral da República, Augusto Aras, retirou o caso das mãos de Julieta e do Conselho Institucional do MPF, onde a redução bilionária da multa a ser paga pelo grupo dos irmãos Joesley e Wesley Batista está prevista para ser discutida nesta quarta-feira à tarde.
Por decisão do corregedor nacional do Ministério Público, Oswaldo D'Albuquerque, o processo deve sair do Conselho Institucional do MPF, onde o caso estava sob a relatoria de Julieta, e ser encaminhado ao Conselho Nacional do MP, onde Aras detém mais poder e controle.
Segundo a equipe da coluna apurou, Julieta deu a decisão liminar derrubando a revisão bilionária no valor da multa pouco depois de Oswaldo D’Albuquerque decidir retirar o caso de suas mãos.
Isso porque, ao suspender a repactuação do acordo de leniência da J&F, a relatora ainda não havia sido comunicada oficialmente da determinação do corregedor de chamar o caso para si.
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Integrantes da PGR ouvidos reservadamente pela equipe da coluna divergem se a liminar de Julieta continua valendo mesmo com a decisão do corregedor de retirar o caso das mãos dela. A única certeza é a de que a controvérsia ainda não está pacificada e marca de forma melancólica o fim da gestão Aras.
Lava-jato: relembre alguns dos mais relevantes alvos da operação
![O doleiro Alberto Youssef: "marco zero" das investigações, a partir de um inquérito do ex-delegado da Polícia Federal Gerson Machado, de 2008, sobre lavagem de dinheiro — Foto: Jorge William / Agência O Globo - 27/10/2015](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/VXSG80Ituc50B0FEmcTPy5aTvSE=/0x0:1265x760/648x248/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/m/y/FqnW9XTguVKSbnQpFMnA/54227741-bsbbrasiliabrasil27-10-2015pacpi-dos-fundos-de-pensaodepoimento-do-doleir.jpg)
![O doleiro Alberto Youssef: "marco zero" das investigações, a partir de um inquérito do ex-delegado da Polícia Federal Gerson Machado, de 2008, sobre lavagem de dinheiro — Foto: Jorge William / Agência O Globo - 27/10/2015](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/v8i7-KfuThExh1EKJX2_UQk3Gpk=/1265x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/m/y/FqnW9XTguVKSbnQpFMnA/54227741-bsbbrasiliabrasil27-10-2015pacpi-dos-fundos-de-pensaodepoimento-do-doleir.jpg)
O doleiro Alberto Youssef: "marco zero" das investigações, a partir de um inquérito do ex-delegado da Polícia Federal Gerson Machado, de 2008, sobre lavagem de dinheiro — Foto: Jorge William / Agência O Globo - 27/10/2015
![Paulo Roberto Costa, ex-diretor de abastecimento da Petrobras. Ligações com Youssef deu origem à investigação sobre a estatal — Foto: Jorge William / Agência O Globo - 25/08/2015](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/llepfCeLUdjJ66tq0oH_yIQUkLA=/0x0:1265x760/323x182/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/C/J/XJA6r9RZqeVl3EIPB2Ng/7601335-brasilbrasiliabsbpa25-08-2015pacpi-da-petrobrasa-cpi-ouve-os-delatores.jpg)
![Paulo Roberto Costa, ex-diretor de abastecimento da Petrobras. Ligações com Youssef deu origem à investigação sobre a estatal — Foto: Jorge William / Agência O Globo - 25/08/2015](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/1Wn5wapN2IGPsv8oWUvTKt_Sets=/1265x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/C/J/XJA6r9RZqeVl3EIPB2Ng/7601335-brasilbrasiliabsbpa25-08-2015pacpi-da-petrobrasa-cpi-ouve-os-delatores.jpg)
Paulo Roberto Costa, ex-diretor de abastecimento da Petrobras. Ligações com Youssef deu origem à investigação sobre a estatal — Foto: Jorge William / Agência O Globo - 25/08/2015
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![O ex-senador Delcídio do Amaral. Foi preso pela Polícia Federal em novembro de 2015, por tentar obstruir as investigações tentado impedir a delação premiada de Nestor Cerveró, ex-executivo da Petrobras — Foto: Ailton de Freitas / Agência O Globo](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/epCk9lYqmojdI1xrgvteinGcaF8=/0x0:1265x760/323x182/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/M/5/AKFp6mTkmDGRXcCguAcw/59869753-opiniaodos-leitoresdelcidio.jpg)
![O ex-senador Delcídio do Amaral. Foi preso pela Polícia Federal em novembro de 2015, por tentar obstruir as investigações tentado impedir a delação premiada de Nestor Cerveró, ex-executivo da Petrobras — Foto: Ailton de Freitas / Agência O Globo](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/22W4r0fGDJisruRD9UOWwuEA7aE=/1265x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/M/5/AKFp6mTkmDGRXcCguAcw/59869753-opiniaodos-leitoresdelcidio.jpg)
O ex-senador Delcídio do Amaral. Foi preso pela Polícia Federal em novembro de 2015, por tentar obstruir as investigações tentado impedir a delação premiada de Nestor Cerveró, ex-executivo da Petrobras — Foto: Ailton de Freitas / Agência O Globo
![Nestor Cerveró, ex-diretor da Petrobras. Preso em 2015, na oitava fase da operação, delatou outros envolvidos. Foi condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro — Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo - 01/08/2016](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/Um6LzQmaA60VxXI1LDjFGcC_zls=/1265x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/O/m/PwaPvWTWKXZHoeYvDXgA/60230332-pa-rio-de-janeiro-rj-01-08-2016-operacao-lava-jato-audiencia-na-justica-federal-do-rio-de-j.jpg)
Nestor Cerveró, ex-diretor da Petrobras. Preso em 2015, na oitava fase da operação, delatou outros envolvidos. Foi condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro — Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo - 01/08/2016
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![Otávio Marques de Azevedo e Marcelo Odebrecht, presidentes, respectivamente, da Andrade Gutierrez e Odebrecht, presos em 2015. Lava-jato atingiu grandes empreiteiras em junho daquele ano — Foto: Geraldo Bubniak - 20/06/2015](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/3X8FHGhRTqSVtH76Dyr8JH4p4Kc=/1265x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/r/y/BaTydtQDAKyuMNsumiew/8010392-br-curitibapr-20-06-2015a-14-fase-da-operacao-lava-jato-foi-deflagrada-nesta-sexta-feira.jpg)
Otávio Marques de Azevedo e Marcelo Odebrecht, presidentes, respectivamente, da Andrade Gutierrez e Odebrecht, presos em 2015. Lava-jato atingiu grandes empreiteiras em junho daquele ano — Foto: Geraldo Bubniak - 20/06/2015
![O ex-governador Sérgio Cabral. Preso em 17 de novembro de 2016, durante a operação Calicute, da Polícia Federal. Acusado de liderar o desvio de R$ 224 milhões de reais em valores ilícitos — Foto: Guito Moreto / Agência O Globo - 17/11/2016](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/g-EmJvJtXaUkARXethkjoomsv6E=/1265x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/b/j/wJ4A4hQ6qQFzzFBiibJA/sergio-cabral-lava-jato.jpg)
O ex-governador Sérgio Cabral. Preso em 17 de novembro de 2016, durante a operação Calicute, da Polícia Federal. Acusado de liderar o desvio de R$ 224 milhões de reais em valores ilícitos — Foto: Guito Moreto / Agência O Globo - 17/11/2016
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![No exercício do cargo, o então governador Luiz Fernando Pezão foi preso no Palácio Laranjeiras, acusado de corrupção em um dos desdobramentos da Lava-jato — Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo - 29/11/2018](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/Ooc-DMynX4T0c-iybGrcWL33ETM=/1265x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/j/i/HBXk5hSpAsq872uWSENg/pezao-lava-jato.jpg)
No exercício do cargo, o então governador Luiz Fernando Pezão foi preso no Palácio Laranjeiras, acusado de corrupção em um dos desdobramentos da Lava-jato — Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo - 29/11/2018
![Eike Batista, dono do grupo EBX. Preso em janeiro de 2017, na Operação Eficiência, sobre esquema de desvio e lavagem de dinheiro de contratos do governo do Estado do Rio — Foto: Domingos Peixoto / Agência O Globo - 30/01/2017](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/q-_yPpukgPWPwcSf739vFBgo5Os=/1265x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/U/e/R9HMCXTXClT4AH8TDBIg/eike-batista-lava-jato.jpg)
Eike Batista, dono do grupo EBX. Preso em janeiro de 2017, na Operação Eficiência, sobre esquema de desvio e lavagem de dinheiro de contratos do governo do Estado do Rio — Foto: Domingos Peixoto / Agência O Globo - 30/01/2017
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Na reclamação apresentada no mês passado ao Conselho Institucional do MPF, o procurador da República Carlos Henrique Martins Lima, responsável pelo caso na primeira instância, argumenta que o desconto, concedido de forma unilateral pelo subprocurador-geral da República Ronaldo Albo, não só foi decidido com “manifesta ilegalidade”, como “poderá ocasionar prejuízos irreversíveis” ao cumprimento do acordo de leniência.
Em fevereiro do ano passado, o Conselho Institucional do MPF já havia decidido que cabia a Martins Lima – e não à 5ª Câmara de Coordenação e Revisão do MPF, chefiada por Ronaldo Albo – conduzir qualquer renegociação sobre o acordo, firmado em 2017.
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Martins Lima negou a revisão bilionária no valor da multa, mas mesmo assim a J&F recorreu à 5ª Câmara, onde Ronaldo Albo “tratorou” o voto de dois colegas contrários à revisão e impôs a sua vontade, atendendo aos interesses do grupo.
No início do mês, a gestão Aras já tinha feito outra manobra interna, daquela vez para blindar uma apuração sobre a conduta de Albo.
Aras tirou da Corregedoria do MPF e passou também para o CNMP o inquérito disciplinar aberto contra Albo.
Ao tirar o recurso contra o desconto bilionário concedido à J&F, Oswaldo D’Albuquerque justificou que, já que o inquérito contra Ronaldo Albo tinha ido pro CNMP, a reclamação contra a revisão no acordo de leniência também teria que ir.
Agora, caberá ao Conselho Nacional do MP decidir não apenas se pune ou não Albo, como se mantém de pé ou não a redução da multa a ser paga pelo grupo dos irmãos Joesley e Wesley Batista.
“Em princípio, causa estranheza, porque a discussão no Conselho Institucional não tem caráter disciplinar”, disse um integrante do conselho à equipe da coluna.
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O procurador-geral da República detém influência e o controle do CNMP – diferentemente da Corregedoria, onde um desfecho desfavorável a Ronaldo Albo era considerado inevitável.
Inicialmente, os R$ 10,3 bilhões do acordo de leniência da J&F seriam distribuídos em quatro partes de R$ 1,75 bilhão a serem distribuídos para BNDES, União, Funcef e à Petros (Fundação Petrobras de Seguridade Social), além de mais duas cotas de R$ 500 milhões, uma para a Caixa e outra para o Fundo de Garantia de Tempo de Serviço (FGTS).
Outros R$ 2,3 bilhões seriam reservados para a execução de projetos sociais.
Com a repactuação, a J&F se compromete agora a pagar R$ 3,53 bilhões exclusivamente para a União. Isso significa que BNDES, Funcef, Petros e Caixa não receberão nenhum centavo.
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A gestão de Aras se encerra em 26 de setembro.