Malu Gaspar
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Informações da coluna

Por Rafael Moraes Moura — Brasília

Apesar de Anderson Torres ter dado uma guinada na sua estratégia de defesa, buscando pontes com o Supremo Tribunal Federal (STF) para convencer o ministro Alexandre de Moraes a derrubar a sua prisão, as chances de o ex-ministro da Justiça ser colocado em liberdade são praticamente nulas, pelo menos a curto prazo.

É o que a equipe da coluna apurou com fontes que acompanham de perto as investigações dos atos antidemocráticos de 8 de janeiro, que culminaram com a invasão e a depredação da sede dos três poderes.

“Anderson Torres está sendo bombardeado do lado do atual governo e abandonado pelo antigo, virou leproso”, resumiu à equipe da coluna um interlocutor de Alexandre de Moraes.

Segundo fontes ouvidas pela coluna, o que poderia mudar a situação seria uma eventual decisão do ex-ministro da Justiça de fazer uma delação premiada – algo que, até agora, Torres não deu indicações concretas de que vá fazer, mas uma possibilidade que já desperta temores no entorno de Jair Bolsonaro.

Nos bastidores do Supremo, a avaliação é que Moraes ainda “vai esticar a corda” por um bom tempo – e que o ex-auxiliar de Jair Bolsonaro está encrencado por uma série de motivos.

Primeiro, por ter sido omisso ao arrumar as malas e ir para os Estados Unidos quando dezenas de extremistas se dirigiam a Brasília para promover atos de vandalismo no início de janeiro deste ano.

Nessa época, Torres já havia deixado o Ministério da Justiça e assumido a Secretaria de Segurança Pública do DF, apesar do apelo de ministros do Supremo para que o governador Ibaneis Rocha recuasse da nomeação.

A forte ligação de Torres com Bolsonaro era fonte de preocupação entre integrantes da Suprema Corte, que alertavam para os riscos de se repetirem em Brasília as lamentáveis cenas da invasão do Capitólio, nos Estados Unidos.

O alerta, como se viu, de nada adiantou, e a capital federal viveu episódio que remeteu à invasão do Congresso americano por extremistas insuflados por Donald Trump.

Ibaneis chegou a ser afastado do cargo por 66 dias por decisão de Moraes, mas foi reabilitado ao cargo, em uma costura nos bastidores que contou com a articulação de Michel Temer, conforme informou a coluna.

Dois dias após os atentados em Brasília, dos quais o Supremo foi a sede de poder mais duramente atacada pelos extremistas, uma operação de busca e apreensão da Polícia Federal encontrou uma minuta golpista na casa de Anderson Torres.

A minuta criava um certo “estado de defesa” no TSE, dando poderes a Bolsonaro para interferir na atuação da Corte e impedir a posse de Lula – o que é flagrantemente inconstitucional. O documento está sendo usado agora em uma ação que pode declarar Bolsonaro inelegível e impedi-lo de disputar cargos políticos pelos próximos oito anos.

Os problemas de Torres não param por aí. Segundo a equipe da coluna apurou, a gota d’água na delicada situação do ex-ministro da Justiça foi o aprofundamento das investigações envolvendo o uso da máquina estatal para atrapalhar a votação de eleitores de Lula no segundo turno.

Conforme informou a coluna, uma viagem de Torres à Bahia entre o primeiro e o segundo turno das eleições de 2022 o colocou no foco de uma investigação sigilosa para apurar como foi montada a operação da Polícia Rodoviária Federal que bloqueou as estradas do Nordeste no dia do segundo turno.

Na operação, que gerou um conflito entre Moraes e o diretor da PRF, Silvinei Vasques, foi feito o dobro de abordagens do primeiro turno – um dos motivos para a Polícia Federal colocá-la na mira de uma investigação específica. A PF apura se houve um esforço dirigido para impedir que eleitores de Lula chegassem aos locais de votação.

As dificuldades colocadas no caminho de Anderson Torres apareceram nas entrelinhas de uma petição protocolada pela sua própria defesa, na última segunda-feira (10).

Ao pedir a revogação da prisão de Torres, o advogado Eumar Novacki, ex-ministro interino da Agricultura de Temer, fez um pedido secundário, solicitando a substituição da detenção por medida menos gravosa, como a prisão domiciliar.

Em um aceno a Moraes, Novacki elogiou a “ação diligente” do ministro do Supremo, que mostrou que a “impunidade é algo inconcebível no Estado democrático de direito”.

Mas o ministro do Supremo não respondeu aos afagos. Até agora, não marcou uma audiência para receber os advogados de Anderson Torres.

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