Malu Gaspar
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Informações da coluna

Por Rafael Moraes Moura — Brasília

No depoimento ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), nesta quinta-feira (16), o ex-ministro da Justiça Anderson Torres evitou incriminar Jair Bolsonaro na ação que pode declarar o ex-presidente inelegível e impedi-lo de disputar eleições pelos próximos oito anos. Torres depôs por 90 minutos na condição de testemunha numa ação movida pelo PDT contra o ex-ocupante do Palácio do Planalto.

Anderson Torres não explicou a autoria do texto que criava um certo "estado de defesa" no TSE, dando poderes ao ex-presidente Jair Bolsonaro para interferir na atuação da Corte – o que é flagrantemente inconstitucional.

O ex-ministro da Justiça também foi perguntado três vezes no depoimento se Jair Bolsonaro sabia da minuta golpista.

Torres disse que nunca falou sobre o assunto com Bolsonaro e insistiu que o documento não foi entregue para o ex-presidente da República. Alegou apenas que recebeu a minuta golpista de sua assessoria, mas não deu o nome de ninguém.

Também foi confrontado com a sua própria alegação de que o texto era “folclórico", "loucura" e "lixo". Ora, apontaram os advogados do PDT, se o texto era “folclórico” e um “lixo”, por que estava guardado em sua casa, conforme descoberto por agentes da Polícia Federal?

Anderson Torres procurou então minimizar a gravidade do episódio. Disse que só tinha lido o início da minuta, que nem tinha se dado ao trabalho de fazer a leitura de todo o documento. “Comecei a ler, era uma loucura”, desconversou, segundo relatos.

E insistiu na tese de que a minuta havia sido guardada em sua casa para “descarte”. Admitiu, contudo, que não era comum receber esse tipo de documento durante o período em que atuou no governo Bolsonaro.

O ex-ministro da Justiça ainda foi cobrado no depoimento quanto ao dever funcional de alertar as autoridades sobre o teor da minuta, considerando a ameaça à democracia e o seu potencial de tumultuar o processo eleitoral.

Anderson Torres não deu explicação sobre o documento, que não é apócrifo e foi feito pelo governo. Há uma tentativa de não dar nome a quem forjou isso. O depoimento não explica por que um texto tão grave contra a democracia esteve nas mãos de um ministro de Estado”, disse à equipe da coluna o advogado do PDT Walber Agra.

Ao final do depoimento, a defesa de Jair Bolsonaro avisou que pediria ao TSE para que o teor da fala de Anderson Torres fosse mantido sob sigilo. Antes, os advogados do ex-presidente haviam tentado impedir a realização da oitiva.

Nomeado para a Secretaria de Segurança Pública do DF, Anderson Torres foi preso por decisão do STF após os atentados terroristas que culminaram com a invasão e depredação da sede dos três poderes. Ele está detido num batalhão da Polícia Militar no Guará, região administrativa da capital federal, de onde prestou depoimento ao TSE, por videoconferência.

Em janeiro, a defesa de Bolsonaro alegou ao TSE que a minuta golpista encontrada na casa do ex-ministro é “apócrifa”, nunca foi publicada e “nunca extravasou o plano da cogitação”.

Anderson Torres prestou depoimento ao TSE no âmbito de uma ação que investiga a reunião do ex-presidente com embaixadores em que ele fez ataques ao sistema eleitoral, em julho do ano passado.

É o mais adiantado dos processos do TSE que podem levar Jair Bolsonaro à inelegibilidade. Segundo integrantes do TSE, o caso deve tramitar por pelo menos mais um mês antes de ser liberado para julgamento.

Até aqui, o relator das 16 ações que investigam a campanha de Bolsonaro, o ministro Benedito Gonçalves, tem dado ritmo célere aos casos, inclusive já submetendo aos colegas questões preliminares que poderiam levar à anulação dos processos mais à frente.

O objetivo é reduzir o espaço de manobra se Bolsonaro quiser apontar alguma questão processual para implodir as investigações.

Em novembro, as ações sairão das mãos de Benedito Gonçalves e irão para Raul Araújo, ministro que tem tomado decisões mais próximas do que desejam os bolsonaristas. Por isso é que o PT quer que os casos sejam julgados ainda neste semestre, ou no mais tardar antes de Gonçalves deixar o tribunal, conforme informou a coluna.

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