Textos que Graciliano Ramos escreveu quando era prefeito viram livro com prefácio de... Lula

• Canal Lauro Jardim no WhatsApp: Siga e ative as notificações 🔔 para receber bastidores exclusivos

“O prefeito escritor — dois retratos de uma administração” (Record) reúne a íntegra de dois documentos, muito mais literários que burocráticos, produzidos em 1929 e 1930, quando renunciou ao cargo. São textos em que o romancista expõe, com verve afiada, o calote dos ricos, contratos às escuras e o orçamento apertado.

Eis um trecho de um dos relatórios do escritor:

"Pensei em construir um novo cemitério, pois o que temos dentro em pouco será insuficiente, mas os trabalhos a que me aventurei, necessários aos vivos, não me permitiram a execução de uma obra, embora útil, prorrogável. Os mortos esperarão mais algum tempo. São os munícipes que não reclamam".

• Literatura: Livro revela detalhes da relação de Chico Buarque com a censura
• Biografia de Senna é reeditada com bastidores de suas façanhas, depoimento de Hamilton e mais

O livro, que será lançado em abril, conta com prefácio de ninguém menos que Lula. A ideia do prefácio foi de Ricardo Ramos Filho dadas as coincidências entre o seu avô Graciliano e o presidente, desde a data de nascimento (7 de outubro) ao romance de estreia do escritor (Caetés), cidade-natal do petista.

O pedido ocorreu por intermédio de Celso Amorim no fim de 2023. Lula logo aceitou. Recebeu um exemplar em dezembro. O prefácio é curto. Claramente é de responsabilidade de um ghost writer ("O Graciliano que emerge destas páginas [...]" definitivamente não foi escrito por Lula), o que não é um problema em si — são raros os presidentes que escreveriam um texto desses e Lula, afinal, tem outras qualidades.

De qualquer forma, Lula leu “O prefeito escritor” a julgar pela frase que abre o texto que assina: "Ao ler este livro, me deparei com um outro Graciliano (...)".