Guga Chacra
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Guga Chacra

Colunista do Globo e comentarista de política internacional da Globonews.

Informações da coluna

Guga Chacra

Mestre em Relações Internacionais pela Columbia University de Nova York. É colunista do Globo e comentarista de política internacional da Globonews.

Por — Nova York

Em 50 anos, quando falarmos deste momento na História do Oriente Médio, lembraremos do atentado terrorista cometido pelo Hamas que resultou na morte de mais de mil israelenses e na captura de mais de 100 reféns. Entrou para a História, infelizmente, como o 11 de Setembro. Neste sentido, o grupo que controla a Faixa de Gaza tende a considerar uma vitória ter imprimido a maior derrota militar de Israel na História. Egito, Síria, Jordânia, Iraque, Irã, Hezbollah e OLP nunca chegaram perto de algo dessa dimensão.

Todos em Pequim, Beirute, Moscou, Riad, Kiev e Teerã ficaram surpresos com a capacidade do Hamas de conseguir realizar, em algumas horas, e com um arsenal quase amador, a mais mortífera ação dentro de Israel contra israelenses. Toda a mística dos serviços de inteligência e das forças de segurança de Israel se evaporaram ou ao menos perderam força diante da facilidade do grupo terrorista para matar mil pessoas sem enfrentar grande resistência.

O ataque terrorista do Hamas, no entanto, não será um episódio congelado no tempo. Pode ser o início de algo maior. Tudo dependerá dos acontecimentos a partir de agora. Talvez lembremos como o estopim de uma resposta israelense que culmine na eliminação do grupo. O massacre terá sido apenas um hiato em décadas de supremacia militar de Israel sobre seus vizinhos. Ao mesmo tempo, o conflito pode escalar para uma magnitude não vista na região desde a Primeira Guerra Mundial, com envolvimento do Hezbollah, Irã e outros atores de um lado, e EUA, do outro.

Conflito em Israel:

Como sequer a tão celebrada inteligência israelense consegue prever o que acontecerá na região, depois do enorme fiasco ao não antever que o Hamas preparava um ataque terrorista que matou quase tantos israelenses quanto todos os atentados da Segunda Intifada somados, apenas abordarei os desafios israelenses para eliminar o Hamas. Afinal, o próprio governo israelense afirma ser esse seu objetivo. Não dá para arriscar o resultado final.

O primeiro desafio é o mesmo existente nos outros confrontos na Faixa de Gaza. Trata-se de um território densamente povoado, com áreas urbanas na qual os israelenses podem ser alvo de uma série de armadilhas. O Hamas sabia que essa seria a reação de Israel e, naturalmente, devem estar preparados.

O segundo desafio será levar adiante essa ofensiva sem poder retroceder até remover o Hamas do poder para não ser considerado derrotado. Nas guerras anteriores em Gaza, bastava enfraquecer o grupo na estratégia de aparar a grama. Vinha um cessar-fogo e alguns anos de tranquilidade. Agora a meta seria arrancar a grama, bem mais complexo.

O terceiro será realizar toda essa operação com o Hamas mantendo mais de 100 reféns israelenses e dezenas de estrangeiros na Faixa de Gaza. E um quarto desafio será seguir com a ofensiva e ver um crescimento nas críticas ao menos em parte da comunidade internacional que questionará o bloqueio e a provável multiplicação no número de vítimas fatais, incluindo crianças. Há ainda o cenário doméstico, onde não sabemos como a população israelense reagirá em relação ao conflito.

Tudo isso somado ao risco de ser aberta uma frente no Norte, contra o Hezbollah. Não sabemos se isso ocorrerá e há uma divisão entre os analistas sobre o envolvimento ou não do grupo. Mas sabemos que a organização xiita libanesa é bem mais poderosa do que o Hamas. Se a frente em Gaza já é complicada para Israel, a da fronteira com o Líbano seria quase impossível.

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