Guga Chacra
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Guga Chacra

Colunista do Globo e comentarista de política internacional da Globonews.

Informações da coluna

Guga Chacra

Mestre em Relações Internacionais pela Columbia University de Nova York. É colunista do Globo e comentarista de política internacional da Globonews.

Por Guga Chacra — Nova York

Um ano depois da retirada da Otan do Afeganistão, o mundo está diante de um dilema: deve defender os direitos humanitários dos afegãos e trabalhar com um regime terrorista como o Talibã para aliviar a fome ou deve seguir isolando o país para defender os direitos humanos, dificultando o acesso da população a alimentos, o que agrava ainda mais a situação humanitária?

Há argumentos fortes nos dois sentidos. Os EUA congelaram cerca de US$ 7 bilhões em reservas do Banco Central do Afeganistão depois de o Talibã tomar o poder no ano passado. Sem esse dinheiro e com as sanções impostas ao regime, cresce a fome no país. Caso fosse liberado, dizem os defensores dos direitos humanitários, a situação poderia ser amenizada em larga escala. Além disso, qual seria a alternativa? Uma gigantesca coalizão ocidental liderada pelos EUA fracassou ao longo de duas décadas, gastando trilhões de dólares, e o Talibã voltou ao poder. Fazer isso de novo? Claro que não.

O lado da defesa dos direitos humanos, por sua vez, afirma que o acesso a esses bilhões fortaleceria ainda mais o Talibã, que reprime a população, especialmente as mulheres. Grande parte do dinheiro seria desviado em corrupção ou para o armamento do grupo. Como confiar em uma organização terrorista? Não há como.

A resposta para esse dilema é complicada. Uma das alternativas, que tem sido insuficiente, seria aumentar a presença de agências humanitárias internacionais dentro do país. Mas essas inevitavelmente teriam que trabalhar com o Talibã.

Muitos dos problemas do planeta não têm solução. O Afeganistão é um deles. Tentaram de tudo. Não deu certo. E não há nada que fará alterar esse cenário.

Alguns podem dizer que a retirada foi a responsável. Talvez o processo de retirada tenha, sim, agravado a situação. Mas a decisão de se retirar era consenso depois de 20 anos de ocupação e guerra. O Talibã vinha avançando mesmo com a presença de tropas dos EUA e de outros países no país. O governo em Cabul era frágil. Para conter os talibãs, os-americanos teriam de gastar mais bilhões de dólares e enviar outras dezenas de milhares de jovens para lutar em uma guerra sem fim.

Donald Trump negociou a retirada com o Talibã em uma ação que não sofreu oposição dos democratas. Seu sucessor, Joe Biden, implementou, de forma caótica, o que o republicano havia negociado.

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