Espiritualidade e Bem-estar
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Especialistas abordam discussões referentes ao corpo, à mente e às emoções.

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GERADO EM: 20/06/2024 - 04:30

Controvérsias da soroterapia

A soroterapia é uma técnica controversa que promete resolver diversos problemas de saúde com a administração de vitaminas e minerais por via intravenosa. No entanto, especialistas alertam que a prática pode ser desnecessária, onerosa e até mesmo perigosa, sendo indicada apenas em casos específicos, como pacientes crônicos ou com má absorção intestinal. Além disso, a suplementação oral e a terapia hormonal podem ser mais eficazes em muitos casos.

Na era da rapidez, em que conseguimos fazer uma compra com três cliques, acabamos nos acostumando a ter soluções simples sem esforço. Não tardou para que os oportunistas oferecessem o mesmo em relação à saúde e ao bem-estar. Queixas relacionadas ao sobrepeso, cansaço, falta de foco, desempenho nos exercícios, ganho de massa muscular, compulsão alimentar, ansiedade e depressão, sintomas de menopausa, climatério e pele podem ser tratados com a nova fórmula mágica: soroterapia ou o soro da beleza.

O método, segundo os “especialistas”, consiste na suplementação direta de vitaminas, minerais, antioxidantes e aminoácidos na corrente sanguínea, seja por via intravenosa, como um soro, seja por meio de injeções intramusculares.

Atendi vários pacientes que caíram no conto de que bastavam algumas infusões para que as queixas desaparecessem. Isso sem a realização de uma boa anamnese, que consiste em um relatório de informações importantes para o diagnóstico e identificação do paciente: dados pessoais, sintomas, queixas, rotina, exercícios, alimentação, histórico de doenças e histórico familiar.

Os pacientes relataram a “venda” desses tratamentos ao custo de R$ 2 mil por aplicação, sem resultado. Oferecidos também por nutricionistas, aqui cabe mais uma informação importante: é vedado a esse profissional prescrever produto que use via de administração diversa do sistema digestório.

Primariamente, as vitaminas, minerais, aminoácidos e proteínas devem ser obtidas a partir de alimentação variada. Se você tem uma alimentação saudável e diversa, provavelmente não precisará de suplemento. Trabalho com a premissa de ninguém sair com prescrição de suplementos antes dos resultados dos exames laboratoriais e uma extensa anamnese. Após cruzar os dados laboratoriais e a história clínica do paciente, opto pela intervenção na alimentação: uma castanha do Pará para aumentar a oferta de selênio, por exemplo.

Há casos em que são necessários os injetáveis, por exemplo, quando o paciente não responde à reposição oral, sendo um procedimento aplicado em pacientes crônicos portadores de má absorção intestinal, bariátricos, além de outras condições e doenças clinicas e laboratorialmente diagnosticadas pelo médico.

A endocrinologista Patricia Peixoto, graduada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (URFJ), reforça que a indicação de suplementar vitaminas por outra via que não a oral deve ser cuidadosamente avaliada e só recomendada nos casos citados acima. A Endocrine Society, em congresso recente, divulgou as diretrizes relacionadas ao uso de vitamina D, as quais orientam que devemos optar por doses menores de uso diário, em vez de doses maiores de uso intervalado, como na soroterapia.

Ainda é preciso alertar para o fato de que toda infusão endovenosa oferece riscos, como hipotensão arterial, reações alérgicas, extravasamento, dor, rubor e até inflamação das veias, com necessidade de antibióticos.

Mulheres em climatério e menopausa são particularmente vulneráveis às promessas da soroterapia, convencidas de que queixas como queda de cabelos, unhas fracas, cansaço extremo, perda de massa muscular e até dificuldade para emagrecer são decorrentes da falta de vitaminas, minerais e eletrólitos. Após o tratamento, oneroso, frustram-se com os resultados, pois as queixas são consequências da variação hormonal e posterior queda (estrogênio e progesterona) e, nesses casos, a terapia hormonal é que traria melhora.

A via endovenosa para medicamentos é uma opção que a medicina possui e que muito auxilia em diversos tratamentos, como em quimioterapias, aplicação de imunobiológicos e medicamentos para osteoporose. Mas é relevante alertar para a banalização do seu uso de forma desnecessária e, o pior, com a promessa de efeitos milagrosos.

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