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GERADO EM: 09/07/2024 - 06:00

Remuneração de Presidentes de Conselho em Empresas Brasileiras

Presidentes de Conselho em algumas empresas brasileiras recebem mais que CEOs, levantando questões de conflito de interesses e desigualdade na distribuição de remunerações. Empresas como Raízen, Rede D’Or e Hapvida se destacam nesse cenário, com presidentes de Conselho recebendo valores significativamente maiores do que os CEOs.

Eleitos pela assembleia de acionistas, os Conselhos de Administração servem para orientar a diretoria e deliberar sobre as estratégias. No Brasil, em algumas empresas, os conselhos têm uma outra função: remunerar os fundadores.

Em ao menos nove empresas que compõem o índice Ibovespa – que reúne 83 empresas com mais liquidez na bolsa — o presidente do Conselho de Administração ganha mais do que o CEO, mostra um levantamento do consultor em governança Renato Chaves. Em dois terços das empresas, quem senta na cabeceira é um fundador.

— Nesses casos, o CEO é como uma rainha da Inglaterra, pois quem continua mandando e recebendo é o presidente do conselho — diz Chaves, que vê conflito de interesses de acionistas.

— É uma forma disfarçada de distribuir dividendos. O investidor minoritário é passado para trás. Ele aprova verba global de remuneração em assembleia, mas na hora de dividir, ele não tem voz —acrescenta.

O presidente de conselho mais bem pago do país é o da Raízen, joint venture da Cosan com a Shell. O fundador da Cosan, Rubens Ometto, obteve no ano passado uma remuneração de R$ 57,4 milhões como presidente do conselho — enquanto o CEO recebeu R$ 17 milhões.

Já na própria Cosan, da qual Ometto também é presidente do conselho, a relação se inverte. Ometto recebeu R$ 1,8 milhão para presidir o conselho, enquanto a remuneração do CEO foi de R$ 38,2 milhões.

Na Rumo, empresa de logística ferroviária do grupo Cosan, Ometto também preside o conselho e recebe uma remuneração de R$ 2,2 milhões ao ano, enquanto o CEO recebeu R$ 23,2 milhões.

A Raízen é a segunda empresa do Ibovespa que gasta mais com a remuneração de conselho e diretoria. No ano passado, essa conta foi de R$ 142 milhões. Em relação à receita da companhia, de R$ 220 bilhões no ano passado, o custo representa 0,06%, uma das menores proporções no Ibovespa.

O segundo presidente de conselho mais bem pago do país é Jorge Moll Filho, fundador da Rede D’Or. No ano passado, ele recebeu R$ 37,2 milhões pela função, enquanto o seu filho, que é o CEO da empresa, recebeu uma remuneração de R$ 22 milhões.

A empresa é a segunda a gastar com remuneração de conselho e diretoria: R$ 128 milhões, equivalente a 0,27% do faturamento do grupo hospitalar, de R$ 46,5 bilhões no ano passado.

O fundador da Hapvida, Candido Pinheiro Koren de Lima, é o terceiro presidente de conselho mais bem remunerado do país. Recebeu R$ 29,2 milhões no ano passado. O valor, no entanto, é menor que a metade do que foi pago ao seu filho, Jorge Pinheiro Koren de Lima, que desde 2001 é o CEO da companhia. Ele recebeu R$ 67,4 milhões — a segunda maior remuneração de um CEO no país.

O CEO do ItaúUnibanco, Milton Maluhy Filho, encabeça a lista dos CEOs mais bem remunerados: recebeu R$ 67,7 milhões para comandar um banco que faturou R$ 313 bilhões. A Hapvida faturou R$ 27,7 bilhões no ano passado — e gastou 0,63% disso com a remuneração de conselho e diretoria. No Itaú, essa relação é de 0,19%, para uma despesa de R$ 623 milhões em remuneração de conselho e diretoria.

O terceiro CEO mais bem pago do país é o da JBS, que recebeu R$ 58,1 milhões. A presidência do Conselho de Administração não é está nas mãos de um fundador, mas de um executivo com quase 30 anos de empresa, Jeremiah O’Callaghan. Sua remuneração foi modesta: R$ 986 mil.

As outras empresas que pagam mais para os presidentes de conselho do que para o CEO são Iguatemi, WEG, BTG, MRV, Renner, Pão de Açúcar e Alpargatas. A Azul tem uma das maiores remunerações para um presidente de conselho --- o fundador David Neeleman embolsou no ano passado R$ 16,6 milhões. A empresa foi a única do Ibovespa a não reportar o salário do CEO nos formulários de referência enviados à CVM e considerados no levantamento.

(Após a publicação da matéria, a Azul procurou a coluna para informar que reporta regularmente as remunerações para a CVM, mas que, por engano, a última tabela com os salários não foram enviadas ao órgão. Segundo a Azul, a companhia já enviou esses dados à CVM.)

Esses casos estão bem fora da curva. Em média, nas empresas no Ibovespa, a remuneração do presidente do Conselho equivale a cerca de 30% da remuneração do CEO: o presidente recebe R$ 4,38 milhões em média, e o CEO, R$ 15,37 milhões.

Dentre as integrantes do Ibovespa, 16 reservam para o presidente do conselho uma remuneração que equivale a metade ou mais do que é pago para os demais conselheiros. A lista é encabeçada por Rede D’Or, onde o chairman fica com 93% da verba destinada para o conselho. Depois vem a Multiplan: o presidente abocanha 86,4% da verba destinada ao conselho: R$ 6,4 milhões, de R$ 7,4 milhões.

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