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O passado com um pé no presente.

Informações da coluna

William Helal Filho

Jornalista formado pela PUC-Rio em 2001. Entrou na Editora Globo pelo programa de estágio, foi repórter e editor. Hoje é responsável pelo Acervo.

O ódio contra os judeus, também conhecido como antissemitismo, é um sentimento com séculos de existência na Europa, mas chegou ao ápice no período em que o nazista Adolf Hitler esteve no poder na Alemanha, a partir de 1933. Ao longo dos anos seguintes, até o fim da Segunda Guerra Mundial, os cidadãos de origem judaica nos territórios controlados pelo "führer" sofreram perseguição, tiveram os direitos subtraídos, foram enviados a guetos e campos de concentração e executados de maneira sistemática, seguindo uma política de estado genocida. Estima-se em mais de seis milhões o número de mortos no capítulo da História que seria, mais tarde, chamado de Holocausto.

Hitler jamais escondeu seu ódio contra o povo judeu. No livro "Mein Kempf" ("Minha Luta"), ele tornou claras suas intenções de excluir os cidadãos com essa etnia de diversos setores da sociedade. Após eleito primeiro-ministro da Alemanha, em janeiro de 1933, o líder do Partido Nazista decidiu que iria transformar suas ideias em realidade. Seu governo deu início, então, a uma campanha para tirar dos judeus suas propriedades e os empregos na academia, no judiciário, nas forças armadas e no setor empresarial. Em 1935, foram editadas as Leis de Nuremberg, que, além de proibirem casamento entre judeus e não judeus, negaram a cidadania alemã e tiraram os direitos políticos do povo judaico.

Ao mesmo tempo, Hitler usava sua popularidade para inflar o ódio contra essa parcela da população. O líder nazista pregava a superioridade da chamada "raça ariana" e culpava os judeus por tudo de ruim que acontecera ao país desde a derrota na Primeira Guerra, como a depressão e a inflação.

Soldados alemães prendem cartaz em loja de dono judeu: "Não comprem de judeus" — Foto: Reprodução/Arquivo Federal Alemão
Soldados alemães prendem cartaz em loja de dono judeu: "Não comprem de judeus" — Foto: Reprodução/Arquivo Federal Alemão

Em 9 de novembro de 1938, uma revolta promovida pelos próprios nazistas levaria terror às famílias judias na Alemanha. Paramilitares e civis atearam fogo em centenas de sinagogas, vandalizaram estabelecimentos comerciais, escolas, hospitais e residências de judeus. Naquela noite, 91 pessoas foram mortas e mais de 30 mil foram detidas e enviadas para campos de concentração. Motivado pelo assassinato do embaixador alemão Ernst Vom Rath durante o atentado realizado por um judeu polaco em Paris, o massacre receberia o nome de "Noite dos Cristais" devido aos estilhaços de vidro que se espalharam pelas ruas das cidades durante os atos de terrorismo .

Tudo isso que acontecia, mesmo antes da Segunda Guerra, era noticiado por jornais do mundo inteiro, sem eufemismos nas descrições. Mesmo assim, não houve nenhuma intervenção direta de outros países para evitar a perseguição contra os judeus em território alemão.

Quando Hitler começou sua empreitada militar para conquistar a Europa, em 1939, os judeus de países que caíam sob poder nazista eram imediatamente perseguidos. Na Polônia, eles foram obrigados a viver em guetos insalubres dentro de cidades como Varsóvia e Lodz, sem alimentação adequada ou serviços médicos. Centenas de milhares de pessoas começaram a morrer de fome e doenças. Alguns judeus escaparam de guetos e viveram escondidos em apartamentos, com ajuda de pessoas que podiam ser mortas por abrigá-los. No filme "O pianista", de Roman Polanski, Adrien Brody vive um músico que passa por um pesadelo ao fugir de um gueto e ficar escondido, mas sobrevive.

Uma vala repleta de pessoas mortas  no campo de concentração de Bergen-belsen, em 1945 — Foto: Reprodução/Imperial War Museum
Uma vala repleta de pessoas mortas no campo de concentração de Bergen-belsen, em 1945 — Foto: Reprodução/Imperial War Museum

Muitos judeus tentaram combater o horror nazista. Entre 1941 e 1943, houve dezenas de revoltas em guetos e campos de concentração em países como Polônia, Lituânia e Ucrânia. Os revoltosos sabiam que tinham poucas chances de sobreviver, mas foram adiante. Contrabandearam armas para dentro de suas áreas de contenção e se insurgiram. A rebelião do gueto de Varsóvia, na primavera de 1943, foi uma das mais conhecidas. Os nazistas tiveram que destruir todo o gueto para derrotar os judeus.

Em 1942, a Segunda Guerra já havia se tornado um conflito global quando Hitler reuniu seus oficiais de alta patente para definir o que seria a "Solução Final para a Questão Judaica". Centenas de milhares de judeus já trabalhavam em regime de escravidão em campos de concentração. Após a Conferência de Wannsee, em Berlim, em 20 de janeiro daquele ano, a deportação dos judeus ganhou nova escala. Eles eram enviados de trem para campos de extermínio na Polônia, onde nazistas os encaminhavam para a morte em câmaras de gás desenvolvidas para esse fim. Os idosos e aqueles com alguma deficiência foram os primeiros a morrer. Mas, logo, todo e qualquer judeu poderia ser assassinado.

Quando as tropas dos Aliados começaram a invadir a Alemanha e os territórios anexados, em 1944, os nazistas começaram uma grande mobilização para tirar judeus de campos de concentração situados no caminho dos inimigos. Eles obrigaram os presos a caminhar longas distâncias para chegar a outros centros de extermínio, fora das áreas de batalha. Aquelas jornadas ficariam mais tarde conhecidas como "Marchas da Morte", porque centenas de milhares de pessoas pereceram devido a exaustão, fome ou violência cometida por soldados alemães durante o deslocamento. Como planejado, a própria transferência de presos se tornara uma parte da "solução final".

Com o conflito se aproximando do fim, os exércitos de Estados Unidos, União Soviética, Reino Unido e de outros países que se aliaram contra Hitler, começaram a descobrir os campos de concentração e a testemunhar os horrores do Holocausto. Graças aos relatos de fugitivos, já era sabido que os nazistas estavam torturando judeus e os eliminando em câmaras de gás, mas a real escala do genocídio só foi conhecida pelo mundo quando soldados e jornalistas chegaram àqueles locais e se depararam com as condições dos sobreviventes. Muitos prisioneiros morreriam mesmo depois de libertados, devido a doenças ou grave inanição. A partir de então, o mundo conheceu o que foi o Holocausto.

Presos no campo de concentração de Buchenwald, após libertação — Foto: Reprodução/Arquivo Nacional dos EUA
Presos no campo de concentração de Buchenwald, após libertação — Foto: Reprodução/Arquivo Nacional dos EUA
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