Por Memória Globo

João Miguel Júnior/Globo

Em suas andanças mundo afora, Zeca Camargo encontrou culturas ímpares, viu cenários deslumbrantes, experimentou pratos atípicos e esteve frente a frente com meio mundo do universo pop: de Paul McCartney a Mick Jagger, de Madonna a Lady Gaga, são poucos os grandes artistas que ele ainda não entrevistou.

Na Globo de 1996 a 2020, foi apresentador e coordenador de projetos e novos formatos do 'Fantástico'. Ajudou o programa a ganhar informalidade e elaborou diversas séries de reportagens sobre jovens e acadêmicos, viagens a lugares inóspitos e a vida nas grandes cidades. “O 'Fantástico' é um espaço arejado que temos para experimentações, ousadias. Minha contribuição está na maneira criativa de fazer matérias diferentes, inventar jeitos novos de fazer o programa”.

Adoro descobrir um outro universo, um outro tipo de conversa – o que, certamente, realimenta o meu trabalho na televisão.

Zeca Camargo no Rock in Rio, 2013. — Foto: João Cotta/Globo

Início da carreira

José Carlos Brito de Ávila Camargo é filho de um médico e de uma artesã. A vocação para viagens esteve presente desde cedo. Até chegar a São Paulo na adolescência, Zeca morou no Rio, em Araçatuba e em Barretos. Na capital paulista, formou-se em administração de empresas pela Fundação Getulio Vargas (FGV) e em propaganda pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). Nunca exerceu as duas profissões. Logo depois de completar a faculdade, passou a trabalhar em uma galeria de artes plásticas e a dar aulas de dança – entre suas alunas estavam as atrizes Giulia Gam e Marisa Orth e a então futura primeira-dama Ruth Cardoso.

Zeca estreou no jornalismo em dezembro de 1987. Convidado por Lilian Pacce, escreveu uma matéria sobre os bazares de fim de ano das galerias de arte para o suplemento Casa&Cia., da Folha de S. Paulo. Mais alguns freelances depois, foi chamado para trabalhar no jornal, onde passou por várias editorias. “Foi uma bela escola. Como não tive a formação oficial de jornalismo, esse esquema dinâmico da Folha me permitiu uma flexibilidade que me marca até hoje”, lembra. Pelo jornal, ele chegou a ficar um ano em Nova York.

Na volta para o Brasil, Zeca foi convidado pela MTV para ser diretor de jornalismo e ajudar na implementação da emissora no país. Depois de um início voltado exclusivamente para a música, a MTV começou a exibir matérias e programas sobre comportamento jovem. “Era uma mídia completamente nova para mim, era uma TV que estava se inventando. Foi um ótimo caminho de evolução profissional”, conta.

Depois de quatro anos na emissora, Zeca saiu para apresentar o programa 'Fanzine', na TV Cultura, que fortalecia sua ligação com o público jovem. No fim de 1994, assumiu o cargo de editor especial da revista 'Capricho'. Em abril do ano seguinte, retornou à Folha para uma breve experiência à frente do caderno cultural Ilustrada. Insatisfeito com o pouco espaço, voltou para a Capricho em dezembro.

Fantástico

Em julho de 1996, foi convidado pelo diretor Luiz Nascimento para comandar a sucursal paulista do 'Fantástico', na Globo. “Ele queria aumentar a presença de São Paulo no programa e trazer um pouco da minha experiência com o público jovem”, explica Zeca. Ainda assim, hesitou. “Naquela época, o 'Fantástico' não era exatamente uma referência para mim. Tinha aquela imagem do fim dos anos 80, a de um programa pesado. Quando voltei a assisti-lo, antes de aceitar o convite, quase caí para trás: era animado, dinâmico, mais jovem”.

Do primeiro ano no 'Fantástico', Zeca lembra com carinho de uma reportagem que fez sobre a juventude de Brasília, na época em que cinco garotos atearam fogo no pataxó Galdino Jesus dos Santos: “Ali encontrei o meu tom no programa: posso falar sério, me dirigir à garotada numa linguagem que não vai fazer o pai dela sair da sala e ainda fazer alguma inovação na edição: a reportagem abria com um fósforo em close pegando fogo. Dali para a frente foi mais fácil”.

Junto com as primeiras experiências como apresentador do programa – na época, comandado por Fátima Bernardes, Pedro Bial e Glória Maria –, o jornalista passou a ajudar na criação de novos quadros. Ainda em 1997, elaborou e apresentou 'Altos Papos', em que jovens debatiam temas como violência, drogas, sexo, gravidez na adolescência e primeiro emprego. A série durou dois anos e ganhou o prêmio de educação da Unesco. A vida dos adolescentes voltaria a ser abordada por Zeca nas séries 'Geração 2001' (2000), 'Turma 1901' (2010) e 'Conselho de Classe' (2011). Já 'Novos Olhares', feito em 2007, trazia novamente a educação à pauta em uma série em que grandes acadêmicos do Brasil e do mundo discutiam assuntos do dia a dia. “Fizemos uma ponte do olhar acadêmico com o olhar popular”, ressalta.

Novos quadros

Fascinado por viagens, o cosmopolita Zeca pôs o hobby a serviço do programa em quatro quadros de enorme sucesso. Em 1998, realizou a série 'Aqui se Fala Português', em que visitava os países de língua portuguesa, como Angola, São Tomé e Príncipe e, obviamente, Portugal. No entanto, o projeto mais ambicioso viria em 2004, com o quadro 'A Fantástica Volta ao Mundo', que pôs Zeca e o repórter cinematográfico Guilherme Azevedo para rodar o planeta em 18 episódios. A cada semana, o espectador do 'Fantástico' decidia o destino da dupla, que visitou 17 países, fez 54 trajetos de avião e viajou mais de 100 mil quilômetros, numa aventura de quatro meses. Em 2008, o jornalista fez uma série de dez reportagens sobre o Japão. No ano seguinte, Zeca voltaria a correr o mundo para gravar 'Isso Aqui é Seu', sobre dez lugares classificados como patrimônio histórico pela Unesco. Em 2010, foi a vez de 'Megacidades', um conjunto de reportagens sobre dez cidades que terão mais de 20 milhões de habitantes em 2020, segundo a ONU.

Reality shows

A empatia de Zeca Camargo com o espectador o levou a apresentar em 2000 'No Limite', o primeiro reality-show do país, gênero que se tornaria uma febre na década seguinte. Inspirado no programa americano 'Survivor', da CBS, 'No Limite' pôs seus competidores para fazer duros testes de resistência em busca de um prêmio de R$ 300 mil. Premiado pela Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA) como o melhor programa do ano em 2000, virou um sucesso de público e teve mais três continuações. Zeca ainda foi o apresentador dos realities 'Hipertensão' (2002) e 'O Jogo' (2003).

Em 2011, foi a vez de o apresentador virar protagonista de uma espécie de reality-show, acompanhado pelo público do 'Fantástico' com enorme interesse. Junto com a colega Renata Ceribelli, Zeca participou do 'Medida Certa', um programa de dieta, no qual perdeu sete quilos em quatro meses e viu o diâmetro do abdome diminuir em dez centímetros. O quadro gerou ainda uma série de caminhadas pelo país, com o objetivo de incentivar uma dieta balanceada e uma vida mais saudável e menos sedentária.

Inspirado pelas suas reportagens no 'Fantástico', o jornalista escreveu seis livros, como o best-seller 'A Fantástica Volta ao Mundo', 'De A-ha a U2: os Bastidores das Entrevistas do Mundo da Música' e 'Medida Certa: Como Chegamos Lá', este em coautoria com Renata Ceribelli. Lançou o livro eletrônico '50, eu?', onde faz algumas reflexões sobre saúde, corpo, trabalho e relembra passagens de sua vida e carreira. Lançou também a biografia 'Elza', sobre a cantora 'Elza Soares'.

EXCLUSIVO MEMÓRIA GLOBO

Webdoc sobre o programa No Limite com entrevistas exclusivas do Memória Globo.

Webdoc sobre o programa No Limite com entrevistas exclusivas do Memória Globo.

Vídeo Show

Em 2013, após 18 anos, o jornalista deixou o Fantástico para se dedicar a um novo projeto. Convidado pelo diretor Ricardo Waddington, passou a apresentar o programa diário Vídeo Show. Zeca comandou a atração ao lado do repórter Otaviano Costa. Depois de um tempo como apresentador no estúdio, voltou às ruas à convite do programa para mostrar ao telespectador curiosidades sobre a forma como é feito televisão em outros países pelo mundo.

É de Casa

Em 2015, Zeca Camargo passou a integrar o time de apresentadores da atração É de Casa. Conectados às redes sociais, Ana Furtado, André Marques, Cissa Guimarães, Patrícia Poeta e Zeca comandam o programa de maneira informal, que tem como marca a participação e a conversa com o público. Zeca Camargo deixou a Globo em maio de 2020, após 24 anos.

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