Por Memória Globo

Eduardo Knapp/FolhaPress

Ricardo Eugênio Boechat não pensava em ser jornalista até conseguir um emprego no Diário de Notícias, por intermédio do diretor comercial, Cleber Sabóia, pai de uma amiga. “Naquela época você entrava nos jornais sem mostrar muito documento, às vezes, nenhum”, recorda. Aos 17 anos, sua única experiência até era a da militância política de estudante secundarista. “O Rio de Janeiro para mim era o exterior. Eu não tinha nenhum equipamento que não a pretensa ideologia, a vontade e o desejo de andar sozinho para poder me credenciar a um emprego. Eles foram me dando tarefas e eu fui me familiarizando com aquele cotidiano”.

EXCLUSIVO MEMÓRIA GLOBO

Em depoimento ao Memória Globo em 09/08/2000, Ricardo Boechat fala sobre o início de sua carreira como jornalista.

Em depoimento ao Memória Globo em 09/08/2000, Ricardo Boechat fala sobre o início de sua carreira como jornalista.

Criado em Niterói, no Estado do Rio de Janeiro, Ricardo Boechat era filho de um diplomata brasileiro e uma argentina. Costumava brincar que sua família havia sido precursora do Mercosul. Dos sete filhos, três eram uruguaios, três brasileiros, enquanto ele, nasceu na Argentina – embora todos tenham sido registrados em embaixadas brasileiras. Seu pai, Dalton Boechat, foi funcionário do governo brasileiro em missões em ambos os países. Posteriormente, foi assessor da Petrobras até ser cassado pelo regime militar, em 1964.

Foi o então editor-chefe do Diário de Notícias que o indicou para trabalhar como repórter para Ibrahim Sued, ícone do colunismo social na época. “Foi uma coisa decisiva para a minha formação como repórter” – o que era um “bico” se estendeu por 14 anos.

Eu ficava no jornal rigorosamente das 8h da manhã, quando não havia nada nem ninguém, até o último dos linotipistas. O mundo tinha mudado de foco para mim. Agora eu era um jornalista.

Da reportagem ao colunismo

Após uma breve passagem pela 'Coluna do Zózimo', no Jornal do Brasil, Ricardo Boechat foi convidado para trabalhar na tradicional 'Coluna do Swann', em 1983, no jornal O Globo. Em pouco tempo, passou a assinar notas, ganhando um raro reconhecimento conferido aos repórteres de colunas sociais. Em 1997, assumiu uma coluna com seu próprio nome: 'A Coluna do Boechat'.

Entre 1986 e 1988, escreveu para O Estado de S. Paulo e, durante alguns meses, em 1987, foi Secretário Extraordinário de Comunicação Social do governo Moreira Franco, no Rio de Janeiro. De 1976 a 1979, havia sido assessor de imprensa de Moreira Franco na prefeitura de Niterói e coordenador da campanha dele para o governo do estado em 1982, quando o candidato foi derrotado por Leonel Brizola. De 1996 até o ano 2001 foi comentarista no 'Bom dia Brasil'.

Ricardo Boechat na redação do 'Bom Dia Brasil' — Foto: Acervo/Globo

Reconhecido como comunicador altamente adaptável, passou a comandar um programa de rádio na BandNews FM, em 2005, o que lhe deu enorme popularidade e garantiu um público fiel. No ano seguinte, tornou-se o âncora do 'Jornal da Band', principal telejornal da emissora.

Como jornalista, Ricardo Boechat representava um dos extremos do colunismo social, que se dividia entre a investigação e o glamour. Avesso à badalação, dedicou-se a buscar “furos” de reportagem, traduzidos em notas frequentemente bem-humoradas em sua coluna. Uma das estratégias que adotava para conseguir tais furos era fugir dos temas óbvios, optando por buscar fontes e assuntos inusitados. Tinha ainda como regra evitar assessores governamentais, políticos consagrados e ministros de Estado, que forneciam informações previsíveis. Para ele, o papel do “novo” colunista social seria divulgar para os leitores um flagrante, permitindo que ele tirasse suas próprias conclusões.

Ricardo Boechat negava que a mudança sofrida pelo colunismo social fosse um mérito seu. O jornalista dizia que foram as colunas as primeiras a sintetizar os interesses do Itamaraty. Esta teria sido uma via para se chegar às notícias políticas. O repórter identificava, já na época de Álvaro Américo, criador da 'Coluna do Swann', a presença de outros assuntos que não os exclusivamente voltados para a badalação social.

Os esforços jornalísticos foram recompensados com três prêmios Esso. O primeiro deles pela reportagem feita para O Estado de S. Paulo sobre a subsidiária da Petrobras que fazia aplicações em programas de baixa rentabilidade. O segundo por uma reportagem para O Globo sobre a concorrência fraudulenta aberta pelo Exército para a compra de uniformes. O terceiro, também pelo Globo, teve como título 'Sinal verde para o contrabando', em 2001.

Além do jornalismo diário, Boechat também atuava como professor universitário desde 1994. Lançou, em 1999, o livro o 'Copacabana Palace – Um Hotel e Sua História', que recuperava a memória do famoso hotel carioca.

EXCLUSIVO MEMÓRIA GLOBO

Em depoimento ao Memória Globo em 09/08/2000, o jornalista Ricardo Boechat fala sobre sua origem.

Em depoimento ao Memória Globo em 09/08/2000, o jornalista Ricardo Boechat fala sobre sua origem.

Em depoimento ao Memória Globo em 09/08/2000, o jornalista Ricardo Boechat fala sobre a importância da família em sua vida.

Em depoimento ao Memória Globo em 09/08/2000, o jornalista Ricardo Boechat fala sobre a importância da família em sua vida.

Em depoimento ao Memória Globo em 09/08/2000, o jornalista Ricardo Boechat fala sobre sua relação com o colega Ibrahim Sued, também conhecido como “Turco”.

Em depoimento ao Memória Globo em 09/08/2000, o jornalista Ricardo Boechat fala sobre sua relação com o colega Ibrahim Sued, também conhecido como “Turco”.

Em depoimento ao Memória Globo em 09/08/2000, o jornalista Ricardo Boechat fala sobre seu trabalho para a coluna do Ibrahim Sued, no O Globo.

Em depoimento ao Memória Globo em 09/08/2000, o jornalista Ricardo Boechat fala sobre seu trabalho para a coluna do Ibrahim Sued, no O Globo.

Em depoimento ao Memória Globo em 09/08/2000, o jornalista Ricardo Boechat fala sobre seu trabalho na Coluna do Swann, no jornal O Globo.

Em depoimento ao Memória Globo em 09/08/2000, o jornalista Ricardo Boechat fala sobre seu trabalho na Coluna do Swann, no jornal O Globo.

Em depoimento ao Memória Globo em 09/08/2000, o jornalista Ricardo Boechat fala sobre sua parceria com o colega Zózimo Barroso do Amaral.

Em depoimento ao Memória Globo em 09/08/2000, o jornalista Ricardo Boechat fala sobre sua parceria com o colega Zózimo Barroso do Amaral.

Em depoimento ao Memória Globo em 09/08/2000, o jornalista Ricardo Boechat fala sobre as fontes jornalísticas de informação.

Em depoimento ao Memória Globo em 09/08/2000, o jornalista Ricardo Boechat fala sobre as fontes jornalísticas de informação.

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O jornalista morreu no dia 11 de fevereiro de 2019, aos 66 anos, em um acidente de helicóptero, em São Paulo.

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