Por Memória Globo

George Maragaia|Arte/Memória Globo

“Os melhores anos da minha vida profissional.” Assim Pedro Bial descreve o período em que trabalhou como correspondente da Globo em Londres. Durante oito anos – de 1988 a 1996 – suas reportagens trouxeram um olhar brasileiro e sensível sobre alguns dos principais acontecimentos do final do século XX. Entre outros, acompanhou o movimento que levou à reunificação da Alemanha, em 1990 – cobertura que teve um significado especial para o repórter, filho de pai e mãe alemães que vieram para o Brasil depois da ascensão de Hitler. “Concluiu uma história pessoal, deu sentido à minha vida e à vida da minha família”. Bial apresentou o Big Brother Brasil durante 16 edições e criou seu próprio programa, Na Moral, exibido entre 2012 e 2014. Desde maio de 2017 comanda o Conversa com Bial.

Não vejo mais nobreza em ser correspondente de guerra do que na apresentação de um show ligeiro. Ou no trabalho do neurocirurgião se comparado com o do sapateiro. Se for bem feito, é nobre. Encarei tudo na vida como missão profissional.

EXCLUSIVO MEMÓRIA GLOBO

Em depoimento exclusivo, Pedro Bial fala sobre as entrevistas que realizou para o Jornal Hoje na década de 1980.

Em depoimento exclusivo, Pedro Bial fala sobre as entrevistas que realizou para o Jornal Hoje na década de 1980.

Início da carreira

Filho do publicitário e diretor de teatro Pedro Hans Israel Bial e da psicanalista e assistente social Suzane Bial, Pedro Bial é o caçula de três irmãos. Aos 14 anos, após a morte do pai, passou um ano estudando nos Estados Unidos e, de volta ao Brasil, formou-se em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), em 1980. Durante o tempo em que esteve na universidade, fez alguns curtas-metragens e documentários, o que despertou seu interesse pelo jornalismo televisivo.

Bial começou a trabalhar na Globo em 1981, por meio de um curso de formação em telejornalismo. Depois de passar dois meses como editor na TV Aratu, afiliada da Globo na Bahia, voltou ao Rio para editar matérias do Jornal Hoje e do Jornal das Sete. Paralelamente, a partir de 1983, substituiu a apresentadora Leda Nagle nas entrevistas especiais que o Hoje realizava aos sábados. Entre 1984 e 1988, trabalhou como repórter exclusivo do Globo Repórter.

Comecei como editor antes de ser repórter. A minha escola foi a ilha de edição. Eu via o que os repórteres traziam, então sabia o que precisaria trazer quando viesse da rua. É muito bom aprender com os erros dos outros.

Correspondente internacional

Em agosto de 1988, assumiu o posto de correspondente internacional em Londres. Na ocasião, trabalhou ao lado de Paulo Francis. “Nós saímos para viajar e fazer matérias sobre a lenta transformação do socialismo real, as mudanças no Leste Europeu”, lembra. Durante os oito anos em que trabalhou no escritório da Globo na capital inglesa, cobriu acontecimentos importantes como a reunificação da Alemanha (1990), as guerras do Golfo (1991), da Bósnia (1992) e o fim da União Soviética (1991).

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Webdoc sobre a Queda do Muro de Berlim (1989), com depoimentos exclusivos.

Webdoc sobre a Queda do Muro de Berlim (1989), com depoimentos exclusivos.

Webdoc sobre o Fim da URSS (1991), com depoimentos exclusivos.

Webdoc sobre o Fim da URSS (1991), com depoimentos exclusivos.

Webdoc sobre a Guerra da Iugoslávia (1991), com depoimentos exclusivos.

Webdoc sobre a Guerra da Iugoslávia (1991), com depoimentos exclusivos.

Em 1989, entrevistou na Polônia o líder do Sindicato Solidariedade, Lech Walesa. A entrevista, exibida com destaque no Jornal Nacional e obtida após muita insistência da produtora Bel Bicalho, teve como plateia cerca de cinco mil pessoas. “Todo domingo havia uma missa em Gdansk e, depois, um comício atrás da igreja. No meio do comício, Walesa contou que havia uma equipe da televisão brasileira querendo entrevistá-lo e disse: ‘Eu vou dar a entrevista, mas aqui e agora, na frente de vocês'”. Pedro Bial e o repórter cinematográfico Sergio Gilz subiram no palanque e fizeram a entrevista, com o comício reagindo às respostas.

Dezesseis anos depois, na companhia do cinegrafista Guilherme Azevedo, Bial voltaria a Gdansk para entrevistar o Lech Walesa, então ex-presidente polonês, para a série de reportagens exibidas pelo Jornal Nacional em comemoração pelos 40 anos da Globo. Não era a primeira vez que Pedro Bial tomava parte nas celebrações pelo aniversário da emissora. Em 1995, ele foi responsável pela coordenação e apresentação do especial Contagem Regressiva. Lançado como parte das comemorações pelos 30 anos da Globo, o programa foi dividido em 12 episódios e contou a história do Brasil e do mundo nos 30 anos anteriores, abordando diversos temas. Naquele ano, Bial apresentou também um especial em cinco episódios sobre os Beatles e o Retrospectiva 95.

Em 1994, perdeu parte da audição durante os vinte dias em que passou em Sarajevo, cobrindo a guerra da Bósnia. “Estávamos gravando uma entrevista, eu estava no contrapla­no, o cara estava falando, e caiu a bomba. O cinegrafista estava focado em mim bem nessa hora. E ali eu perdi os graves e os agudos do ouvido direito e fiquei, por assim dizer, meio surdo”, recorda o jornalista no livro Correspondentes.

Futebol, literatura e Fantástico

Como parte da reformulação pela qual passou o jornalismo da Globo após a entrada de Evandro Carlos de Andrade na direção da CGJ, em 1996, Pedro Bial foi convidado a voltar ao Brasil e apresentar o Fantástico, ao lado de Fátima Bernardes.

Outro marco na carreira do jornalista foi a participação dele na cobertura de diversas Copas do Mundo, a partir de 1994, nos Estados Unidos. Na Copa da França, em 1998, e da Coreia e do Japão, em 2002, ancorou o Fantástico direto dos países-sede. Nessas coberturas, Bial também escreveu crônicas ilustradas por imagens dos jogos da seleção brasileira, exibidas no Jornal Nacional ou no Fantástico. Ele ainda cobriu os Jogos Olímpicos de Barcelona, em 1992, e de Atlanta, em 1996.

Em dezembro de 2000, o jornalista apresentou os episódios da primeira temporada do Brava Gente. O programa, do núcleo de produção do diretor Guel Arraes, exibia adaptações de obras da literatura e do teatro. Durante oito anos, Pedro Bial comandou Espaço Aberto Literatura, na GloboNews, entrevistando escritores e poetas como Nélida Piñon, Ariano Suassuna, Jorge Amado, Zélia Gattai, Mário Vargas Llosa e Adélia Prado.

Big Brother Brasil

O jornalista estreou como apresentador do Big Brother Brasil em janeiro de 2002. Fã do reality show, ele destaca o que, em sua opinião, é a marca do programa: “O que é bom é esse exemplo de tratar as pessoas respeitosamente, de tirar um sarro, de fazer uma brincadeira sem esculhambar”.

Bial ficou à frente do programa até 2016. A partir de 2017, o Big Brother Brasil passou a ser apresentado por Tiago Leifert. Em 2014, lançou o livro Mensagem aos Brothers, com os discursos proferidos ao longo das edições do programa.

Minha vida virou um pouco antes e depois do Big Brother. Eu já tinha uma popularidade por trabalhar na televisão. Mas depois que desci desse pedestal do jornalista, as pessoas perderam a cerimônia comigo.
Big Brother Brasil 14: Poema de Pedro Bial

Big Brother Brasil 14: Poema de Pedro Bial

Sempre jornalista

Sem deixar de lado a carreira no jornalismo, em 2003 fez com Glória Maria uma entrevista exclusiva com o então presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. Exibida no Fantástico com o nome Intimidade com o Poder, a entrevista aconteceu logo no início do primeiro mandato de Lula e captou o clima de euforia dos brasileiros com a chegada de um ex-operário à Presidência. Voltou a entrevistar Lula em janeiro de 2006, quando o governo se via envolvido no chamado escândalo do mensalão. Em abril de 2005, viajou para a Polônia, como enviado especial do Jornal Nacional, durante a cobertura da morte do Papa João Paulo II.

Mensalão (2006)

Mensalão (2006)

Em 2004, Pedro Bial lançou o livro Roberto Marinho, com o perfil biográfico do jornalista e empresário fundador da Globo. O trabalho contou com o apoio e a pesquisa do Memória Globo.

Caravana JN

Entre julho e outubro de 2006, Pedro Bial foi o âncora da Caravana JN. O projeto fazia parte da cobertura das eleições de 2006. A bordo de um ônibus trailler, o jornalista e uma equipe de 15 pessoas visitaram os 26 estados do país e a capital federal. A cada duas semanas, sempre às segundas-feiras, ganhava a companhia de William Bonner ou de Fátima Bernardes em uma das cidades visitadas. Durante a viagem da Caravana, fez a série Desejos do Brasil, sobre os anseios e esperanças do povo brasileiro, que foi exibida no Jornal Nacional. “Foi extraordinário como experiência profissional e pessoal,” lembra.

Em setembro e outubro de 2007, apresentou, com o jornalista e escritor Eduardo Bueno, o quadro É Muita História, no Fantástico, revisitando com um olhar original e bem-humorado episódios famosos da historiografia oficial. A série foi dirigida por Bial e João Carrascosa. No ano seguinte, Bial foi enviado para os Estados Unidos para reforçar o time de correspondentes na cobertura das eleições norte-americanas. O jornalista acompanhou a vitória do presidente Barack Obama.

Jornal Nacional: Caravana JN (Brasília)

Jornal Nacional: Caravana JN (Brasília)

À frente do próprio programa

Em julho de 2012, lançou seu próprio programa, Na Moral, que abordava grandes questões e temas contemporâneos, retratados por meio de diferentes formatos e pontos de vista. A última temporada de Na Moral foi ao ar em 2014.

Desde maio de 2017, Pedro Bial passou a comandar o programa de entrevistas Conversa com Bial, que vai ao ar na madrugada na Globo. À frente do programa, Bial recebeu pessoas tão distintas quando Rita Lee, Fernanda Torres e Caetano Veloso, o então vice-presidente da República Hamilton Mourão e o então presidente da Câmara dos Deputados Rodrigo Maia. Em dezembro de 2018, o programa foi responsável por expor acusações de assédio sexual contra o médium João de Deus. Após meses de investigação jornalística, o programa exibiu relatos de mulheres que afirmavam terem sido vítimas do líder espiritual. As consequências dos relatos foram imediatas – após o programa ir ao ar, dezenas de mulheres apresentaram outras denúncias contra o médium, que acabou sendo preso pela polícia.

Pedro Bial foi roteirista, produtor e diretor do documentário "Os Nomes do Rosa", de 1997, e do longa-metragem "Outras Estórias", de 1998. É autor de cinco livros, dentre os quais" Crônicas de Repórter" (1996), em que relata experiências vividas como correspondente internacional. Também é poeta e, em 1984, fundou o grupo Os Camaleões, com Claufe Rodrigues e Luiz Petry.

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